John Stewart, apresentador do programa jornalístico / humorístico Daily Show, no canal americano Comedy Central, resolveu virar crítico de mídia na semana passada. Em seu programa de quinta-feira (12/3), ao entrevistar o comentarista financeiro da rede CNBC, Jim Cramer, Stewart bateu duro. A entrevista era esperada, já que o apresentador havia criticado a cobertura feita pela CNBC sobre a crise financeira, alegando que foi muito boazinha com membros do alto-escalão das grandes empresas e com funcionários-chave do governo. Stewart citou especialmente Cramer, que apresenta o programa Mad Money, como um dos principais responsáveis pela cobertura falha.
A entrevista da semana passada, portanto, teve audiência 17% mais alta que as edições regulares do programa. Foram 2,3 milhões de telespectadores – no segundo mais assistido Daily Show do ano, logo atrás da posse de Barack Obama, com público de 2,6 milhões. E o programa virou uma verdadeira guerra de palavras. Segundo a crítica de TV do New York Times, Alessandra Stanley, o objetivo de Stewart não era ouvir as respostas de Cramer, mas atuar numa espécie de ‘ritual catártico de indignação e punição’. Para ela, o apresentador tratou seu convidado como um ‘executivo-chefe prestes a testemunhar diante do Congresso’.
Irritação
Stewart deixou clara sua frustração com a cobertura, acusando emissoras a cabo como a CNBC, especializada em temas financeiros, de não apenas falhar em prever a crise de crédito, mas de tomar o lado dos banqueiros e ajudar a inflar a bolha. ‘Eu entendo que você queira fazer dos temas financeiros algo divertido’, afirmou ele a Cramer, que se define um especialista em Wall Street que compartilha conhecimento para ajudar o público a tomar complicadas decisões sobre investimentos. ‘Mas isso não é um jogo. Quando o assisto, não consigo nem dizer o quanto fico irritado’, completou.
Cramer, por sua vez, passou a maior parte da entrevista tentando parecer cordial, apesar do tom acusatório de seu entrevistador, que aproveitou para exibir clipes do Mad Money com projeções errôneas. Ele concordou que podia ter feito um trabalho melhor, e assegurou que o fará daqui para frente, mas ressaltou que não errou com objetivos escusos. ‘Todo mundo errou. Eu entendi muitas coisas de maneira errada’, defendeu-se. No fim, os dois pareceram concordar que a mídia especializada em notícias financeiras deve rever seu foco e passar a questionar de forma mais dura e direta os responsáveis pelas grandes corporações e pelas decisões econômicas do governo. Informações da Reuters [13/3/09] e do New York Times [13/3/09].
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