As redes sociais viraram febre na internet. É impossível não conhecer alguém que tenha um perfil no Facebook, Orkut, MySpace ou derivados, ou que conte diariamente ‘o que está fazendo’ no microblog Twitter. Os internautas passaram a expor seus interesses, suas vidas, suas fotos de família. Dependendo de quem é você, tudo bem. As redes ajudam na comunicação entre amigos, possibilitam a criação de novos contatos e permitem conhecidos que estão fisicamente longe a ver o que se passa na vida de pessoas queridas.
O problema é quando se perde o limite entre a simples exposição da intimidade no mundo virtual e o exagero que pode prejudicar a vida real. Aconteceu na semana passada com um diplomata e espião britânico. Sir John Sawers, atualmente embaixador do Reino Unido na ONU e que futuramente deve assumir a chefia do MI6, serviço secreto britânico, teve suas fotos em férias com a família – de sunga, jogando frisbee na praia, usando um gorro de Papai Noel – publicadas inicialmente no Faceboook espalhadas pela internet e reproduzidas pela imprensa.
As imagens e outras informações estavam no perfil da mulher de Sir John, Shelley, que foi cuidadosamente modificado – escondendo as fotografias do público em geral – depois que o tablóide Mail on Sunday publicou as informações disponíveis online.
Tarde demais
Ainda assim, as fotos viraram assunto principal nas rodas jornalísticas e diplomáticas. O Mail on Sunday ressaltou a importância da história com a justificativa de que representava uma grave quebra de segurança nacional e expunha as falhas dos aparatos do Estado, possivelmente comprometendo a segurança da família Sawer e sendo uma potencial ferramenta para terroristas.
O jornal afirma que a página no Facebook revelava ‘a localização do flat usado pelo casal em Londres e detalhes pessoais sobre seus três filhos e sobre os pais de Sir John’. A maioria dos detalhes estava em legendas de fotografias – 19 imagens mostravam o casal em férias com amigos e 22 traziam cenas da festa de aniversário de 80 anos da mãe do diplomata, entre outras.
O MI6 foi, por décadas, cercado de mistério e especulações – o governo não falava sobre o assunto, e mal admitia que a agência existia. Hoje, a situação mudou. A indicação de Sir John, por exemplo, foi anunciada com uma declaração oficial de Downing Street, no mês passado. A agência – que na ficção emprega o famoso agente James Bond – tem hoje seu próprio sítio na internet. Ainda assim, a exposição de um de seus membros em uma rede social parece demais. ‘Grande parte dos impostos pagos pelos cidadãos foram gastos nas últimas décadas para garantir que [o chefe do MI6 e sua família] sejam protegidos. Bom, isso não parece tão relevante agora, não é?’, afirma o político conservador Patrick Mercer, presidente do subcomitê de contraterrorismo do Parlamento.
Pouco caso
Já o parlamentar Ken Clarke, também conservador, acredita que as informações divulgadas na rede social não têm tanta relevância. ‘No passado, nós mantinhamos o nome [do diretor da MI6] em segredo, todas as fotografias eram proibidas – e eu nunca acreditei que os russos não soubessem quem ele era’, diz. ‘Eu suspeito que os inimigos deste país não se baseiem no Mail on Sunday e no Facebook para obter informações’.
O secretário das Relações Exteriores britânico, David Miliband, também fez pouco caso do problema durante uma entrevista televisiva. ‘Não é segredo de Estado que ele usa um sunga da Speedo’, brincou Miliband. ‘O fato de que há uma foto do chefe do MI6 indo nadar é muito excitante’.
Sir John, de 53 anos, já atuou como diretor político do Ministério das Relações Exteriores, foi embaixador no Egito e conselheiro do então primeiro-ministro Tony Blair. Ele deve assumir a agência de inteligência em novembro, no lugar de Sir John Scarlett. ‘Ele é um profissional exemplar que fará um ótimo trabalho em uma organização também exemplar que tem um grande papel neste país’, completa Miliband. Informações de Sarah Lyall [New York Times, 6/7/09].