‘Sidney Pike, ex-presidente da CNN Internacional e braço direito por 25 anos de Ted Turner, criador da rede de notícias, está no Brasil até amanhã para falar do lançamento de seu livro nos Estados Unidos, We Changed The World (Nós Mudamos o Mundo, sem previsão de chegar ao Brasil), o primeiro livro sobre a história da CNN escrito por alguém de dentro da empresa.
Aposentado desde 1996, mas ainda com o cargo de presidente de Projetos da CNN Internacional, Pike contou detalhes do nascimento da emissora e a relação com o Brasil. Sidney veio ao País a convite do jornalista Álvaro Moya, que está lançando o livro Gloria in Excelsior, sobre a história da extinta TV Excelsior.
Antes de fundar a CNN com Ted Turner, Sidney Pike trabalhou na WHDH-TV de Boston. Disse que uma de suas melhores entrevistas foi com o então presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek. ‘Ted Turner e Juscelino foram os maiores visionários que eu já conheci’, conta.
Sua relação com Turner começou quando este comprou uma emissora UHF na Carolina do Norte. ‘Ninguém assistia ao canal. Ted, então, foi ao ar e pediu doações para que pudesse comprar um pacote de filmes. Coletamos US$ 26 mil e, em 1979, ele vendeu a tevê por R$ 21 milhões, dinheiro que o fez fundar a CNN’, relata Sidney.
Turner planejava uma emissora voltada 24 horas para a notícia. ‘Todos, incluindo eu, achamos que ele estava louco.’ Para que o plano desse certo, Pike viajou o mundo para tentar quebrar o monopólio da Intelsat, uma rede de empresas que controlava o uso de sinais a cabo no mundo. No Brasil, ela era representada pela Embratel. ‘A TV Manchete e a Bandeirantes queriam a CNN no Brasil. A Globo não se animou tanto.’ Pike diz que o então presidente da TV Cultura, Roberto Muylaert, que tinha o suporte do governo, conseguiu quebrar o monopólio da Intelsat e ajudar na implantação da CNN no Brasil. ‘A iniciativa da emissora pública brasileira abriu portas em outros países do mundo para nós ‘, revela Pike.
O ex-presidente da CNN não sabe os motivos que empacaram o projeto de uma CNN em português. Ele contou também que o presidente George W. Bush pediu à rede que desse menos voz ao ‘inimigo’ na Guerra do Iraque de 2003. ‘Mas a CNN não aceitou a ‘idéia’, defende.
Questionado sobre a hipótese da rede árabe Al Jazeera se tornar uma espécie de CNN do Oriente Médio, Sidney foi direto. ‘A população de lá assiste àquilo que lhe agrada, mesmo que não seja verdade.’’
USA TODAY
Jacques Steinberg‘Editora-chefe do ‘USA Today’ pede demissão’, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 22/04/04
‘Karen Jurgensen, editora-chefe do jornal americano USA Today desde 1999, demitiu-se repentinamente na tarde de terça-feira, citando seu fracasso na identificação do que pareciam ser falsificações em artigos de Jack Kelley, estrela entre os correspondentes estrangeiros do jornal.
A demissão foi anunciada numa curta mensagem de e-mail enviada por Craig Moon, publisher do jornal, aos funcionários do USA Today.
Jurgensen, de 55 anos, demitiu-se uma semana após Moon ter recebido um relatório, na época ainda confidencial, de três jornalistas de fora do jornal, encarregados de investigar como as fraudes de Kelley teriam ocorrido sem ser verificadas e sugerir a forma de o jornal se retratar. O USA Today é o maior jornal dos EUA, com circulação de mais de 2 milhões de exemplares.
Na mensagem à equipe do jornal, Moon elogiou Jurgensen por ter aprimorado ‘tanto a apresentação quanto o conteúdo do jornal’ e caracterizou sua saída como uma ‘aposentadoria’. Enquanto procuram por um novo editor, Moon disse que o jornal – principal veículo da rede Gannett – seria dirigido por Brian Gallagher, editor-executivo desde 2001 e segundo no comando após Jurgensen.
A saída de Jurgensen, que anteriormente havia trabalhado como editora das páginas editoriais, foi a primeira instância em que um alto editor no jornal reconheceu publicamente a responsabilidade pela fraude de Kelley. Em um artigo de primeira página no mês passado, o jornal relatou que Kelley, que havia se demitido sob pressão em janeiro, teria aparentemente falsificado partes substanciais de, no mínimo, oito grandes artigos nos últimos dez anos, inclusive um que o tornou finalista para um Prêmio Pulitzer.
O jornal disse que Kelley se envolveu em várias fraudes ao redor do globo.
Entre as suas invenções estão relatos de seu encontro com um homem-bomba em Jerusalém, sua participação em uma caçada de alta velocidade a Osama bin Laden em 2003 e o testemunho da partida de seis ‘balseros’ de Cuba que mais tarde teriam se afogado.
‘Como todos nós que trabalhamos com Jack Kelley, gostaria de tê-lo descoberto antes’, disse Jurgensen, funcionária do USA Today desde sua criação, em 1982, numa mensagem colada sob a de Moon. ‘A triste lição que todos aprendemos desta situação amedrontadora fará do USA Today um jornal melhor e mais forte.’
Folha de S. Paulo
‘Cai o editor número 2 do ‘USA Today’’, copyright Folha de S. Paulo, 23/04/04
‘Brian Gallagher, editor-executivo do ‘USA Today’, o jornal americano de maior circulação, pediu demissão ontem devido ao escândalo provocado pela revelação de que Jack Kelley, um dos principais repórteres do jornal, havia inventado informações em muitos de seus textos. Na terça-feira, a editora-chefe, Karen Jurgensen, já havia pedido seu desligamento. Ontem, o jornal publicou texto em que diz que as fraudes ocorreram devido à falta de comando na Redação, a um sistema que privilegiava os jornalistas mais famosos e a um clima de medo reinante no ambiente de trabalho.’
O Globo
‘Relatório culpa ‘USA Today’ por fraudes de repórter’, copyright O Globo, 23/04/04
‘Em mais um episódio que mancha a credibilidade da imprensa americana, o jornal ‘USA Today’ publicou ontem um relatório em que faz um mea-culpa sobre o trabalho do repórter Jack Kelley, acusado de inventar notícias e fontes, plagiar concorrentes e distorcer histórias para dar-lhes maior impacto. Kelley, de 43 anos (21 dos quais no jornal), demitiu-se em janeiro e ontem desculpou-se num e-mail ao ‘USA Today’ por suas faltas, que levaram à demissão da diretora do diário, Karen Jurgensen. Outras mudanças estruturais e de pessoal já foram anunciadas.
O jornal de maior circulação no país começou a investigar o veterano correspondente seguindo uma denúncia anônima ano passado, após escândalo semelhante no ‘New York Times’ com o repórter Jayson Blair. No relatório da investigação, a cargo de três editores de fora do jornal, o ‘USA Today’ admite que a culpa não foi só de Kelley, mas da estrutura da empresa, que possibilitou ao repórter agir desonestamente sem ser detectado. ‘A edição e a chefia de redação descuidadas, a falta de comunicação entre os funcionários, um sistema que promove o estrelato, o clima de medo nos escritórios e as normas incoerentes sobre o uso de fontes de informação anônimas contribuíram para que Kelley inventasse e plagiasse histórias por mais de uma década’, critica o relatório de 28 páginas.
O painel de investigações concluiu que o jornal foi negligente ao desdenhar das primeiras suspeitas sobre o trabalho de seu repórter-estrela, finalista do Prêmio Pulitzer, o de maior prestígio no jornalismo americano. Segundo o relatório, reclamações de colegas e de funcionários do governo sobre Kelley deveriam ter originado uma investigação anos atrás.
Investigação debruçou-se sobre 1.400 reportagens
Ao todo a equipe de três editores e cinco repórteres analisou mais de 1.400 reportagens de Kelley publicadas nos últimos 12 anos, período em que ele passou a cobrir mais assuntos no exterior. Segundo a equipe, ele inventou partes de pelo menos 20 reportagens, copiou mais de cem passagens de outras publicações, realçou suas histórias para que parecessem exclusivas e apoiadas em fontes dos serviços de inteligência e cobrou milhares de dólares em despesas de viagens e traduções não realizadas.
– A credibilidade jornalística continua sendo um tema de preocupação para cada editor e repórter – avalia John Seigenthaler, um dos três editores responsáveis pela investigação, que durou dez semanas.
Em sua mensagem, Kelley pediu perdão pelos erros e disse estar refletindo para entender por que violou os princípios que afirma serem sagrados para ele como pessoa e jornalista. ‘Reconheço que não posso reparar o dano que causei à minha família, aos meus amigos, aos meus colegas, e tampouco posso consertar a situação com os leitores que dependem de um bom jornalismo para entender um mundo caótico e confuso’, disse ele.
Para o dono do jornal, Craig Moon, o episódio foi uma série de dolorosas lições que o ‘USA Today’ se esforçará para evitar no futuro.’
ASSOCIATED PRESS
‘Tecnologias fazem ‘Associated Press’ modificar serviço’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/04/04
‘A Associated Press reorganizará seu estilo informativo, sua tecnologia e estratégias de negócio para encarar os desafios do século 21.
‘A informação flui 24 horas por dia na televisão, internet e computadores de mão. Os novos meios de comunicação não completam os antigos e sim representam forças próprias’, disse o presidente e diretor-geral da AP,Tom Curley, aos executivos da imprensa na reunião anual da entidade.
A AP é maior agência de informação do mundo e reúne empresas de comunicação americanas. Seus serviços são enviados a cerca de 15 mil clientes em mais de 120 países, informando diariamente 1 bilhão de pessoas.
Segundo Curley, para encarar os novos tempos, a AP tem realizado ‘uma revisão estratégica mais profunda e mais completa de seus negócios’. O resultado é a definição de compromissos com três prioridades: melhorar a capacidade jornalística da AP, oferecendo materiais em formatos mais flexíveis, melhorar a tecnologia para reconhecer e disseminar a informação e desenvolver serviços e estratégias empresariais para manter a associação como uma entidade sem fins lucrativos.
Na área tecnológica, a AP está construindo um sistema de envio de notícias incluindo texto e imagens ao mesmo tempo ou pacotes multimídia. Mais de 550 jornais usam o material produzido pela AP em suas páginas de internet.
‘Muitas de nossas iniciativas estão dirigidas a produzir mais notícias exclusivas, mais jornalismo de investigação e mais reportagens’, completou o diretor.
Para manter equilibradas as finanças da entidade, a AP entrará na Justiça contra os chamados piratas da informação, que violam os direitos dos autores das reportagens, publicando textos sem pagarem por isso. (AP)’