Certa vez, o economista bengali Muhammad Yunus, Nobel da Paz e criador do Banco dos Pobres, se viu cercado por um grupo grande jovens. Há anos, Yunus pregava a importância de que estudassem, largassem os eventuais subempregos e tivessem uma profissão. Agora, formados, cobravam do incentivador famoso os sonhados empregos qualificados. Yunus, com sua tranquilidade hindu, respondeu com uma pergunta: “Quem disse que vocês devem pedir emprego? Estamos no século XXI, a função de vocês é gerar empregos”.
Há seis meses, com as amigas Liana Melo e Valquíria Daher, lançamos o Projeto #Colabora. Uma plataforma jornalística digital, sem fins lucrativos, sem vinculação partidária, e que se propõe a enxergar o mundo com outros olhos. Acreditamos que ele pode ser mais criativo, tolerante, generoso e, principalmente, colaborativo. Dias antes do lançamento resolvemos convidar alguns amigos para escrever reportagens ou artigos para o projeto. Os temas eram livres, mas precisavam ser inéditos.
No início, tivemos cerca de 30 colaboradores. Eles vieram para a festa de criação do novo produto e, felizmente, nunca mais foram embora. Hoje são cerca de 130 e todas as semanas chega alguém. São jornalistas, em sua maioria, mas também há muitos especialistas e gente comum que tem uma boa história para contar. Eles vêm de todos os cantos do país e de todas as partes do mundo. Gente jovem em busca de oportunidade e profissionais experientes que achavam que o jornalismo havia acabado e que nunca mais escreveriam na vida. Não dá para dizer exatamente que estamos gerando empregos, como defendia Muhammad Yunus, mas, sem dúvida, estamos fazendo a roda girar.
E essa, talvez, seja uma das lições que a crise econômica, a crise política e, principalmente, a crise da indústria jornalística nos traz. O mundo mudou. Os tempos das grandes redações, dos empregos perenes, do horário de entrar e da falta de horário para sair, das funções claramente definidas, acabaram. Não basta saber escrever, editar e/ou fotografar. É preciso escrever, editar, fotografar, produzir vídeos, maximizar a audiência nas redes sociais, captar financiamentos, buscar apoios…
Quantos de vocês já não ouviram essa frase numa redação? “Se eu gostasse de fazer contas não teria cursado jornalismo”. Pois é, hoje não dá para viver sem fazer contas. E não são apenas as de somar e subtrair. É preciso dividir tarefas e multiplicar o número de parceiros. E essa é uma segunda lição: o mundo é, precisa ser e será, cada vez mais colaborativo. Ninguém vive sozinho. Quem ainda acredita na máxima do “faça seu, que eu faço o meu”, está morto. Os quase 130 colaboradores que temos hoje, na verdade, são quase 130 empresários, pequenos empresários, que trabalham em rede e fazem tudo isso ao mesmo tempo.
Na próxima quarta-feira, dia 18, eu e um grupo de jornalistas empreendedores estaremos na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) participando de mais um encontro do Reinventar JornalistasRJ. Guardadas as devidas proporções, estaremos repetindo a conversa que reuniu os jovens de Bangladesh e o Nobel da Paz. Sem a fundamental presença deste último para nos inspirar. Pedir emprego, gerar emprego, buscar atalhos, mudar de rumo, são temas que naturalmente angustiam os jornalistas neste momento.
Costumo dizer que muitos de nós estavam despreocupados, tomando um tranquilo banho de mar e foram tragados por uma onda gigante. Ainda estamos no meio do “caixote”, sem conseguir botar os pés no chão e tirar a areia do rosto. Não sabemos exatamente o que vai acontecer. Pessoalmente, acho que duas coisas não mudaram e farão muita diferença depois que a onda passar: qualidade e credibilidade. Quem seguir firme por essa trilha estará ainda mais forte para furar as próximas ondas.
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Agostinho Vieira, jornalista e um dos criadores do Projeto #Colabora