O golpe que apeou do poder, no domingo [28/6], o presidente Manuel Zelaya, de Honduras, deu início, ao que parece, a um período de censura dos meios de comunicação no país. Zelaya foi tirado da cama por militares e levado, ainda de pijamas, para o aeroporto de Tegucigalpa, onde foi colocado em um avião para a Costa Rica. Trata-se do primeiro golpe militar na América Central desde o fim da Guerra Fria. O Exército não explicou o ocorrido, mas a Suprema Corte declarou que os militares agiram em defesa da lei contras pessoas contrárias à Constituição.
O Congresso de Honduras, na tarde de domingo, realizou uma sessão de emergência e votou pela saída de Zelaya, substituindo-o no cargo pelo presidente do Congresso, Roberto Micheletti. Os congressistas afirmaram ter uma carta de Zelaya renunciando à presidência – da Costa Rica, ele disse nunca ter escrito tal documento.
Referendo
O distúrbio no país teve início por conta de um referendo, que ocorreria no fim de semana, em que o presidente esperava conseguir uma revisão da constituição do país. Críticos alegavam, entretanto, que se tratava de uma tentativa ilegal para derrubar a norma que limita o mandato presidencial a quatro anos sem reeleição. No início do mês, a Suprema Corte determinou que o referendo era inconstitucional, e nas últimas semanas manifestantes contrários e favoráveis ao presidente têm feito protestos nas ruas da capital.
Em entrevista ao canal venezuelano Telesur, Zelaya contou que foi acordado por tiros e carregado por militares mascarados para dentro de um carro. Tiraram seu celular e não informaram para onde o estavam levando. O presidente, de esquerda, é aliado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez – uma parcela da população teme que ele tente instalar no país, um dos mais pobres da América Latina, o populismo socialista de Chávez . ‘Eles estão criando um monstro que não conseguirão conter’, afirmou Zelaya. ‘Um governo roubado, que surge pela força, não pode ser aceito, não irá ser aceito por nenhum outro país’.
Já no domingo, os militares impuseram um toque de recolher às 9 horas da noite. Durante todo o dia, emissoras de rádio e televisão não transmitiram notícias. Um canal de TV do governo e outro que apóia o presidente foram tirados do ar. Apenas hondurenhos privilegiados com acesso à internet e TV a cabo puderam se informar sobre o golpe. A Organização dos Estados Americanos condenou a ação, assim como o governo dos EUA e o do Brasil. Informações de Elisabeth Malkin [The New York Times, 28/6/09].