Esta não é uma boa semana para a Tribune Company. Depois de entrar com pedido de falência, a companhia americana – dona de jornais, emissoras de TV e uma equipe de beisebol – foi envolvida em um inquérito contra o governador do estado de Illinois, Rod Blagojevich. O político, que chegou a ficar sob prisão domiciliar na terça-feira (9/12), era investigado por suspeita de corrupção. Descobriu-se, entre outras coisas, que ele tentava ‘vender’ a vaga que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, deixou no Senado. Entre os telefonemas rastreados na investigação, foram descobertas conversas em que Blagojevich e seu chefe de gabinete, John Harris, teriam ameaçado prejudicar a Tribune se os editorialistas do jornal Chicago Tribune – que criticaram o governador e pediram por seu impeachment – não fossem demitidos.
Os jornalistas não foram mandados embora, e os editoriais do jornal continuaram a confrontar Blagojevich. Diante da revelação das conversas telefônicas, editores do Chicago Tribune disseram estar surpresos e afirmaram não ter conhecimento de pressões vindas do gabinete do governador. ‘Nós não tínhamos idéia de que ele estava, supostamente, fazendo este tipo de pressão’, comentou R. Bruce Dold, responsável pela página de editoriais.
Venda interrompida
As acusações que envolvem a Tribune dizem respeito aos esforços da empresa para vender o time de beisebol Chicago Cubs e seu estádio, o Wrigley Field, o que a ajudaria a conseguir dinheiro para sobreviver a curto prazo. As negociações deveriam estar concretizadas ainda este ano, mas foram adiadas por diversas vezes. Executivos da companhia teriam entrado em contato com a agência estatal Illinois Finance Authority para ajudar a conseguir financiamento para a venda do estádio. Ligações divulgadas mostram que Blagojevich teria mandado Harris sugerir à Tribune que o governador não poderia levar a venda adiante se os jornalistas não fossem demitidos.
Em uma das conversas, Blagojevich afirma que ‘alguém devia dizer [à empresa]: ‘livre-se destas pessoas’’. Em outro trecho, o governador indica como o assunto do cancelamento da venda deve ser levado à Tribune – ‘Talvez não possamos fazer isso agora’, ele exemplifica, e, com linguagem ofensiva, diz que, se quer um acordo, a companhia deveria demitir os jornalistas que o criticaram em editoriais.
Negociação nula
Em ligação gravada dias depois, Harris diz a Blagojevich que conversou com um assessor do ‘Dono da Tribune’. O presidente e executivo-chefe da empresa é o magnata do setor imobiliário Sam Zell. Segundo Harris, o assessor garante que Zell recebeu a mensagem e que ‘haverá certas reorganizações corporativas e cortes de custos e, lendo nas entrelinhas, ele vai agir nesta seção [de editoriais]’. Desde então, foram feitos cortes em diversos diários da companhia, mas, segundo o Chicago Tribune, nenhum deles na seção de editoriais do jornal.
A Tribune divulgou um comunicado na terça-feira (9/12) afirmando que ‘ninguém que trabalha para a companhia, ou em nome da companhia, tentou influenciar decisões sobre a equipe do Chicago Tribune ou sobre qualquer aspecto do conteúdo editorial com base em conversas com membros do governo’. Informações de Richard Pérez-Peña [The New York Times, 10/12/08].