Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Indústria cinematográfica censurada

O Conselho Supremo da Revolução Cultural – comitê de clérigos islâmicos liderado pelo presidente iraniano ultraconservador Mahmud Ahmadinejad – determinou na semana passada que filmes estrangeiros com elementos da cultura ocidental que forem julgados como afrontas à cultura muçulmana estão proibidos no país, noticia Ali Akbar Dareini [AP, 27/10/05]. Segundo o Conselho, a divulgação e a exibição de filmes estrangeiros que propagam idéias leigas, feministas, liberais, niilistas e denigrem a cultura oriental ficam proibidos porque ‘prejudicam e humilham as tradições e cultura orientais’ e promovem ‘poderes arrogantes’ – termo que o governo iraniano usa para descrever os EUA e sua invasão cultural.

Com a decisão, os iranianos sentem uma das primeiras revogações da política de abertura cultural do governo do ex-presidente Mohammad Khatami, que permitiu até que peças teatrais ocidentais fossem encenadas em palcos iranianos. Mas muitos especialistas afirmam que a medida vai apenas fazer com que os iranianos procurem o mercado negro para obter filmes estrangeiros e acesso às emissoras por televisão via satélite. No mercado negro, é possível comprar CDs, DVDs e roupas ocidentais. Nos anos 90, o governo proibiu as antenas parabólicas, mas muitos moradores de Teerã escondem as antenas ou as disfarçam como aparelhos de ar-condicionado.

Iranianos desaprovam proibição

‘A nova medida parece ser parte de uma campanha para fazer com que o Irã volte ao que era nos anos 80, mas isto é impossível’, afirma o analista político Davoud Hermidas Bavand. Ali Reza Raisian, chefe da associação iraniana de diretores de filmes, alega que a proibição vai ter pouco efeito nos cinemas, onde não são exibidos muitos filmes ocidentais, mas afeta drasticamente a televisão, apesar dos canais serem controlados pelo governo e vigiados pelos clérigos. ‘Não é certo combater outras culturas. Impor censura não é o caminho lógico para se resistir à cultura ocidental. Se ocidentais nos tratassem da mesma maneira, nós também não poderíamos levar nossas mensagens e maneira de pensar através dos filmes’, afirmou Raisian. Para Ahmad Pournejati, ex-membro do Conselho, a proibição vai fazer com que o povo aja baseado em suas interpretações pessoais, pois os termos da medida são vagos e podem ser aplicados a todos os filmes ocidentais.