O Granma, jornal do Partido Comunista de Cuba, surpreendeu esta semana ao publicar uma matéria de capa sobre o 15º aniversário do protesto que ficou conhecido como ‘Maleconazo’, em um período em que o país vivia depressão econômica após o fim da União Soviética. O evento não foi divulgado pela mídia local na época e em todos estes anos pouco foi falado, oficialmente, sobre ele. Desta vez, o tom usado foi inusitado, pois descreveu o protesto como uma vitória da Revolução Cubana – ativistas anti-Fidel, por outro lado, sempre classificaram a manifestação como um dia de resistência ao governo comunista. A Revolução Cubana é como ficou conhecido o movimento popular que consistiu na derrubada do governo de Fulgêncio Batista pelo Movimento de 26 de Julho, com Fidel assumindo o poder, em 1959.
No verão de 1994, combustível e comida eram bens escassos na ilha, que enfrentou períodos de falta de energia, impossibilitando o uso de ventiladores, ar-condicionado e bombas de água. Muitos cubanos, em desespero, chegaram a procurar embaixadas estrangeiras para pedir asilo e seqüestraram barcas para tentar fugir para os EUA. No dia 5/8, depois que a polícia tentou impedir o seqüestro de uma barca, centenas de cubanos invadiram o Malecón, calçadão à beira-mar em Havana, pegando rochas e restos de obras para atirar em policiais. A multidão gritava ‘Liberdade’ nas ruas, no que representou uma das poucas ameaças internas sérias ao regime.
Interferência
Os manifestantes só acalmaram quando Fidel chegou ao local do confronto em um jipe. Sua aparição pública fez com que alguns cubanos deixassem no chão as pedras para aplaudi-lo. O artigo no Granma, esta semana, traz uma foto do comandante em seu traje verde-oliva ouvindo o povo. A publicação classificou o protesto como o prevalecimento do governo sobre aqueles que, ‘incentivados pelos EUA, perturbaram a ordem pública, de maneira violenta, no Malecón’. ‘Não foi, como Fidel disse, um dia ruim para a Revolução, mas um dia de reafirmação revolucionária’, escreveu o Granma. Ainda assim, o jornal reconheceu que foi ‘um momento de grande tensão’. Na realidade, a tensão foi tanta que Fidel chegou a abrir brevemente as fronteiras da ilha, deixando para trás esforços de impedir cubanos de fugirem em barcos para os EUA. Quase 37 mil habitantes tentaram atingir a costa americana, em qualquer objeto que flutuasse.
Tabu
Não foi a primeira vez, entretanto, que houve um reconhecimento público do evento de 1994. No primeiro aniversário do protesto, Fidel apareceu na TV estatal para dizer que cubanos não deveriam nunca esquecer aquele dia. ‘Eu vim porque tinha que vir. É fundamental estar com o povo em um movimento no qual o inimigo trabalhou por um longo período para perturbar a ordem’, disse Fidel, em 1995. Depois disso, menções ao evento, na mídia controlada pelo Estado, foram raras.
Em 2008, Fidel deixou a presidência – assumindo seu irmão, Raúl. Há rumores de que sua saúde não vai bem. No dia 13/8, ele completará 83 anos. A atual crise global atingiu Cuba e autoridades já impuseram racionamento de energia em prédios do governo. Raúl também informou que poderão ser cortadas verbas para as áreas de saúde e educação. Informações de Will Weissert [Associated Press, 5/8/09].