O artigo ‘Por que publicar imagens de morte?’, assinado pelo editor do Pittsburgh Tribune-Review Frank Craig [22/6/04], fala sobre as dificuldades dos editores para tomar decisões quanto ao uso de fotografias perturbadoras e repulsivas. Craig cita o caso do refém americano Paul Johnson, decapitado na Arábia Saudita há algumas semanas.
O editor decidiu publicar na edição de sábado, 19/6, uma declaração dos terroristas sauditas que decapitaram Johnson e três fotos do refém morto. Pela natureza do material, Craig sentiu que tinha o dever de explicar aos leitores do jornal porque tomou a decisão de publicá-lo. ‘Tomei a decisão depois de consultar muitos editores do Trib e outros membros da equipe. Alguns concordaram comigo, outros não’, conta ele. O debate sobre as fotos levantou inúmeras questões na redação do jornal. Seriam as imagens muito perturbadoras para os leitores? Iria parecer sensacionalismo? A divulgação do material não ajudaria os terroristas a espalhar sua mensagem?
‘Por todas estas preocupações, eu resolvi publicar a carta e as fotos em uma página interna, em preto e branco, e em um tamanho bem menor do que o original. Adicionei a tradução à carta dos terroristas e inseri, na primeira página, um aviso aos leitores sobre o material que encontrariam dentro do jornal’, conta o editor. Craig diz que tem consciência de que todos estes cuidados que tomou não minimizam o horror da morte brutal de Johnson ou protegem os leitores – principalmente os jovens leitores – da repulsa que a maioria das pessoas sente ao ver os detalhes das imagens.
Então, por que publicá-las?
Simplesmente porque a declaração dos terroristas e as fotos da morte de Johnson ‘revelam a brutalidade, a falta de humanidade e o perigo mortal com o qual estamos lidando’, diz Craig. ‘Palavras não conseguem, sozinhas, traduzir a selvageria e a frieza do ato’.
Para o editor, os americanos devem conhecer e ter noção deste perigo. Em seu artigo, ele cita ainda as imagens dos abusos cometidos por soldados americanos contra prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib. Cita também as mortes do empreiteiro Nicholas Berg, decapitado no Iraque, e dos quatro americanos queimados, mutilados e pendurados em uma ponte em Fallujah.
‘Estes assassinatos foram calculados, cuidadosamente planejados e friamente executados. Quase incompreensivelmente, seus executores gravaram seus atos de selvageria para mostrá-los ao mundo’, diz Craig. ‘Se nós perdermos esta guerra [contra o terror], ou se optarmos por não lutá-la, estaremos concordando com as barbaridades praticadas pelos executores de Paul Johnson’.
‘As fotos publicadas na edição de sábado deveriam ofender e horrorizar você’, diz ele ao leitor. ‘Eu espero que elas também te ajudem a compreender a mentalidade do inimigo e a extensão do perigo que enfrentamos’, conclui.