Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Grupo Mirror realizou escutas ilegais em escala industrial

Um segundo escândalo envolvendo grampos telefônicos faz o caso do tabloide News of the World parecer brincadeira de criança. Descobriu-se que os títulos Daily Mirror, Sunday Mirror e Sunday People – todos de propriedade do grupo Mirror Group Newspapers, maior editora de jornais do Reino Unido – realizaram, durante dez anos, escutas telefônicas ilegais numa escala que foi caracterizada como “industrial”.

As provas vieram à tona durante um julgamento por invasão de privacidade, aberto por oito reclamantes – dentre os quais a atriz Sadie Frost, o ex-jogador de futebol Paul Gascoigne e Alan Yentob, diretor criativo da BBC, além de atores de novelas britânicas, produtores de TV e até mesmo uma comissária de bordo.

Monitoramento dia e noite

Em depoimento ao tribunal, o ex-jornalista do Sunday Mirror Dan Evans – que interceptou os telefonemas de cerca de cem celebridades todos os dias entre 2003 e 2004 – contou que foi apresentado às escutas ilegais por dois jornalistas sêniores do grupo editorial (cujas identidades não foram reveladas por motivos legais) e que os celulares usados nas atividades ilícitas eram jogados no rio Tâmisa a cada dois meses.

David Sherborne, advogado das oito vítimas que abriram a ação, disse que a obtenção ilícita de informações pessoais e o uso de investigadores particulares para vasculhar a vida de celebridades eram generalizados e algo habitual entre um grande número de jornalistas dos três principais títulos do grupo Mirror.

De acordo com Sherborne, entre junho de 2002 e meados de 2006, os jornalistas do grupo realizaram cerca de 10 mil chamadas para a plataforma de correio de voz da empresa de telefonia Orange, um serviço de caixa postal que permite acesso por telefones remotos através da inserção de dados pessoais.

Sadie Frost, por exemplo, chegou a ser monitorada diariamente – muito do interesse por sua vida, na época, deveu-se a seu casamento com o ator Jude Law e a sua amizade com a supermodelo Kate Moss. Uma das matérias a seu respeito revelou que a atriz frequentava o Alcoólicos Anônimos.

O Mirror admitiu que 49 reportagens do Sunday Mirror, 40 do Daily Mirror e 23 do Sunday People (publicadas entre junho de 2000 e outubro de 2006) foram fruto de interceptações telefônicas ilegais. O grupo também admitiu que 99 artigos relacionados aos oito autores do processo não teriam sido publicados casos seus telefones não tivessem sido grampeados.

Pedido de desculpas

Matthew Nicklin, o advogado do grupo Mirror, frisou que a empresa já se desculpou com os autores do processo antes que o caso fosse a julgamento. Ele minimizou os danos, no entanto, alegando que a descoberta das invasões não poderia ser classificada como algo “danoso em longo prazo, nem equiparado a traumas causados por assédio ou discriminação”.

O grupo só admitiu os atos ilícitos em setembro de 2014; a partir daí criou um fundo de compensação no valor de 12 milhões de libras a fim de indenizar as vítimas de invasão. Em fevereiro de 2015, o Mirror também publicou um pedido de desculpas em seus três principais veículos.

O julgamento ainda não chegou ao fim.