Edição especial do jornal russo Novaya Gazeta marcou um ano da morte da repórter Anna Politkovskaya com a revelação de que já se conhece a identidade do homem que a assassinou. Ele ainda não foi encontrado e preso, e não se sabe quem foi o mandante do crime, mas a informação já é um avanço na investigação do caso, afirma o editor-chefe do jornal, Dmitry A. Muratov.
O assassinato de Anna Politkovskaya, apenas mais um em uma onda de crimes contra jornalistas na Rússia nos últimos anos, chocou o país e chamou a atenção internacional para um problema grave: a cultura da impunidade desde que o presidente Vladimir Putin subiu ao poder, há sete anos.
Anna, crítica ferrenha do governo e do presidente, foi executada a tiros em 7/10/06 no elevador do prédio onde morava, em Moscou. Para o Novaya Gazeta, sua morte se provou um desafio. Também crítico ao Kremlin, o jornal tem acompanhado de perto o trabalho dos investigadores federais e, em paralelo, conduz sua própria investigação. O objetivo da pauta, diz seu editor, não é mais informar o público sobre o andamento do caso, mas conseguir punir os culpados pelo bárbaro crime.
Artigos especiais
No fim da semana passada, editores e repórteres davam os toques finais para uma edição especial de aniversário da morte da jornalista. Nos dois principais artigos, uma entrevista com o promotor que coordena a investigação, Petros V. Garibyan, e um relato de abuso ocorrido em 2002 que, se não ficasse impune, poderia ter evitado a morte de Anna. Garibyan conta na entrevista que há 10 homens sob custódia e confirma que a identidade do assassino é conhecida.
Já no texto ‘Anna e o Palhaço’, é descrito o sofrimento de Eduard Ponikarov, espancado em 2002 por diversos homens, entre eles o major Pavel A. Ryaguzov, da agência de inteligência FSB (ex-KGB). Segundo o jornal, Ryaguzov queria torturar Ponikarov para intimidá-lo e obrigá-lo a se tornar um informante da FSB, sob o codinome ‘Palhaço’. Mas o homem sobreviveu à sessão de tortura e prestou queixa formal. Apesar de identificados, os agressores não foram punidos. O major Ryaguzov, posteriormente promovido a coronel, é um dos suspeitos detidos no caso de Anna Politkovskaya. Ele é acusado de informar os assassinos sobre o endereço da jornalista. Se ele tivesse sido preso em 2002 por abusar de Ponikarov, afirma o Novaya Gazeta, ‘talvez Anna Politkovskaya ainda estivesse viva’.
Homenagens e protestos
No domingo, manifestantes e amigos de Anna compareceram a homenagens à jornalista e a uma passeata anti-Kremlin. ‘Ela foi morta porque era independente e corajosa’, afirmou durante o evento Lyudmila M. Alekseyeva, que preside um grupo de defesa aos direitos humanos. ‘Ela lutou contra violações da lei, contra mentiras e violência’. Muitas das pessoas que discursaram disseram temer que o governo atrapalhe uma investigação limpa sobre o assassinato.
Em agosto, o procurador-geral russo Yuri Chaika afirmou que o crime teria sido ordenado do exterior com o objetivo de desestabilizar a Rússia. O editor-chefe do Novaya Gazeta, Muratov, declarou na semana passada que não há evidências de envolvimento estrangeiro e que ele acredita que Anna teria sido morta porque investigava casos de corrupção na Rússia. ‘O poder criou um clima onde jornalistas são inimigos, a democracia não é regra e há uma nova elite para quem tudo é permitido’. Informações de C.J. Chivers [The New York Times, 7/10/07].