Muitas pessoas, quando ficam doentes, tentam se informar no Google antes mesmo de ir ao médico. A companhia passou a notar que milhões de buscas geradas a partir dos EUA tinham como palavras-chave ‘sintomas da gripe’, e este padrão inspirou a criação de uma nova ferramenta que ajuda a rastrear o contágio da gripe no país. Testes do programa, batizado de Google Flu Trends, indicam que é possível detectar surtos regionais de gripe de uma semana a 10 dias antes dos casos serem reportados ao Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), agência federal americana que administra planos nacionais de prevenção e controle de doenças contagiosas.
No começo de fevereiro, por exemplo, o centro divulgou que casos de gripe haviam aumentado em determinados estados. Duas semanas antes deste relatório ter se tornado público, o Google já havia observado um aumento na procura por termos como ‘sintomas de gripe’ e ‘dores musculares’ nas mesmas localidades. O Google Flu Trends analisa as buscas, criando mapas que mostram por onde a gripe está se espalhando.
Os relatórios do CDC são mais lentos porque dependem de informações coletadas e reunidas de milhares de planos de saúde, laboratórios e outras fontes. Especialistas em saúde pública afirmam que as informações do Google podem ajudar a acelerar a resposta de médicos, hospitais e oficiais de saúde pública a uma epidemia de gripe, ao reduzir o contágio da doença. ‘Quanto mais cedo o alerta, mais cedo podem ser colocadas em prática a prevenção e medidas de controle, e isto pode evitar casos de gripe e, potencialmente, salvar vidas’, diz a médica Lyn Finelli, responsável pela divisão de vigilância à gripe no CDC. A cada ano, de 5% a 20% da população americana contrai gripe – com 36 mil óbitos por conta da doença.
O serviço cobre apenas os EUA, mas o Google espera, no futuro, vir a adaptá-lo para outros países. ‘Por uma perspectiva tecnológica, é apenas o começo’, afirma Eric E. Schmidt, executivo-chefe da companhia.
Opiniões divergentes
Médicos têm opiniões divergentes sobre a eficácia do Google Flu Trends. ‘Na teoria, podemos usar estas informações para aprender também sobre outros fluxos de doenças’, afirma Philip M. Polgreen, professor-assistente de medicina e epidemiologia da Universidade de Iowa e autor de um estudo baseado em informações semelhantes coletadas pelo Yahoo!.
Já o médico Farzad Mostashari, comissário-assistente do Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade de Nova York, alega que não há evidências concretas de que o serviço forneça relatórios mais cedo que os dados coletados em emergências de hospitais. Para ele, se o Google fornecer detalhes de como o sistema funciona, para que seja validado cientificamente, a ferramenta servirá como uma maneira adicional e gratuita de se detectar a gripe.
Pesquisa
Um artigo sobre a metodologia do Google Flu Trends deve ser publicado em breve na revista científica Nature. Como o serviço não utiliza informações de buscas individuais, acusações de invasão de privacidade não serão justificadas. Para desenvolver a ferramenta, engenheiros do Google mapearam uma série de termos e frases relacionadas à gripe, incluindo ‘termômetro’, ‘sintomas da gripe’, ‘dores musculares’ e ‘congestão nasal’, com informações coletadas nos últimos cinco anos.
Os resultados foram comparados aos do CDC, e foi encontrada uma correlação forte entre ambos. Larry Brilliant, diretor-executivo do Google.org, braço filantrópico do Google, afirma que os dados das duas fontes coincidem bastante. Ele alerta, no entanto, para a necessidade da informação ser monitorada a fim de garantir que a correlação continue válida. Informações de Miguel Helft [New York Times, 12/11/08].