Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Internet dita caminhos da campanha

Um vídeo anti-Hillary Clinton virou um dos assuntos mais debatidos da campanha presidencial americana, há duas semanas. O clipe, postado no YouTube e rapidamente levado aos telejornais, mostra a senadora democrata como uma ditadora inspirada no livro 1984, de George Orwell. Logo travou-se uma discussão sobre a autoria do vídeo, mas a questão mais importante talvez seja a demonstração que ele deu da velocidade e do poder da internet.

Segundo matéria do USA Today, o autor do clipe acabou perdendo o emprego. Divulgada anonimamente, a crítica a Hillary gerou especulações e acusações de que teria o dedo do também pré-candidato democrata Barack Obama – visto como o maior concorrente da senadora à vaga no partido. A campanha dele negou a autoria, e o criador do vídeo acabou se revelando um funcionário de uma firma de consultoria de informática que tinha Obama como um de seus clientes.

Grande alcance

Segundo analistas de mídia, a repercussão do caso ‘Hillary 1984’ serve de alerta para veículos de mídia tradicional, pois exemplifica como conteúdo que pode ser prejudicial ou até falso é facilmente espalhado para grandes audiências. Tudo em nome de não ficar para trás nas informações divulgadas na internet.

‘Você não pode ignorar algo em que 1,7 milhão de pessoas clicaram e assistiram e ao qual as equipes de campanha e os próprios candidatos responderam’, justifica David Chalian, que comanda a cobertura política da ABC News. ‘Entretanto, nós temos que ser bastante cuidadosos para não dar espaço gratuito para alguém com objetivos obscuros’, completa. ‘Nós acabamos dando mais destaque ao vídeo do que ele teria recebido na rede’, diz o vice-presidente da CBS News, Paul Friedman. ‘Eu não sei como lidar com isso. No fim, resume-se a quanto nós ainda podemos exercitar nosso papel tradicional de ser guardiões sobre o que é justo, decente, factual e correto’.

O vídeo de Hillary não foi um caso isolado. Em outro exemplo recente, o sítio Politico.com errou ao noticiar que o pré-candidato democrata John Edwards iria cancelar sua campanha por causa do câncer de sua mulher – e foi seguido pela Reuters, CNN, NBC e Fox News, entre outros. O Politico posteriormente se desculpou com os leitores, mas a informação inverídica já havia sido repassada para um público significativo, e o estrago estava feito.

O primeiro, e errado

Na internet, ‘você essencialmente tem uma parede pública onde qualquer um pode colocar um cartaz e dizer qualquer coisa’, compara Tom Rosenstiel, do Project for Excellence in Journalism. ‘E se a parede atrai uma multidão, a mídia tradicional escreverá sobre isso’. Segundo ele, o desafio para a imprensa é conseguir dosar a obrigação de reportar algo que se transformou em notícia, ao mesmo tempo em que tem que esclarecer ao público se aquela informação deve ser, ou não, levada a sério.

Bob Steel, professor de ética no Poynter Institute, na Flórida, lembra que rapidez sempre foi um fator importante na prática jornalística. Agora, com a internet, os veículos de comunicação tradicionais devem ter muita cautela ao decidir o que deve ser passado para o público e o que não passa de besteira online. ‘A história de [John] Edwards mostra o quão rápido estes valores [do jornalismo] podem se perder com a pressa’, diz. ‘Não é bom ser o primeiro e estar errado. Não importa se o jornalista atua em uma emissora de TV, em um jornal ou num blog noticioso: ele ainda tem a obrigação de precisão e imparcialidade’. Informações de Peter Johnson [USA Today, 25/3/07].