Após um grave desentendimento sobre uma reportagem durante a guerra no Iraque, o governo britânico está considerando a possibilidade de desmantelar a BBC e retirar seu status de emissora independente, afirma o jornal Sunday Times.
O jornal, conforme informações da AFP [14/2/04], teria tido acesso a documentos do governo que detalham possíveis mudanças na estrutura da BBC. Entre elas, estaria a divisão da rede em emissoras regionais, que atingiriam áreas separadas, como Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Outro tópico do documento seria o aumento do controle governamental sobre a programação da rede. A organização teria também que compartilhar sua receita pública com outras emissoras.
A BBC opera de maneira independente, mas é financiada pelo dinheiro da população, que paga uma taxa anual. Em 82 anos de existência, este parece ser seu pior confronto com o governo.
Deslizes e questionamentos na Europa
As emissoras públicas de rádio e TV européias sempre foram vistas como um modelo de administração e transparência a ser seguido. Mas alguns deslizes estão fazendo com que sua credibilidade comece a ser questionada.
Emissoras como a BBC e a France 2 envolveram-se em casos graves de erros de reportagem. Na Itália, o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi fez manobras para aumentar seu poder sobre a estatal RAI. No primeiro caso, preocupa a competição pelo furo, ou pela notícia mais interessante. Jornalistas e emissoras se atropelam e se precipitam para obter mais audiência e prestígio. No segundo, o que preocupa é a perda da independência e a imparcialidade da notícia ou de qualquer outra parte da programação.
Desta forma, telespectadores e concorrentes do setor privado reclamam da quantia que é investida em TV e rádio públicos na Europa – algo em torno de US$ 25,5 bilhões por ano, de acordo com reportagem da International Herald Tribune [16/2/04]. Principalmente quando este dinheiro sai diretamente do bolso da população, como é o caso da britânica BBC. Todos os que possuem aparelhos de TV em casa têm que pagar uma taxa anual de 112 libras e esperam, no mínimo, uma programação de qualidade. Mas a emissora, que sempre se orgulhou de sua independência, arrumou uma briga com o governo e corre o risco de perdê-la. Tudo por causa de uma reportagem feita e veiculada pela BBC, que afirmava que o primeiro-ministro Tony Blair havia incrementado relatórios que provavam que o Iraque possuía armas de destruição em massa.
Na Itália, a RAI é administrada por discípulos de Berlusconi. A interferência política na programação é tão óbvia que analistas citam inúmeros casos onde o premiê usou seu poder para impedir que reportagens ou programas que lhe criticassem ou a seu governo fossem ao ar.
Com tudo isso, o serviço de transmissão pública na Europa mostra suas fraquezas, e deve sofrer modificações em um futuro próximo. Reguladores de mídia já estão trabalhando na Inglaterra, e em breve o mesmo acontecerá na França e em outros países.