Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Governo quer regulamentar rádio, TV e internet


Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 9 de novembro de 2010


REGULAÇÃO


Elvira Lobato e Andreza Matais


Governo quer regulamentar setor de rádio, TV e internet


O governo Lula quer incluir na agenda prioritária da administração Dilma Rousseff a discussão sobre nova regulamentação para os meios de comunicação eletrônica: rádio, TV e internet.


A proposta é recebida com receio pelo setor, que teme o cerceamento do conteúdo jornalístico.


Lula encomendou um anteprojeto de lei para mudar as regras para o setor, a ser entregue a Dilma, e inicia hoje um seminário sobre o assunto com dirigentes de agências reguladoras de vários países. As entidades representantes de jornais, revistas, rádios e TVs nacionais irão como convidadas.


A Argentina (que adotou medidas restritivas à liberdade de imprensa) enviou um palestrante, assim como União Europeia, Reino Unido, França, Portugal e Espanha e Unesco (ONU).


A FCC (órgão regulador norte-americano) não participa. Alegou não ter dinheiro para custear a viagem.


O evento custará cerca de R$ 300 mil ao Planalto.


Segundo o ministro Franklin Martins (Comunicação Social), que coordena o seminário e a elaboração do anteprojeto, a discussão sobre o marco regulatório das comunicações terá, no governo de Dilma, o mesmo peso da reforma do setor elétrico no início do governo Lula.


Ele afirma que proposta visa defender a radiodifusão, na competição com as teles, no ambiente de convergência tecnológica. ‘Se prevalece só o mercado, a radiodifusão será atropelada pela jamanta das teles’, diz.


Enquanto as teles faturaram R$ 144 bilhões em 2009, o faturamento somado das rádios e TVs foi de R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões.


Franklin negou que exista, no governo, interesse de cercear a mídia, e criticou o poder do Judiciário de censurar.


Disse ainda ser contra o controle social sobre a mídia -’A expressão pode ser interpretada como censura (…). A imprensa já é observada, criticada e fiscalizada pela internet, que, aliás, faz isso de forma selvagem, mas faz’.


Nos últimos 12 anos, houve três tentativas de criação de uma nova lei de comunicação eletrônica de massa, que morreram no nascedouro. Duas foram engavetadas pelo governo FHC e a terceira, pelo governo Lula. Uma quarta tentativa foi abortada, em 2005, antes mesmo de se formar o grupo de trabalho.


 


 


PRECONCEITO


Fernando de Barros e Silva


O ‘caso Mayara’


‘Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!’. A mensagem é muito repulsiva e precisava ser combatida. Sobre isso, não paira nenhuma dúvida. Há, porém, várias maneiras de condenar um ato.


Incomoda-me, de um lado, que a primeira reação seja a de ir à Justiça para punir a jovem. Não porque a tipificação do crime que se atribui à estudante Mayara Petruso seja tecnicamente complicada. Incomoda-me, antes, nossa inclinação quase automática para transformar um problema social num caso de polícia. Isso evidencia como ainda nos falta cultura política democrática.


Basta um giro pela internet para encontrar os piores tipos de insultos contra Mayara. Isso quer dizer que a sociedade decidiu dizer a essa ‘$?%#@&!’ que não aceita mais comportamentos desse tipo? Ou significa que a sociedade reproduz, na sua ira punitiva, ao menos parte do comportamento autoritário que repudia na jovem? Penso que as duas coisas misturadas.


Há outros aspectos. A internet -e o Twitter em particular- está dando publicidade a comportamentos que só tinham vigência no âmbito da vida pessoal de cada um. Assim como muitos expõem sua vida privada à visitação coletiva sem nenhum receio do ridículo, vários preconceitos também estão se tornando visíveis nas redes sociais.


Talvez seja positivo que as barbaridades que as pessoas dizem no escritório, no clube ou no bar, só entre amigos, possam agora ser objeto de discussão pública, mesmo que isso possa nos virar o estômago ou levar à conclusão de que, definitivamente, o inferno são os outros.


Certos meios sociais do Sul e do Sudeste alimentam antigo preconceito contra nordestinos. O governo Lula, pelo que representou, fez recrudescer os aspectos mais odiosos desse tipo de mentalidade protofascista, felizmente minoritária. O início do resgate da dívida social do Nordeste e o protagonismo político da região representam um passo importante para civilizar o Brasil.


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Obama contra-ataca


A China voltou a declarar ‘preocupação com a nova política monetária dos EUA’, via ‘China Daily’.


Mas o dia foi de Barack Obama. Na manchete do ‘Wall Street Journal’, ‘Obama se junta à briga do G20’, em defesa da ‘flexibilização quantitativa’ do Fed criticada por Alemanha, Brasil e outros.


Seu trunfo, manchete no ‘New York Times’ e no ‘Financial Times’, foi o apoio à Índia no Conselho de Segurança. No destaque do primeiro, ‘Obama disse que os EUA apoiariam a postulação indiana por vaga permanente’. Na análise de Edward Luce no ‘FT’, ‘gesto custa pouco -além das reações ansiosas de Alemanha, Brasil e outros postulantes omitidos’. Por outro lado, ‘compra crédito junto à Índia, de cujo apoio os EUA precisam no G20, esta semana’. De fato, logo abaixo da manchete, na home do ‘NYT’, ‘Ação do Fed recebe um apoio inesperado da Índia’.


Na Índia Nas manchetes de hoje do ‘Hindu’ e do ‘Times of India’, já postadas ontem, ‘Obama apoia Índia na reforma da ONU’. Em destaque no site do primeiro, a reportagem ‘Paquistão alerta contra apoio à postulação da Índia’ -antes do anúncio de Obama.


Na China Jornal estatal do país-alvo de Obama, o ‘China Daily’ registrou à noite na home, sem destaque ou crítica, que ‘Obama indica apoio para assento da Índia nas Nações Unidas’. No texto, anota que, mesmo com o anúncio, ‘ainda haveria grandes obstáculos -como a possível oposição de outros países’.


Quase vazia A ‘Foreign Policy’ postou, sob o enunciado ‘A promessa quase vazia de Obama à Índia’, que o subsecretário de Estado, William Burns, admite que ‘o processo será complicado e difícil’ na ONU. O Council on Foreign Relations, de Nova York, sublinhou que Obama ‘obteve acordos para exportação e apoiou a postulação da Índia, mas analistas veem desafios para a parceria’.


Outro papel O colunista do ‘NYT’ Nicholas Kristof postou que os EUA devem estimular Índia -e também o Brasil- a liderar a defesa de democracia e direitos humanos pelo mundo.


//G20, CONTRA E A FAVOR


A dois dias do início da cúpula do G20 na Coreia do Sul, o ‘FT’ publica hoje coluna de Gideon Rachman, apontando os ‘sete pilares de fricção no G20’ e questionando o organismo. Em suma, ‘longe de ser a solução para os problemas urgentes do mundo, o G20 parece cada vez mais dividido, ineficiente e ilegítimo’.


Por outro lado, o ‘China Daily’ deu artigo de Jin Canrong e Liu Shiqiang, da Universidade Renmin, argumentando que ‘O papel do G20 não tem substituto’. Em suma, ‘o mecanismo está se tornando cada vez mais importante para o avanço das relações e da economia mundial’.


Fechando o noticiário do dia, por fim, o ‘WSJ’ postou a alta do ouro no mundo -e também a queda do real no Brasil- ‘em meio a incertezas quanto às negociações cambiais no G20’.


//A ESTREIA


Na manchete da BBC Brasil, ‘Dilma estreia no G20 para levar mensagem de continuidade’. Ela ‘terá lugar ao lado de Lula em reunião de cúpula’, para ‘apresentá-la à comunidade internacional como a nova chefe de Estado’.


Ao fundo, a organização Inter-American Dialogue, de Washington, publicou o artigo ‘Para onde Dilma vai levar o Brasil?’, assinado por Peter Hakim, no ‘Los Angeles Times’. Diz que ‘os brasileiros têm razão em ter orgulho do progresso de seu país’, mas vê ‘problemas tremendos’. Em política externa, ‘parece carecer de um centro moral’ e está sob ‘intenso escrutínio’, citando as relações com os ‘párias’ Irã e Venezuela. Ameaça que ‘a tensão crescente com Washington poderia fechar importantes oportunidades diplomáticas e econômicas’.


A DESPEDIDA Antes mesmo de Lula chegar, o jornal moçambicano ‘O País’ deu capa ontem, com imagem de arquivo. Na chamada, ‘Última visita’. Na reportagem, ‘A visita de um amigo’. No ‘Jornal Notícias’, ‘Moçambique e Brasil vão bem, obrigado!’


//MONTY PYTHON VISITA


A ‘IstoÉ’ publicou que Rupert Murdoch, dono do ‘WSJ’ e da Fox News, visita o Brasil neste mês e pediu uma audiência com Lula para ‘saber mais de Dilma’. E o iG postou que Arianna Huffington, do Huffington Post, também vem ao país, no mês que vem.


E jornais britânicos deram que Michael Palin, 67, um dos antigos integrantes do Monty Python, hoje presidente da Royal Geographical Society e apresentador de um programa de viagens na BBC, anunciou que vem ao Brasil para uma série com quatro episódios: ‘Se vocês virem uma equipe de TV no Rio de Janeiro, esperando para cruzar a rua, por favor, ajudem.’


 


 


ACESSO À INFORMAÇÃO


Entidades não vão mais a evento do Arquivo Nacional


A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Transparência Brasil desistiram de participar do seminário Acesso à Informação e Direitos Humanos, organizado pelo Arquivo Nacional (de 23 a 26 deste mês).


As entidades protestam contra a recusa do Arquivo Nacional, órgão vinculado à Casa Civil, em revelar documentos da ditadura militar (1964-85) durante o período eleitoral.


Recentemente, historiadores que trabalhavam no projeto Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, deixaram o órgão por discordar das restrições.


Em nota, o diretor-executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, afirmou que ‘a instituição [Arquivo Nacional] tem agido de forma incompatível com a própria motivação do seminário’.


A Abraji lamentou a falta de acesso a informações públicas


 


 


PESQUISA


Unesco lança hoje estudo sobre jornalismo


A Unesco lança hoje o estudo ‘Indicadores da Qualidade da Informação Jornalística’, no qual sugere a autorregulação como o melhor meio para garantir a qualidade editorial dos veículos de comunicação (disponível no site www.unesco.org).


Com base em 275 questionários respondidos por profissionais de todo o país, os autores afirmam que há razoável consenso quanto à importância de existirem critérios de qualidade para avaliar o trabalho jornalístico.


De acordo com Guilherme Canela, coordenador de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, isso não passa pelo governo: ‘Cabe às empresas do setor definir os padrões de qualidade’.


Para Canela, ‘os indicadores apresentados podem servir como parâmetros para o atual debate sobre mídia’.


 


 


MÉXICO


Gustavo Hennemann


Calderón pede que imprensa ‘não entre no jogo’ dos cartéis


O presidente do México, Felipe Calderón, pediu ontem à imprensa para que não ‘entre no jogo’ dos cartéis de narcotráfico e evite cair nas estratégias de comunicação do crime organizado.


A declaração veio durante a 66ª assembleia geral da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), que termina hoje em Mérida, no México.


Segundo o presidente, a violência instaurada pelos cartéis é a ‘pior ameaça’ para a liberdade de expressão em parte do continente americano e o problema deve ser enfrentado de maneira coordenada pelos governos e pelos meios de comunicação.


Para Calderón, a imprensa e os três poderes do Estado devem trabalhar num ‘marco de corresponsabilidade’ contra a criminalidades, que ‘reprime severamente a liberdade de imprensa’ sobretudo no México, na América Central e na Colômbia.


‘É um câncer que atenta contra todos, e os jornalistas são fator essencial’, disse.


Segundo o CPJ (Comitê de Proteção aos Jornalistas), morreram 22 jornalistas no México desde 1992. Desses, 21 foram assassinados e um morreu em cobertura perigosa. Outros 30 não tiveram a causa da morte esclarecida.


Em seu discurso, Calderón também prometeu à SIP que ‘nunca haverá nem mordaças nem censuras à atividade jornalística’ em seu país, que ‘não persegue ninguém por razões ideológicas e permite críticas abertas ao governo’.


REAÇÕES


O governo da Bolívia reagiu ontem às críticas realizadas durante a assembleia da SIP a respeito da lei antirracismo recentemente aprovada pelo governo Evo Morales.


Anteontem, a seção boliviana da entidade disse que artigos da lei que preveem a prisão de jornalistas sem direito a apelação representam a maior ameaça à livre imprensa do país desde a redemocratização, em 1982.


Para o porta-voz da Presidência, Iván Canelas, a liberdade de expressão está garantida na Bolívia e ‘os membros da SIP, como no passado, quando apoiaram ditaduras, estão equivocados’.


O chanceler do Equador, Ricardo Patiño, também rebateu críticas da SIP ao presidente do país, Rafael Correa, e pediu que a entidade ‘se coloque do outro lado’ e analise a ‘pressão’ que os meios exercem sobre o governo.


Segundo o chanceler, é ‘imensa, a pressão, a mentira, e a perseguição que alguns setores da imprensa exercem sobre o governo’.


Entre outros pontos, a SIP criticara a atitude do governo durante a rebelião da polícia equatoriana contra o presidente, no fim de setembro, quando o governo obrigou os meios a retransmitir em cadeia nacional o canal oficial de forma ininterrupta.


Já os representantes da imprensa argentina na SIP criticaram durante a assembleia o clima de confronto e intolerância instaurado pelo governo, que, afirmam, ‘escolheu a mídia como inimiga’.


Em carta lida no evento, o diretor do jornal ‘La Nación’, Bartolomé Mitre, protestou contra a nova lei de mídia, implementada pela presidente Cristina Kirchner, e contra a interferência do governo na fábrica de papel-jornal Papel Prensa.


 


 


RÚSSIA


Segundo jornalista é vítima de agressão em 48 horas na Rússia


Um segundo repórter russo foi espancado ontem em Moscou, dois dias após o jornalista Oleg Kashin, 30, do ‘Kommersant’ -um dos maiores jornais do país- ter ficado em coma após ter tido ossos da mandíbula, dedos, joelhos e cabeça fraturados por dois desconhecidos.


Ontem, a imprensa russa divulgou imagens do espancamento de Kashin, que foram gravadas por câmeras de segurança.


A segunda vítima é Anatoly Adamchuk, repórter do jornal ‘Zhukovskiye Vesti’, da periferia de Moscou.


O espancamento também foi realizado por dois homens que, como ocorreu com Kashin, o esperaram na porta de seu apartamento.


A polícia russa disse acreditar que os crimes estejam relacionados. Os dois jornalistas haviam escrito reportagens sobre os esforços de ativistas para impedir a derrubada de uma floresta próxima a Moscou, feita pelo governo, para a construção de uma rodovia.


Um ativista ambiental envolvido em protestos contra construção da rodovia também havia sido espancado dias antes.


VÍDEO


O vídeo divulgado ontem mostra um homem que segurava um buquê de flores socando a cabeça do jornalista Kashin em frente ao seu apartamento.


O segundo agressor sai de uma sombra e ajuda no ataque. Os dois criminosos atingem o repórter com pelo menos 50 golpes, usando um objeto não identificado.


O presidente russo, Dmitri Medvédev, afirmou ontem que os agressores de Kashin serão punidos, ‘sejam quem forem’.


 


 


ECONOMIA


Raul Juste Lores


Editor da ‘Economist’ diz que Brasil deve pressionar China por câmbio


Se o Datafolha fizesse uma pesquisa com líderes políticos e empresariais de todo mundo, perguntando qual é a publicação mais influente e lida entre eles, dificilmente a revista britânica ‘The Economist’ não estaria no topo do ranking.


Defensora do liberalismo e criada em 1843, a ‘Economist’ é chefiada desde 2006 por John Micklethwait, 48, que está hoje em São Paulo para participar de um debate sobre o potencial brasileiro.


‘Não é justo ficar colocando Brasil sempre ao lado de China e Índia, com escalas tão diversas. Por enquanto, o Brasil é um poder regional em ascensão, como são Indonésia, Turquia’, diz.


A revista apoiou em editorial o candidato derrotado José Serra, ‘porque ele teria mais ambição por fazer as reformas engavetadas por Lula’, diz. ‘Dilma pode ser mais intervencionista ou até surpreender, como Lula.’


O jornalista britânico passou boa parte das últimas duas décadas escrevendo sobre os EUA. Seu último livro, ‘The Right Nation’ (trocadilho entre a ‘nação certa’ e a palavra ‘direita’ em inglês), conta a ascensão do conservadorismo americano.


Pressão brasileira


Não sou pessimista com o G20 porque minhas expectativas com o sucesso desse encontro são bem baixas. Mas o Brasil deveria pressionar mais a China, junto com os demais emergentes.


Mas a China foi bem eficiente em culpar exclusivamente os EUA. A emissão de dólares dos EUA certamente não ajuda, mas o Brasil precisa lembrar a responsabilidade chinesa, pois as manufaturas muito baratas prejudicam a indústria brasileira. O desequilíbrio é culpa dos dois, não só dos EUA.


Potência regional


Por enquanto, Brasil, China e Índia criaram uma situação em que todos ganham. O que o Brasil vende eles não têm. E a agricultura brasileira é muito mais produtiva que a chinesa ou a indiana.


Dependência chinesa


A balança brasileira está muito dependente da China. O Brasil precisa de produtos de maior valor agregado. A agricultura é fantástica, então tem que fazer produtos finalizados, ter marcas.


O setor de serviços pode se internacionalizar. O sistema bancário pode ser muito forte na América Latina.


Declínio americano


É muito cedo para decretar o declínio absoluto dos EUA. Estão em meio a uma recessão séria, mas onde as pessoas mais talentosas do mundo querem estudar? Em que empresas querem trabalhar?


É sério que houve mudanças. Reagan falava coisas extremas, mas tinha lido Hegel, algo que não posso falar de Sarah Palin.


O achado de Murdoch foi criar uma rede de comunicação para um público conservador que era sub-representado na mídia.


Sempre suspeito quando dizem que em 2025 a China será o maior império do mundo. Não será uma evolução em linha reta. Há desafios na urbanização, na religião e choques com os vizinhos, muitas dificuldades no caminho.


Europa subestimada


Também acho que muita gente está subestimando a Europa. Ela tem um problema sério de pessimismo, mas tem os trabalhadores mais qualificados. Se desregular seu setor de serviços, ele vai virar um gigante.


A Europa já sofreu grandes problemas e tem uma capacidade de se reinventar e de reconstrução enormes.


Alemanha e Europa anglosaxônica avançarão mais. Mesmo os franceses, que foram às ruas lutar contra a aposentadoria mínima aos 62 anos, também sabem que precisam mudar.


Inteligência de massa


O fenômeno da globalização ajuda muito a ‘The Economist’. Nossa tiragem tem crescido muito, já supera 1,5 milhão por semana.


Temos 30 correspondentes internacionais, uma cobertura realmente global, então é normal que muitos brasileiros ou indianos nos leiam.


Vivemos a ascensão da ‘inteligência de massas’. Reclamamos do sucesso das revistas de celebridades e fofocas, do baixo nível da TV, mas nunca tanta gente no planeta foi à universidade, leu ou teve tanto acesso à informação.


Jornalismo


Estamos virando blogueiros e aprendendo multimídia. Mas, para 90% da equipe, o que busco são as habilidades do jornalismo de sempre: inteligência para pensar em novas dimensões sobre tudo.


 


 


PRÊMIO


Folha é o jornal que mais respeita consumidor


Pela segunda vez consecutiva, a Folha venceu o prêmio ‘Empresas que mais respeitam o consumidor’, categoria jornal, promovido pela consultoria Shopper Experience.


Realizada em parceria com a revista ‘Consumidor Moderno’, a pesquisa mede a experiência efetiva dos consumidores com empresas de 44 categorias, como companhias aéreas e cartões de crédito.


Foram entrevistados 1.370 consumidores em seis municípios do país: São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte.


Cada entrevistado respondeu a perguntas em até oito categorias, mencionando apenas empresas com as quais efetivamente mantêm ou mantiveram um relacionamento como cliente.


De acordo com a consultoria Shopper Experience, isso permite medir ‘a real experiência do cliente, e não apenas a percepção ou imagem de respeito’.


ATRIBUTOS


Foram analisados atributos como qualidade do atendimento (telefônico ou via e-mail), preocupação com o atendimento, qualidade do produto ou serviço e atuação socioambiental.


Essa é a sétima edição do prêmio, cujos vencedores em todas as categorias serão anunciados no dia 16 de dezembro, em uma cerimônia no hotel Renaissance.


 


 


INTERNET


Google vai bancar Wi-Fi em voos nos EUA


O gigante das buscas anunciou que patrocinará, neste fim de ano, a internet Wi-Fi dentro de voos da Virgin America, da AirTran e da Delta. O agrado vale para os voos domésticos dentro dos EUA, de 20 deste mês a 2 de janeiro. No país, pagam-se US$ 9,95 para usar o serviço em voos.


 


 


TRIBUNAL


Jornal vai ter que pagar indenização a Cristiano Ronaldo


O atacante da seleção portuguesa Cristiano Ronaldo receberá uma indenização do jornal britânico ‘Daily Telegraph’, que o acusou de colocar em risco a recuperação de seu tornozelo dançando e bebendo em discoteca de Los Angeles.


O badalado atleta do Real Madrid afirma ser abstêmio.


Os valores não foram divulgados, no entanto, fala-se em uma compensação ‘substancial’ ao atleta. O jornal, que admitiu ter publicado informações equivocadas, pagará ainda os custos do processo.


‘Na realidade, esses acontecimentos não ocorreram dessa forma’, declarou ontem o advogado de Cristiano Ronaldo, Allan Dunlavy.


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Na web, segredo de Gerson lidera buscas por Passione


Segredos a serem revelados, novos eliminados, a repercussão dos programas mais comentados da TV atualmente, ‘Passione’ (Globo) e ‘A Fazenda’ (Record) é refletida no maior site de buscas da internet, o Google.


Em levantamento solicitado pela Folha, o Google mostrou que ‘Passione’, que estreou em 17 de maio, teve o primeiro pico de buscas na web entre os dias 25 e 31 de julho, quando Mauro (Rodrigo Lombardi) ficou com Melina (Mayana Moura).


De 22 a 28 de agosto, veio o maior pico de buscas envolvendo a novela, desta vez, de internautas querendo saber sobre o segredo de Gerson (Marcelo Antony).


O aumento de pesquisas mais recente foi na semana morte de Saulo (Werner Schunemann), do dia 10 ao dia 16 de outubro.


O levantamento também mostra que de todo o país, os internautas de Sergipe são os que mais fazem buscas sobre a novela. E que a turma do Rio Grande do Sul é a mais afoita para descobrir qual é o segredo de Gerson.


Já sobre a nova edição de ‘A Fazenda’, o pico de buscas no Google veio no dia 29 de setembro, um dia após a estreia. As eliminações de Monique Evans e Geisy Arruda, nos dias 7 e 14 de outubro, aumentaram novamente as buscas envolvendo o reality da Record.


PONTA


Masi Oka (direita), ex ‘Heroes’, volta à TV como o médico legista Max Bergman no seriado ‘Hawaii Five-0’ (Liv), em episódio que vai ao ar dia 17, às 22h


Local As afiliadas da Rede TV! em Pernambuco e Fortaleza ganharão noticiários locais, noturnos, em 2011. Promessa do diretor de jornalismo da emissora, Américo Martins.


Lama De olho no ibope, ‘O Programa do Gugu’ (Record) promoverá uma grande lavação de roupa suja reunindo todos os participantes, assim que o reality acabar.


Amarras Com relação a intenção da Globo de trazer Paloma Duarte e Marcelo Serrado de volta ao seu casting, a Record avisa que a atriz seu renovou com a emissora até 2015 e que Serrado tem contrato até 2011.


Troféu A 11 ª edição de Meus Prêmio Nick foi líder de audiência na TV paga no target infantil, entre o público de 4 a 11 anos, no último dia 14.


Retardatário Sem expectativa de vitória brasileira, a média de audiência do GP Brasil de Fórmula 1 foi de 17 pontos (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP), a menor dos últimos cinco anos. A maior média do período foi em 2008, com 33 pontos. Ano passado foram 18.


007 Com direito a barco e helicóptero a disposição, Miá Mello está no Rio na captura dos atores Robert Pattinson e Kristen Stewart, astros de ‘Crepúsculo’. A saga vai ao ar no ‘Legendários’, da Record.


Susto ‘O Formigueiro’, que vinha registrando baixa audiência na Band, foi retirado do ar de surpresa, anteontem. A emissora o transferiu para os sábados, às 15h45, alegando que é difícil a guerra de ibope aos domingos, que o horário de verão chegou…


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 9 de novembro de 2010


REGULAÇÃO


Karla Mendes


Ministro defende que Dilma regule mídia


Ao apresentar ontem os objetivos do Seminário Internacional das Comunicações Eletrônicas e Convergência de Mídias, que será realizado em Brasília hoje e amanhã, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social da Presidência) disse ser ‘um absurdo’ que os artigos sobre comunicação na Constituição estejam há duas décadas esperando pela regulamentação. Para ele, o marco regulatório do setor, de 1962, é incompatível com a nova realidade do País.


‘Ou olha para frente ou a ‘jamanta’ das telecomunicações atropela a radiodifusão’, afirmou Franklin Martins. O ministro fez uma comparação entre setores: enquanto as empresas de radiodifusão faturaram R$ 13 bilhões em 2009, as de telecomunicações embolsaram a receita de R$ 180 bilhões.


O ministro disse que a presidente eleita, Dilma Rousseff, receberá até meados de dezembro um anteprojeto da revisão do marco regulatório das telecomunicações, que tratará também da convergência de mídias.


‘Será uma proposta de regulação flexível, porque a velocidade das transformações tecnológicas nessa área aconselha que se seja pouco rígido e pouco detalhista na lei, (uma vez que) as tecnologias e ambientes de negócios vão mudando. O essencial é que traga os princípios gerais, liberdade de informação, neutralidade, estímulo à competição e à inovação, proteção à cultura nacional, regional’, ressaltou.


Ele não quis adiantar detalhes do projeto, como, por exemplo, se o Brasil seguirá o caminho de países que optaram pela criação de duas agências reguladoras – uma para tratar dos aspectos técnicos dos meios eletrônicos e outra voltada para conteúdo – ou se os dois assuntos serão tratados dentro de uma única agência.


Censura. Franklin Martins fez questão de frisar que a regulação do conteúdo não tem nada a ver com censura da imprensa. ‘Sou contra a censura. E o governo também. Não deve haver na sociedade censura alguma à imprensa. Sou contra, inclusive, o Judiciário censurar a imprensa’, enfatizou. O ministro defendeu que a imprensa tenha total liberdade, mas ponderou que isso não quer dizer que ‘a imprensa está acima da crítica’.


Segundo o ministro, o anteprojeto vai propor a regulamentação dos artigos da Constituição que tratam de produção nacional, regional e independente (220, 221 e 222). ‘É absurdo que, 22 anos depois (da promulgação da Constituição), artigos que dependem de regulamentação não sejam regulamentados.’ A participação de capital estrangeiro nas empresas do setor, porém, só será debatida se a discussão for provocada pelo público. ‘Já existe uma lei que regulamenta isso.’


Para Franklin, fronteiras entre telecomunicações e radiodifusão estão sendo postas em xeque pela convergência de mídias na divulgação do conteúdo e, por isso, é questão que tem de passar por amplo debate com a sociedade. ‘Só assim poderemos transformar os desafios e as possibilidades em crescimento.’


Caberá à presidente eleita dar prosseguimento ou não às propostas apresentadas. Dilma tem três caminhos a escolher. O primeiro: deixar que o próprio presidente Lula tome a decisão e encaminhe o projeto ao Congresso Nacional. A segunda opção é fazer esse encaminhamento durante a nova gestão; ou ainda, definir por não levá-lo adiante. O ministro, no entanto, demonstrou otimismo quanto à hipótese de as propostas serem encaminhadas, discutidas e transformadas em lei.


‘Da mesma forma que, no primeiro mandato do governo Lula, foi fundamental ter um novo marco regulatório na questão da energia para impedir novos apagões, acho que as comunicações terão um destaque semelhante (no governo Dilma)’, enfatizou o ministro.


‘É necessário que se tenha um novo marco regulatório que dê segurança aos investidores, possibilidade de competição, que permita a inovação, que garanta os direitos dos cidadãos e que promova uma grande oferta de informações e conhecimentos, ingredientes vitais para o exercício da cidadania’, disse Franklin.


 


 


João Paulo Charleaux


Para SIP, cartéis e leis de mídia são ameaça


A declaração final da 66.ª Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, em espanhol), que termina hoje, no México, deve conter duras advertências ao Brasil e aos países bolivarianos, por suas políticas que, em diferentes níveis, propõem monitorar, controlar ou até censurar aos meios de comunicação. Já países como México e Honduras serão citados pelos assassinatos, desaparecimentos e atentados contra a imprensa.


Durante cinco dias, membros da SIP – sociedade fundada em 1943, que hoje congrega mais de 1.300 empresas privadas de comunicação nas Américas – debateram as ameaças contra a liberdade de expressão no continente. O encontro, realizado na cidade mexicana de Mérida, no Estado de Yucatán, contou com a presença do presidente do México, Felipe Calderón, e da Colômbia, Juan Manuel Santos.


Uma das principais intenções da reunião foi chamar a atenção do mundo para os 11 assassinatos de jornalistas ocorridos no México só este ano. Outros nove repórteres foram mortos em Honduras, num ‘fenômeno nunca antes visto no país’, de acordo com a organização. Em nenhum dos dois países, os culpados foram encontrados.


A situação da liberdade de imprensa no Brasil foi apresentada por Sidnei Basile, do Grupo Abril, que mostrou preocupação com as propostas debatidas durante a Conferência Nacional de Comunicação, no ano passado. Basile chamou a atenção para o fato de a ‘esquerda brasileira’ ter conquistado em outubro maioria tanto na Câmara quanto no Senado, o que permitiria que regras polêmicas do documento – como a proposta de monitoramento dos meios de comunicação – avançassem sem restrições. A censura imposta pela Justiça ao Estado há 466 dias – proibindo o jornal de publicar dados da investigação sobre o empresário Fernando Sarney – também é vista como uma grave restrição à liberdade de imprensa na região.


‘A criação de instituições públicas ou mistas que tenham a atribuição específica de controlar o conteúdo de qualquer publicação independente, como é mencionado tanto no caso do Brasil quanto do Uruguai, já é, em si, motivo de preocupação para nós’, disse ao Estado Ricardo Trotti, diretor de Liberdade de Expressão da SIP.


Governos da Venezuela, Bolívia, Argentina e Equador são apontados como os que mantêm as piores relações com os meios de comunicação. Cuba aparece como o exemplo mais grave de censura. ‘Cuba continua a ser o ponto negro no mapa da América e ainda não acordou para a realidade que o mundo inteiro vive. É um país onde não se conhece o conceito de liberdade de imprensa, apenas de propaganda’, disse o presidente da SIP, Alejandro Aguirre, cujo mandato termina hoje.


Ainda antes do fim da reunião anual da SIP em Mérida, representantes de governos sul-americanos já criticavam a organização e defendiam suas políticas de relação com a imprensa. ‘Os membros da SIP, que no passado atuaram apoiando até mesmo ditaduras, estão equivocados’, disse o porta-voz da presidência boliviana, Iván Canelas. Já o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, disse que a SIP deveria ‘tentar se colocar do outro lado para sentir a pressão e a manipulação enviesada da informação’ cometidas pela imprensa de seu país contra o governo.


No encontro de Mérida, foi discutido o planejamento de uma assembleia da SIP em São Paulo, em 2012. A instituição também deve definir hoje o nome de Gonzalo Marroquín, da Guatemala, para presidente.


PARA LEMBRAR


Pelo menos duas iniciativas do governo Lula para ‘monitorar’ ou ‘exercer controle social sobre a mídia’ têm despertado preocupação na região. A primeira Conferência Nacional de Comunicação Social, realizada em dezembro de 2009, em Brasília, tinha, entre as mais de 600 propostas debatidas, muitos trechos que defendiam a criação de órgãos de monitoramento e controle dos meios de comunicação. O Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) também propunha o controle social da mídia, o que provocou críticas até mesmo de políticos ligados ao governo. Organismos internacionais como a SIP consideram ambas as medidas um retrocesso para a democracia. Mas para ONGs e políticos do PT, as propostas vieram da sociedade civil, ainda estão em fase de debate e não refletem a posição do governo.


 


 


Roldão Arruda


Centrais pedem maior controle da comunicação


Na linha contrária à da SIP, a Conferência Sindical Democratização da Comunicação nas Américas, realizada na semana passada em Montevidéu, no Uruguai, propôs maior intervenção do Estado na área da comunicação. Segundo os representantes sindicais que participaram do encontro, os governos devem promover a democratização no setor e incentivar veículos mantidos por comunidades populares, sindicatos e movimentos sociais.


A conferência foi organizada pela Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas e contou com a participação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior organização sindical brasileira, vinculada ao PT. Durante os debates, a secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertotti, chamou a atenção para a necessidade de se estabelecer marcos regulatórios para o setor.


Esse tema acabou aparecendo no documento final da conferência. De acordo com o texto, o Estado deve intervir para ‘garantir a diversidade e o pluralismo, com marcos regulatórios que assegurem igualdade de oportunidades no acesso aos meios’, assim como ‘rechaçar e impedir a formação de monopólios e oligopólios na propriedade e controle dos meios de comunicação’.


A maior ameaça à liberdade de expressão, segundo o texto, são os interesses de grandes corporações do setor, que ‘só veem os meios de comunicação como instrumentos de obtenção de renda e de influência na tomada de decisões do poder’.


Uma das formas de se opor a essa ameaça, segundo os sindicalistas participantes da conferência, é ‘resgatar a importância dos meios públicos de comunicação’.


Ao final do encontro, a Confederação Sindical anunciou sua intenção de criar uma rede sindical de informação no continente. Além de informar, ela deverá ter a tarefa de ‘estimular mudanças e a promoção dos direitos da classe trabalhadora’.


 


 


TELEVISÃO


Record anuncia sua primeira novela em HD


Versão brasileira da novela teen Rebelde, produto da mexicana Televisa, o título será o primeiro folhetim da Record gravado em alta definição. Prevista para ir ao ar em janeiro, a minissérie Sansão e Dalila também vem sendo feita em HD, assim como já ocorre com boa parte do jornalismo. A emissora desmente assim que o volume de suas produções em alta definição seja insuficiente para garantir uma vaga extra no line up da Net, maior operadora de TV paga do País, que já abriga canais com menos títulos do que ela em alta definição. A TV de Edir Macedo enumera outros feitos em HD, como a Olimpíada de Vancouver e as últimas edições de O Aprendiz, Troca de Família e Ídolos.


Papo mulherzinha


Em nome do quadro E.E. de Bolsa, Thalita Rebouças baixou na concentração da Seleção Brasileira de Futebol Feminino e engatou uma conversa luluzinha com Marta e cia. para o Esporte Espetacular (Globo).


500 mil views é o que a websérie As Olívias Queimam o Filme, feita pelo quarteto As Olívias (da EAD/USP) e agora em sua 2ª temporada, já alcançou pelo YouTube


‘Hebe, a gente não vai sair do SBT nunca, só quando matarem a gente.’


De Silvio Santos, durante o Teleton, a Hebe Camargo, que está em vias de renovar contrato


ENTRELINHAS


Vender publicidade nos intervalos da programação infantil cabível à Fundação Padre Anchieta (FPA) é ação que só vale, por enquanto, para a TV Rá-Tim-Bum, canal pago da FPA. Assim informa a emissora em sua última versão sobre o assunto, desmentindo que haja algo previsto neste sentido na TV Cultura.


Ao mercado anunciante, a gerente de marketing da TV Cultura, Flávia Cutolo, disse, na semana passada, que a política de exibir comerciais durante a programação infantil estava em revisão e que ‘na TV Cultura, esse processo deverá ter início no ano que vem’.


É que o assunto publicidade infantil na Cultura ainda não foi discutido junto ao Conselho da FPA.


Ao dar aval para o Conexões Diretas, novo programa de Sarah Oliveira no GNT, a diretora do canal, Letícia Muhana, fez duas exigências: que o programa fosse gravado em locações paulistanas e que os entrevistados convidados tivessem produções culturais em andamento.


A ideia do GNT é estreitar relações com a praça de São Paulo, aumentar a produção de programas na cidade e ‘esquentar’ o conteúdo do canal.


Lua Nova, filme da saga Crepúsculo, é, até aqui, o filme mais visto na TV paga este ano: estreou na TV no último dia 30, dando ao Telecine Premium a liderança entre os pagos no horário.


Produzido com incentivo do artigo 39, como aconteceu com o especial Arnaldo Antunes Lá em Casa, pelo mesmo VH1, o Estúdio VH1 Skank e Nando Reis vai ao ar no dia 19 e depois sai em DVD. A produção é da Mixer.


O Amor nos Tempos da Aids será exibido no próximo dia 28, e não em 1.º de dezembro, pelo Discovery Home & Health.


 


 


Patrícia Villalba e Jotabê Medeiros


O sucesso do bígamo Berilo da novela da Globo


É frequente que atores, mesmo os que interpretam as piores figuras, acabem se envolvendo tanto com seus personagens que passem a entender suas motivações e defendê-los. Mas a simpatia e o jeito docemente atrapalhado do Berilo de Passione (Globo, 21h15) não são suficientes para Bruno Gagliasso, seu intérprete, dar-lhe redenção. ‘O comportamento de Berilo é totalmente reprovável. Procuro todas as razões possíveis que levam Berilo a agir como age. Dentro do set, sou seu advogado de defesa, fora do set, o promotor que o acusa’, revela o ator ao Estado.


Berilo é bígamo, comicamente casado com a italiana Agostina (Leandra Leal) e a brasileira Jéssica (Gabriela Duarte), situação que rende ótimas cenas e boas risadas na novela de Silvio de Abreu. É papel leve, que afasta o Tarso, esquizofrênico que ele interpretava em Caminho das Índias. Gagliasso é bom de comédia e drama, como já ficou provado, e tem um carisma que faz o público pensar que, poxa vida, o Berilo não faz por mal.


O Berilo poderia ser tomado pelo público como um safado, mas não há quem não nutra grande simpatia por ele. A que se deve essa simpatia?


Creio que existem diversos fatores. Um deles pode ser minha trajetória como ator. O espectador pode estar transferindo para Berilo a síntese do meu trabalho anterior, ou seja, um personagem de forte apelo afetivo como o Inácio, o Junior, o Ricardo, o Tarso e o Ivan. Se isso ocorre, é indevido porque o comportamento de Berilo é totalmente reprovável. Dentro do estúdio, defendo-o com todas as forças. Procuro todas as razões possíveis que levam Berilo a agir como age. Em cena, tento dar a ele feições de uma pessoa mais atrapalhada com seus sentimentos do que agindo maquiavelicamente. Para isso, me inspirei em O Arlequim Servidor de Dois Amos, de Goldoni.


Não posso deixar de perguntar: o coração do Berilo bate mais forte por Agostina ou Jéssica?


A concepção de amor do Berilo é distorcida, mas eu, como intérprete, procuro em cada palavra dos capítulos uma via para amar as duas com a mesma intensidade. Dessa forma, eu deixo a torcida pro espectador. A comédia não exige uma motivação psicológica tão aprofundada quanto o drama. Esse contorno amoroso que dou para as duas personagens é buscado na própria cena em si.


Você acha que um homem é capaz de amar duas mulheres?


Não poderia responder por todos os outros homens do planeta. Até porque, em várias culturas, isso não só é possível como completamente aceito e assumido pela própria lei. No entanto, na cultura ocidental e católica da qual fazemos parte, isso se torna complicado. Na nossa cultura, o melhor a fazer é suportar as frustrações de uma escolha.


Atores como Rodrigo Santoro e Selton Mello têm trabalhado bastante no cinema. Mas você não. E faz uma novela atrás da outra. É a TV que não abre mão de você ou é você que prefere esse rumo?


Tenho deixado esse jogo rolar livre, mas isso não quer dizer que eu não tenha pleno domínio das minhas escolhas. Até recebo roteiros, mas ainda não apareceu um personagem que tenha, pelo menos, duas características que considero importantes: uma grande problemática humana para desenvolver e que não seja muito próximo dos que já fiz em outros meios. E é verdade que eu recebo ‘intimações’ na televisão. E o resultado disso é que agarro oportunidades tão bacanas, como esta de trabalhar com um gênio como o Silvio de Abreu.


Berilo já está no olimpo da TV, por Jotabê Medeiros


Casado com Agostina na Itália e com Jéssica no Brasil, o bígamo Berilo (Bruno Gagliasso) é o tipo de malandro que só enrola aquele que quiser ser enrolado. Daí seu charme, já que o núcleo em que transita está cheio de gente pedindo para ser engambelada: Olavo (Francisco Cuoco) e Clô (Irene Ravache) parecem implorar por uma folga da filha ninfomaníaca; e o núcleo italiano está mais ocupado em correr atrás de rabos de saia brasilianos do que em defender Agostina (Leandra Leal) da infidelidade binacional.


Nesse engambela geral, Berilo – um tipo composto por Gagliasso como mezzo-Didi Mocó, mezzo-Roberto Begnini – conquista um posto privilegiado na galeria novelesca brasuca. Assisti-lo em ação imediatamente conduz a uma comédia fantástica de Blake Edwards, Minhas Duas Mulheres (Micky + Maude, de 1984), na qual Dudley Moore faz jornada dupla nas casas de Amy Irving e Ann Reinking, que engravidam simultaneamente. Moore acaba sendo escorraçado por ambas, e o espectador torce para que ambas o perdoem.


A farsa do bom bígamo é um receituário tiro-e-queda da dramaturgia moderna (com uma suave inflexão feminista em Dona Flor e Seus Dois Maridos). Todo oportunismo será perdoado, com uma condição: que o malandro demonstre amor legítimo por ambas. É curioso ver o sucesso de Berilo entre as mulheres, que teriam amplos motivos para detestá-lo – mais de 9 mil deles seguem seu fake no Twitter, o Berilo_Passione (ou ‘italianinho safadinho’, como diz seu perfil).


Fragolone de olhar de cachorro faminto, Berilo fugiu de bicicleta pela praia, forjou documentos de divórcio, montou-se como um executivo de quinta categoria: tudo pela vida dupla. Só mantinha diálogos francos e sinceros com seus bebês, porque esses não podiam retrucar – seu filho com Jéssica até parecia divertir-se com a canastrice do ‘pai’ de Projac.


Houve exageros no pastelão, mas Berilo/Gagliasso deu um banho (de pijama) na audiência no dia em que dispensou Jéssica (Gabriela Duarte). ‘Ela tava muito triste’, dizia à titular, Agostina, que concordava com todo seu pesar. Agostina (Leandra Leal), se pudesse, faria uma cópia do seu italiano para a outra, generosamente. Essa é a arte de fingir que se vive uma vida que não é a sua (mas que bem poderia ser…)


 


 


CINEMA


Arnaldo Jabor


Patrulhas ideológicas e patrulhas pop


Meu filme A Suprema Felicidade está sendo aplaudido em cinemas cheios. Pensei: ‘Oba! O filme é legal; estão gostando!’ Uma espectadora me escreveu: ‘Saí do cinema lotado de pessoas que aplaudiam. Parecia que uma seca tinha acabado. Os que se falavam depois do filme, brindavam com olhos úmidos e a alma encharcada na alegria da dor comum a todos, serenamente revelada.’


Fiquei feliz com o email, mas logo vi que estava errado… Descobri que sou um mero ‘mané’ que se ilude. São outros os que sabem a verdade. Os críticos da Folha e da Vejinha decretaram que o filme não merece nem uma análise; apenas frases de pichação, breves xingamentos. Eles são taxativos e cruéis como ativos militantes de novas patrulhas ‘contemporâneas’: ‘Ele não é mais cineasta’ ou ‘a narração é que estraga…’ ou ainda ‘muitos temas, sem foco’ e ainda ‘acaba de repente’. Só isso?


É. O filme tem críticas ótimas com bonequinho batendo palma no O Globo e quatro estrelas no Estadão, mas, na minha trêmula insegurança, só penso nos quatro que trataram o filme como um objeto descartável, um lixo ridículo. E mais: criticam-me mais que o filme. Por que essa raiva? Por quê? Será que eles estão certos? Será que as 180 mil pessoas que já assistiram ao filme em 13 dias, e que fazem a renda crescer no cinema com um boca a boca fervoroso, são um bando de idiotas?


Resolvi entender isso. Pensei, pensei, não só pela vaidade ferida, claro, mas também para denunciar a estupidez de cadernos culturais que viraram meros releases de produtos de massa. Cresce no País uma cultura da incultura, a profundidade do superficial, a rapidez do julgamento, num mundo feito de fugazes emails, celulares tocando, filmes com imagens que não podem ter mais de quatro segundos, porrada, corrida, sem saída, até sem ‘roteiro’, essa coisa antiga do tempo em que os homens (e não robôs e transformers) se relacionavam.


Está fora de moda um filme para ser visto, refletido, com choro, risos, vida… Cinema agora é para manipular os espectadores, que são o videogame da indústria. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. A ação na tela é incessante, o conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos.


Acontece, patrulheiros pop, que A Suprema Felicidade foi feito justamente contra essa tendência – quero que os espectadores se sintam dentro do filme e não que sejam levados por porradas, som dolby e homens explodindo.


Eu sei que vocês foram modificados geneticamente por décadas de videoclipes, eu compreendo que vocês achem o Michel Gondry o novo Goddard e que o flash-back foi inventado pelo Tarantino. Imagino vosso tremor na hora da entrevista de emprego, com o diretor do jornal perguntando: ‘Conhece literatura, política, antropologia?’ ‘Não, senhor…’ ‘OK… Secretário, bota ele na crítica de cinema…’


Há em vocês uma esperteza ambiciosa por trás de tanta brevidade implacável – é duro passar a vida botando bolinha preta no Piranha. O cara precisa criar eventos que o promovam.


Eis que, de repente, aquele sujeito que fala na TV, escreve em 20 jornais, fala no rádio há 15 anos, resolveu fazer seu nono filme.


Vocês gritam: ‘Vamos quebrar a espinha dele!’


Compreendo que isso dá prestígio; é um upgrading. O sujeito entra na redação de testa alta e lábio trêmulo: ‘Esculachei a besta do Jabor..!’ E é olhado com cálida admiração.


Ato de violência. Aí, percebi que não apenas a patrulha pop pautou seus críticos. Lembrei da devastadora crítica de Eduardo Escorel na revista piauí – (não confundir com Lauro Escorel, o grande artista que fotografou o filme). Lembro mesmo que corri à piauí com a esperança de aprender teoria com o velho autor de remotos filmes, como a história sinistra de um esquartejador e a adaptação dialética do Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado. Dele eu esperava opiniões cultas, conspícuas frases sobre Bergman, Fellini. Eu esperava encontrar André Bazin e dei de cara com Andrei Zhdanov, o supremo censor de Joseph Stalin (olhem no Google, meninos…)


Mas, mesmo assim, esquartejado, tentei entendê-lo. E tive a revelação, vi a luz!


Eduardo tinha uma missão política, senhores, iluminista mesmo: ele quis salvar o público das mensagens reacionárias que devo ter embutido no filme. Por isso, ele correu a Alphaville, para ver o filme quentinho, ainda no laboratório. Ele correu antes para avisar o povo: ‘Não vá!… Fuja do demônio neoliberal que fez um filme de época sem mostrar Getúlio ou a luta de classes.’


Ele deve ter zelosamente pensado: ‘Vou pautar também os jovens tenentes das novas ‘patrulhas pop’, porque eu sou egresso das velhas patrulhas ideológicas descobertas por Cacá Diegues e tenho esta missão.’


E conseguiu; parabéns, doce Zhdanov com seu lento sorriso superior. Foi um alívio. A sociedade estava salva.


Mesmo assim eu ainda entendo o homem. Sei que grandes frustrações na vida se compensam por elusivas fantasias de grandeza. Sei que a onipotência não realizada, o narcisismo que parou no meio provocam ódio e entendo que ele tenha buscado, digamos, ‘profissionalizar’ seu rancor. Assim, ele descolou esse ‘bico’ para aliviar sua dor interna. Deve ter pensado: ‘Boa ideia… serei implacável contra todos que ousam fazer filmes corrompidos pelo sucesso e pelo público enganado.’


Confesso que admiro sua integridade de não poupar nem amigos nem parentes.


Mas, aí… esbarrei com a frase: ‘Jabor sempre pareceu mais um ‘diletante’ que um cineasta profissional.’ Aí, não. Depois de ter trabalhado 30 anos em cinema, fazendo nove filmes, ouvir isso não dá. ‘Diletante’ é você, cara, que fez dois ou três filmes medíocres que sumiram da história de nosso cinema.


E, no final, outro insulto, quando ele diz que, vendo esse filme, ele não tem mais dúvidas de quem sou eu…


Respondo: Se você pudesse saber quem eu sou, você não seria o que é.


E mais, ridículo censor do trabalho alheio: ‘A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados.’ É só.


 


 


 


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