Para a Tribune Company, chegou a hora de ir além do impresso. Desde que saiu da falência, há seis meses, o grupo americano tem avaliado a venda de seus jornais, que incluem o Chicago Tribune e o Los Angeles Times. Além disso, passou a ser dirigido por um executivo de TV, Peter Liguori. Esta semana, a Tribune acelerou seu processo de transformação de uma empresa de jornais para um grupo de radiodifusão quando concordou em pagar US$ 2,7 bilhões (mais de R$ 6 bilhões) por 19 emissoras locais da Local TV Holdings. O acordo quase dobra a presença de TV do grupo nos EUA, tornando-o um dos maiores proprietários de afiliadas locais no país.
A onda de consolidação da TV local tem vantagens. Grandes empresas compram emissoras para colher as lucrativas taxas de retransmissão que recebem de empresas de cabo e satélite – que devem chegar a US$ 3 bilhões este ano e a US$ 5 bilhões até 2016. Quanto mais emissoras uma empresa tem, maior a influência nas negociações com parceiros de programação e distribuição. Isso sem falar que ter mais emissoras dá a empresas como a Tribune mais exposição em estados nos quais a batalha política é mais acirrada, com candidatos gastando grandes quantias de dinheiro em propaganda na TV de dois em dois anos.
No mês passado, o grupo Gannett comprou a Belo Corporation, acrescentando 20 emissoras às 23 que já tinha, e reduziu sua dependência em jornais, como o USA Today, seu carro-chefe. A Sinclair, uma das grandes proprietárias de emissoras no país, gastou US$ 2 bilhões na compra de pequenas estações de TV no último ano e meio. “É hora de devorar ou ser devorado”, resume Steve Ridge, consultor para emissoras locais na firma de pesquisa estratégica Frank N. Magid Associates.
Aposta segura, mas nem tanto
O acordo da Tribune, no entanto, supera todos os anteriores, e o financiamento que o grupo recebeu de bancos reforça a crença de que as emissoras são vistas como uma aposta segura. “A nova direção [da Tribune], pós-falência, assinala claramente que está focando no negócio de emissoras”, observa Alan D. Mutter, consultor de jornais que escreve o blog Reflections of a Newsosaur. Ele alertou, no entanto, que esses lucros podem não durar muito. “As emissoras locais vão ser o próximo grande legado da mídia a passar pelo que chamamos de ‘mudança de paradigma dolorosa’. Atualmente me questiono por que todos estão correndo para o mercado de TV local”. Como uma pequena evidência disso, a Allbritton, que é proprietária de oito emissoras locais de TV, está pensando em vendê-las para se concentrar no site Politico e em outros negócios de mídia digital.
Para Craig Aaron, presidente do grupo Free Press, que defende uma imprensa livre, a Comissão Federal de Comunicações precisa despertar para estas aquisições no mercado de TV local – já que estes canais ainda são a principal fonte de notícias nos EUA. “Wall Street pode estar muito feliz com essa mania de fusões, mas o resto de nós deveria estar muito preocupado em ter um número menor de pontos de vista no ar e poucos repórteres em campo”, alerta. Sete das 19 emissoras da Local TV são afiliadas da rede Fox – a Tribune já tinha sete, o que faz do novo grupo o maior proprietário de afiliadas Fox.
Em discurso para investidores, Liguori disse que o acordo daria à Tribune um maior alcance para sua programação e iniciativas digitais. Ele também falou dos potenciais benefícios para o canal a cabo WGN America, que está disponível em 75 milhões de lares em todo o país. A Tribune espera que a maior influência, com o aumento no número de canais locais, ajude a aumentar também as taxas de assinantes para a WGN.
Já os jornais da Tribune estão com menos prestígio. Desde o ano passado, o grupo avalia a venda de seus títulos. Não está claro, ainda, se eles serão vendidos em conjunto ou separadamente. Dentre os que já mostraram interesse no Los Angeles Times estão Eli Broad; os irmãos David e Charles Koch; Rupert Murdoch; e Aaron Kushner, publisher do Orange County Register. No passado, Warren Buffett disse que gostaria de comprar um dos jornais pequenos da Tribune, o Morning Call.