Em uma coletiva de imprensa surreal na semana passada, o governo líbio entregou uma carta aos jornalistas presentes. Tratava-se de uma cópia de um comunicado a Li Baodong, embaixador chinês das Nações Unidas e presidente do Conselho de Segurança. No terceiro parágrafo, uma surpresa. ‘Nenhuma restrição é imposta à mídia internacional. Correspondentes trabalham livremente na Líbia e todas as estruturas são fornecidas a eles. Eles têm liberdade de movimento, exceto em áreas controladas por terroristas da al-Qaeda’, dizia a mensagem.
As coletivas têm sido realizadas semanalmente e o conteúdo nunca corresponde à realidade. Apesar de promessas feitas pelo filho do ditador Muammar Gaddafi, Saif al-Islam, e pelo vice-ministro do Exterior, Khalid Khayem, jornalistas não podem trabalhar livremente em Trípoli.
Prisões
Nos últimos dias, correspondentes do Guardian foram detidos por duas vezes. Na primeira, ficaram seis horas e meia presos, foram vendados e levados para um local não revelado. Na segunda, um repórter foi detido por três horas com outros três jornalistas britânicos, entre 24 profissionais presos em Tripoli em um único dia. Jornalistas de outras nacionalidades – todos com permissão de trabalhar no país – foram submetidos a tratamentos severos: alguns foram detidos por uma noite, fisicamente agredidos e ameaçados. O jornalista brasileiro Andrei Netto, correspondente de O Estado de S. Paulo, ficou por oito dias nas mãos de tropas leais ao ditador e foi libertado nesta quinta-feira [10/3].
Em artigo publicado no Guardian [8/3/11], Peter Beaumont, editor internacional do Observer, afirma que está cada vez mais difícil trabalhar no país. ‘O que está acontecendo com os civis líbios está sendo censurado. E, de certa forma, com nossa presença sendo ineficiente, acabamos colaborando com esta censura’.