Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Governo infiltra aliados na internet

Se não pode vencê-los, junte-se a eles e manipule suas mentes. Diante da comunidade online que mais cresce no mundo, o governo da China inseriu ‘comentaristas’ em fóruns e sítios de internet em um esforço para controlar a opinião pública. Estes funcionários são pagos para rastrear a rede em busca de notícias negativas às autoridades e tentar desacreditá-las entre os internautas.


O Partido Comunista chinês tem noção do poder da internet. Em um país onde a mídia é controlada, a rede se torna o único espaço público onde é possível expressar opiniões livremente. Para tentar controlar também a internet, a China já conta com um sofisticado sistema que filtra e bloqueia sítios com conteúdo considerado impróprio.


Relações públicas


Infelizmente para os líderes chineses, o ciberespaço não é tão fácil assim de ser domado. Opiniões negativas, críticas e rumores podem ser espalhados rapidamente entre grupos de internautas, dificultando o trabalho dos censores. E é por esta razão que o governo resolveu ampliar sua atuação na rede: em vez de apenas tentar evitar que as pessoas se expressem, é preciso mudar a maneira como elas pensam.


‘Quase todos os setores do governo enfrentam críticas que fogem ao seu controle’, diz o professor de jornalismo Xiao Qiang, da Universidade da Califórnia em Berkeley. ‘Não há muito que eles possam fazer, além de organizar estes times para fazer relações públicas’.


O governo, pelo menos por enquanto, comemora os resultados do projeto. Em um documento do bureau de segurança da província de Hunan, é contada a história de um homem que postou um comentário negativo à polícia depois de ser punido por tráfico. Um dos comentaristas do governo foi rápido e, 10 minutos depois, reportou o post às autoridades. Logo, mais de 120 comentaristas começaram a escrever suas opiniões para moldar o debate. Menos de 20 minutos depois, relata o documento, a maior parte dos comentários apoiava a polícia, e muitos internautas começaram a criticar o homem que deu início à conversa.


A prática de inserir comentaristas na rede teve início há alguns anos, quando governos locais viram como era difícil controlar a opinião pública. Ao notar que, com a fiscalização feita pelo filtro de Pequim, era impossível barrar cada pequeno comentário sobre cada cidade, eles bolaram sua própria solução. Estes agentes do governo disfarçados de internautas se espalharam pelo país. Estima-se que haja, hoje, dezenas de milhares deles. Há ainda relatos de que foram montados centros especiais para treinamento destes profissionais. Informações de Michael Bristow [BBC News, 16/12/08].