Até o dia 21/4, Russ Kick tinha de conviver com a rejeição. Em 22/4, o quadro mudou. Kick é dono do Memory Hole (www.memoryhole.com), sítio que combate os segredos de Estado e que expôs centenas de fotos dos caixões de militares retornando do Iraque aos EUA. Ele já estava acostumado com as negativas do governo americano a seus 200 pedidos de liberdade de informação ao longo dos anos. Quando finalmente ganhou uma apelação, foi das grandes, gerando cobertura massiva da mídia e o uso das fotos dos caixões na base aérea de Dover, envoltos em bandeiras americanas, nas capas dos principais jornais do país.
Na noite do mesmo dia em que recebeu a autorização para mostrá-las, Kick dispôs as 361 imagens em seu sítio e foi dormir. No dia seguinte, 22/4, acordou com uma explosão de telefones tocando. O tráfego pesado acabou bloqueando o acesso a seu sítio, que, segundo ele, recebeu 4,2 milhões de hits no dia 23/4 e quase 5 milhões no dia 24.
Kick também foi convidado para uma série de entrevistas. ‘A CBS ligou pedindo para enviar uma câmera para me entrevistar no programa de Dan Rather. Quando a equipe de filmagem estava se preparando, a ABC ligou dizendo: ‘queremos que você voe até Nova York para o Good Morning America amanhã de manhã, então terá de partir daqui a algumas horas’. Enquanto isso, mais ligações chegavam’, conta a mais nova personalidade disputada pela mídia americana.
Pentágono e NASA
Segundo Lynn Smith [Los Angeles Times, 26/4/04], enquanto Kick se acostuma a ser chamado de herói por estranhos, o Pentágono não gostou muito da história, dizendo que a autorização para mostrar as imagens havia sido um erro e reafirmando a proibição de divulgação de fotos desse gênero na mídia por violarem a privacidade de familiares. Então foi a vez da NASA reclamar, dizendo que várias das imagens eram, na verdade, das vítimas a bordo da nave espacial Colúmbia, e não da guerra no Iraque.
O erro pôs Kick em meio a um dos problemas mais cabeludos da nova mídia: o potencial de espalhar, de maneira epidêmica, informações equivocadas. Quando tentava receber autorização para divulgar as fotos, Kick trocou e-mails com a Força Aérea americana pedindo as imagens. Na carta de apresentação, a Força Aérea não disse nada sobre os astronautas ou de onde vinham os caixões, disse Kick. ‘Não havia contexto. Quando chegou o CD, fiquei tão feliz e surpreso que nem pensei que as primeiras 73 imagens eram, na verdade, do enterro dos astronautas’.
Vários veículos publicaram ou transmitiram correções ou esclarecimentos. O próprio Kick atualizou seu sítio com as novas informações.