Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Investidores de olho nos jornalões

Os jornais franceses vivem um momento de crise generalizada. Publicações tradicionais, como Le Monde, Le Figaro e Libération, enfrentam problemas financeiros há alguns anos, impulsionados pela queda da circulação e da receita publicitária. Para completar o quadro, os jornais ainda sofrem com um sistema de distribuição arcaico nas mãos de poderosos sindicatos. Para piorar mais um pouquinho a situação, há o crescimento dos sítios de notícias na internet – o Google News, por exemplo, lançou sua versão francesa no ano passado – e o sucesso dos jornais de distribuição gratuita, como o Metro.

Mesmo que os franceses tenham grande orgulho das obras de seus intelectuais, diz Astrid Wendlandt em artigo para a Reuters [6/12/04], o número de leitores de jornais no país é relativamente pequeno, comparado a outras regiões européias. Para se ter uma idéia, a França caiu para o 31° lugar no ranking mundial de jornais distribuídos por habitante, de acordo com dados da French Society of Newsprint Manufacturers. O Ouest-France, jornal diário mais vendido do país, vende 780 mil cópias por dia; o Le Monde, cerca de 400 mil cópias; o Le Figaro, 350 mil; e o Libération, menos de 200 mil. Enquanto isso, o tablóide britânico The Sun chega a vender 3,4 milhões de exemplares; o Daily Telegraph, 900 mil; o Times vende 650 mil; e o italiano la Repubblica, 619 mil.

Investidas

A crise na imprensa francesa desperta a cobiça dos grandes investidores europeus. A primeira ofensiva ocorreu no início deste ano, quando o magnata do setor armamentista Serge Dassault passou a controlar o conservador Le Figaro, o que levantou preocupações com a independência da imprensa.

Na semana passada, o herdeiro Edouard de Rothschild confirmou que pretende concretizar a compra de 37% das ações do Libération até o fim de dezembro. Para se tornar o principal acionista do jornal, o presidente de uma empresa que organiza corridas de cavalo deverá pagar US$ 27 milhões.

O Le Monde, que nos últimos tempos cortou seções editoriais e dezenas de empregos, também já conversa com investidores. Em destaque nas negociações, como noticia a AP [6/12/04], estaria o grupo Lagardère – que, além de ter sua principal empresa no ramo de equipamentos militares, também detém as maiores editoras da França, entre elas a Hachette e a Fayard, e domina o mercado de revistas do país, com publicações como Paris Match e Elle.

‘Num patamar simbólico, é chocante’, resume Pierre Defassiaux, membro do principal sindicato de jornalistas do país, sobre a tomada da imprensa francesa por grandes investidores. ‘Mostra como está se tornando difícil a manutenção da imprensa independente na França’.