Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Internet dá voz aos jornalistas

Depois que o jornalista marroquino Ali Lmrabet escreveu sobre os bens do rei em 2001, ele foi processado por difamação e o artigo lhe custou a carreira: sua revista satírica, Demain, símbolo da imprensa independente do país, foi fechada. Em 2003, Lmrabet passou oito meses na prisão por “ofender a monarquia” e, em 2005, foi proibido de exercer o jornalismo por 10 anos por “ameaçar a integridade territorial”.

Agora, a internet lhe permitiu a volta como editor de um site de notícias de mesmo nome. “Oito anos depois de ser proibido por uma decisão judicial, que foi, na verdade, uma negação real da justiça para silenciar a imprensa independente, o semanário Demain renasceu das cinzas na forma de um jornal eletrônico”, escreveu Lmrabet em seu primeiro editorial no site, no dia 28/3.

Repressão

Nos últimos dois anos, a sanção do regime marroquino à mídia independente ficou ainda mais dura: sentenças de prisão, censura, altas multas e boicotes de anúncios. “Houve uma deterioração significativa à imprensa desde agosto de 2009”, diz Soazig Dollet, encarregado da região do Maghreb pela organização Repórteres Sem Fronteiras. “Uma sanção severa começou no verão depois que o governo censurou TelQuel, revista popular em francês, por ter publicado uma pesquisa favorável ao rei. Mesmo sendo favorável, o governo alegou que a monarquia não podia ser julgada”.

Duas grandes publicações foram à falência no ano passado devido ao boicote de anúncios: Le Journal Hebdomadaire, revista investigativa reconhecida internacionalmente, e Nichane, versão árabe da TelQuel. Mas nos últimos quatro meses, repórteres observam que, ironicamente, o governo está lutando para reverter esta tendência e estabelecer liberdades – desta vez, online. Depois que a primavera árabe chegou ao Marrocos este ano, surgiu o Movimento 20 de Fevereiro, com manifestações pacíficas e o pedido de reformas constitucionais radicais, como a liberdade de imprensa.

Depois que a Le Journal Hebdomadaire fechou no ano passado, o ex-editor Aboubakr Jamai disse que pararia de exercer definitivamente o jornalismo no Marrocos. Mas, dias depois dos primeiros protestos em fevereiro, ele deu início a um site de notícias em francês e árabe, o Lakome.com. O site, admistrado por poucos jornalistas, publica notícias sobre os eventos políticos no país – expondo a brutalidade policial por meio de vídeos filmados com celulares e dando voz a figuras políticas controversas como Nadia Yassine, membro do partido político islâmico proibido Justiça e Caridade. O Lankome.com é o quarto site mais visitado no Marrocos e diz ter 60 mil visitantes por dia. Mas, como outros, sofre com falta de lucros. Até agora, o regime não fechou estes sites. No dia 9/3, o rei Mohammed VI anunciou reformas constitucionais. Informações de Aida Alami [28/4/11].