Ted Turner, fundador da rede de televisão americana CNN – primeiro canal de notícias 24 horas que revolucionou a mídia na década de 80 e foi posteriormente adquirido pelo grupo Time Warner – , anunciou que não pretende se candidatar à reeleição para o conselho de diretores do grupo no encontro anual de acionistas, em maio, como informa Steven Levingston [Washington Post, 25/2/06]. Em 2001, após a fusão da Time Warner com a AOL, Turner não ficou satisfeito ao perder grande parte de seu poder no grupo. Antes da fusão, ele era o maior acionista da Time Warner, mas depois de a empresa ter tido um prejuízo de US$ 98,2 bilhões em 2003 – o que lhe custou uma perda de US$ 7 a 8 bilhões –, o empresário vendeu mais da metade de suas ações.
O anúncio da saída de Turner ocorreu depois que a Time Warner fez um acordo com o acionista Carl C. Icahn, que decidiu dar uma trégua na campanha que liderava para dividir o grupo em quatro partes e assumir o controle da diretoria. ‘Pode ser que Turner tenha visto que, com o fracasso de Icahn, o valor das ações não ia mudar por enquanto’, opinou o executivo-chefe da CNN, Reese Schonfeld. Depois do anúncio de Turner, o presidente e executivo-chefe da Time Warner, Richard D. Parsons, afirmou em declaração que o empresário é um visionário que fez contribuições extraordinárias ao grupo e ao mundo.
Futuro incerto
Sempre imprevisível, muito se é especulado sobre o futuro de Turner. Alguns, como Schonfeld, acreditam que ele reingressará na indústria de mídia. ‘Ele estava um pouco frustrado por não fazer nada. Isto [o desligamento da Time Warner] o libera para fazer muitas coisas. Uma delas pode ser voltar para a indústria’, afirma. Não é o que pensa, no entanto, Phillip Evans, porta-voz da Turner Enterprises. ‘A razão dele para não se reeleger é focar suas energias em alguns de seus interesses fora da Time Warner, e entre eles está a filantropia’, ressalta. Turner se mostrou interessado, ao longo dos anos, em colaborar com a promoção da paz mundial e das Nações Unidas. Em 1997, ele se comprometeu a doar US$ 1 bilhão para a organização. Em janeiro, a CNN cancelou um talk show sobre a ONU, no ar há 12 anos. Schonfeld acredita que Turner considerou a atitude provocativa. ‘Isso o fez sentir que sua posição na diretoria era fútil – ele não foi capaz de impedir o cancelamento’, opina.
Ontem e hoje
Analistas de mídia advertem, porém, que a indústria é muito mais difícil hoje do que era há 25 anos. Mark Fratik, analista da BIA Financial Network Inc., acredita que, se Turner quisesse começar uma nova empresa de mídia, o negócio seria repleto de riscos – mesmo para um empresário do porte dele. ‘Este tipo de indústria é tão dinâmica agora por ter muitas empresas investindo em diversos caminhos’, afirma Fratik.
Turner não é o único acionista a deixar a diretoria do grupo. Carla A. Hills, ex-representante comercial dos EUA, decidiu se aposentar. Em janeiro, Miles R. Gilburne, ex-diretor da America Online, optou por não se candidatar à reeleição. Os lugares vagos dão à Time Warner a oportunidade de apontar dois novos diretores independentes, como foi estabelecido no acordo com Icahn, que será consultado nas indicações. No final de março ou começo de abril, a Time Warner divulgará a lista de candidatos, como informou a porta-voz do grupo, Susan Duffy.