O governo iraniano tomou medidas severas para garantir o controle sobre a cobertura da eleição presidencial, marcada para esta sexta-feira [14/6]. Jornalistas e observatórios de mídia internacionais afirmam que a maior parte dos pedidos de visto de organizações de imprensa para cobrir o pleito foi negada ou simplesmente ignorada. Os profissionais que conseguiram vistos têm sido proibidos de circular livremente por Teerã e de comparecer a eventos de candidatos apoiados por reformistas.
O ministro da Cultura e Orientação Islâmica, Mohammad Hosseini, chegou a afirmar que o governo iria examinar de perto 200 pedidos de visto de jornalistas estrangeiros para evitar a entrada de “espiões sionistas”. “Eles aprovam alguns poucos jornalistas e canais de TV conhecidos para mostrar que são abertos, mas deixam de foram quase todos os outros que querem ir ao Irã”, resume Reza Moini, da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Bloqueio
O bloqueio à imprensa estrangeira foi sentido em grande parte pelos veículos ocidentais e, principalmente, pelos britânicos. O Reino Unido e o Irã experimentam um período de relações tensas, com as embaixadas em ambos os países fechadas. O único jornalista britânico da grande mídia a conseguir visto foi Jon Snow, do Canal 4, que entrevistou o presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2009.
O embaixador iraniano na França afirmou ter concedido 30 dos 100 vistos pedidos no país. Para os EUA, no entanto, o número de vistos concedidos parece ter sido bem menor. Jornalões como New York Times, Washington Post e Financial Times têm correspondentes em Teerã, mas operam sob rígidas restrições.
Permissão para ir e vir
A obtenção de um visto – que normalmente tem duração de uma semana – não é, no entanto, garantia de passagem livre pelo país. “A cada vez que você sai, precisa de permissão do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica”, diz um correspondente internacional. “Você tem que contar a eles quem quer ver, quando e onde. Para piorar, você é monitorado por intérpretes impostos pelo governo”.
Além dos vistos negados, vozes independentes e opositoras ao governo sofrem com ameaças. A Radio Free Europe/Radio Liberty afirma que seu serviço em persa, a Radio Farda, registrou, apenas em maio, nove casos de funcionários e seus parentes assediados pelo governo iraniano.
Calando vozes
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas acusa o governo de tentar – ao negar vistos, ameaçar jornalistas locais e bloquear sites – evitar que os cidadãos iranianos tenham acesso a informações importantes. “O regime iraniano teme qualquer voz que possa desafiar seu discurso oficial, seja a de um jornalista local ou de um jornalista internacional em um hotel de Teerã”, afirmou esta semana Rob Mahoney, vice-diretor da organização, com sede em Nova York. “Sim, eles usam táticas diferentes para restringir [o trabalho de] jornalistas internacionais, mas o efeito é o mesmo: é negado o acesso de informações essenciais a eleitores iranianos antes do pleito”.