Alguns dos principais veículos de comunicação americanos decidiram classificar os repetidos rompantes de violência no Iraque de ‘guerra civil’, apesar da insistência da Casa Branca de que os conflitos ainda não chegaram a este ponto. A NBC News é a mais recente organização a adotar o termo. Na semana passada, a emissora passou a dizer que a violência entre muçulmanos xiitas e sunitas combinada à inabilidade do governo de controlar os confrontos pode, sim, ser definida como guerra civil.
Segundo Mat Lauer, apresentador do matutino Today, na NBC, a emissora ponderou cuidadosamente se o termo seria apropriado à atual situação iraquiana. ‘Nós não acordamos em uma manhã de segunda-feira e dissemos: ‘vamos chamar de guerra civil!’’, explicou o apresentador. ‘Nós deliberamos e consultamos diversas pessoas’.
De acordo com o general aposentado Barry McCaffrey, que atua como analista militar na NBC News, uma guerra civil pode significar pelo menos dois lados opostos que usam de violência com motivação política em um país onde o governo não consegue interromper o conflito. ‘Não há mais dúvida de que o Iraque está em guerra civil, onde os líderes das duas principais comunidades, xiita e sunita, fomentam a violência’, escreveu o editor internacional da revista Newsweek, Fareed Zakaria.
A Editor & Publisher, publicação que cobre a indústria de mídia, descreveu a decisão de alguns veículos de usar o termo ‘guerra civil’ como um momento de ‘virada’. ‘Aparentemente, o caos e a carnificina das últimas semanas finalmente convenceram alguns a usar ‘guerra civil’ sem pedir desculpas’, afirmou a revista. Há duas semanas, centenas de pessoas foram mortas em variados ataques a bomba no país.
O New York Times passou a usar o termo pouco depois de afirmar que o Iraque estava ‘à beira de uma guerra civil’, e o Los Angeles Times parou de usar aspas para se referir à violenta situação no país. ‘Nos EUA, o debate sobre o termo é raivoso porque muitos políticos, especialmente aqueles que apóiam a guerra, acreditam que haveria implicações políticas domésticas ao se declarar guerra civil no Iraque’, afirmou o influente diário. ‘Eles temem que uma concordância por parte da Casa Branca e de seus aliados seria admitir a falha da política do presidente Bush com relação ao Iraque’.
Guerra civil não: expressão das diferenças
O governo americano já rejeitou o termo publicamente por diversas vezes. ‘O que você tem é violência sectária que parece ser menos voltada a ganhar controle total sobre uma área do que a expressar diferenças, e também com o objetivo de desestabilizar a democracia – o que é diferente de uma guerra civil, onde os dois lados se enfrentam por território e supremacia’, afirmou na semana passada o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.
A declaração foi corroborada por Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. ‘A situação é muito séria, mas nem o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, nem nós acreditamos que o Iraque está vivendo uma guerra civil’, afirmou. Informações de Catherine Hours [AFP, 28/11/06].