Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Informalidade e padrão de qualidade

Quando o consagrado pianista de jazz Hank Jones morreu aos 91 anos, em 16/5, o repórter do New York Times Corey Kilgannon, vizinho do músico, ligou para Manny Ramirez, dono do apartamento onde ele morava, para dar os pêsames. Ramirez lhe disse que estava empacotando os bens de Jones para enviar à família e perguntou se ele podia ajudar. Fã de jazz, o repórter, vendo ali uma oportunidade para saber um pouco mais sobre a vida de Jones, concordou.

Kilgannon descobriu que o mestre do jazz morava em um quarto alugado de Ramirez e pedia refeições três vezes ao dia no restaurante que fica embaixo do prédio. Jones, que morreu em um abrigo para doentes, havia deixado o quarto trancado – e a porta teve de ser arrombada. No interior do cômodo, havia uma cama desarrumada, CDs e partituras, um livro de Sherlock Holmes, ternos e gravatas, e um teclado.

O repórter compartilhou o que viu com leitores em seu blog, que ficaram agradecidos por terem informações sobre a vida de um homem que acompanhou Ella Fitzgerald por anos e tocou por décadas com Benny Goodman, Artie Shaw, Coleman Hawkins e Charlie Haden. Já os amigos e familiares não gostaram da imagem de Jones como recluso e alegaram que ele teve sua privacidade invadida, pois o jornalista entrou no quarto e tirou fotos sem a permissão da família.

Permissão

‘Kilgannon rompeu o limite entre reportagem e violação de privacidade? Ele confiou demais em uma única fonte? Há menos padrões de qualidade para o site do NYTimes do que para a edição impressa? Ao satisfazer a curiosidade de fãs de um grande artista, estaria o diário se parecendo com uma revista de fofocas?’, indagou o ombudsman Clark Hoyt em sua coluna de domingo [30/5/10].

Parentes do músico afirmaram que não dariam permissão para um jornalista entrar no quarto. Ramirez, no entanto, disse que consultou um advogado que assegurou que ele poderia limpar o cômodo e lhe disse que isto era o melhor a fazer, pois não era seguro mantê-lo trancado. Kilgannon realmente não pediu permissão à família. Ele sabia que Ramirez – sobre o qual já havia escrito – havia ajudado Jones por anos. Amigos e parentes confirmaram que Ramirez foi um importante apoio para o músico, tendo em vista que a família morava em diferentes cidades. O editor de Kilgannon, Wendell Jamieson, achou que a família sabia da abertura do quarto. Philip Corbett, editor de padrões do diário, disse que o repórter não fez nada de errado, mas poderia ter checado com os parentes antes de publicar o artigo.