Preso desde julho de 2014, o jornalista Jason Rezaian, diretor da sucursal do Washington Post em Teerã, finalmente conheceu as acusações que o levaram à detenção no Irã. Rezaian foi formalmente acusado de espionagem, de colaborar com governos hostis e de conspirar contra o sistema iraniano.
Durante todo o período detido na penitenciária de Evin, o jornalista recebeu assistência jurídica limitada e só agora foi autorizado a consultar sua advogada, Leila Ahsan; o encontro durou apenas 90 minutos e contou com a ajuda de uma intérprete. Acredita-se que Leila tenha sido a única pessoa fora do judiciário iraniano a ter acesso aos registros da ação contra Rezaian.
Ainda não há data definida para o julgamento do jornalista, que pode pegar até 20 anos de prisão caso seja condenado.
Sem explicação
Jason Rezaian foi preso com sua mulher, a também jornalista Yeganeh Salehi, que é cidadã iraniana, e mais dois fotógrafos freelancers. À época, o governo iraniano não forneceu maiores detalhes sobre os motivos das detenções, nem informou por quanto tempo os quatro ficariam retidos. Rezaian estava em Teerã pelo Washington Post desde 2012 e já vinha realizando coberturas no Irã desde 2008 para outros veículos, como o jornal San Francisco Chronicle.
Já Yeganeh Salehi trabalha como correspondente para uma publicação dos Emirados Árabes Unidos. Tanto ela quanto os fotógrafos foram libertados sob fiança em outubro – no entanto, os três foram advertidos a não comentar o caso.
Complicações diplomáticas
Os Estados Unidos e o Irã não possuem relações diplomáticas formais – rompidas há 35 anos, logo após a Revolução Islâmica –, fato que em geral dificulta a libertação de americanos encarcerados no país. Há anos jornalistas ocidentais têm lutado para obter permissão de trabalho para cobrir notícias locais; muitos terminam presos como Rezaian.
A Casa Branca e o Departamento de Estado americano criticaram o comportamento do governo iraniano no caso do jornalista do Post, porém não houve qualquer intervenção mais enérgica. A intenção agora seria evitar incidentes diplomáticos, por conta das negociações, nos últimos meses, com vista à resolução de uma disputa prolongada sobre as atividades nucleares do Irã.
Acusações na imprensa
Como o nome de Rezaian tem surgido nas negociações entre Estados Unidos e Irã, alguns veículos iranianos com postura anti-norte-americana chegaram a acusar o jornalista de ser um espião ligado a expatriados iranianos nos Estados Unidos e na Europa.
Diversos veículos locais publicaram reportagens longas sobre o caso. A agência de notícias semioficial Fars disse que Rezaian é suspeito de divulgar informações de caráter econômico e industrial, o que se caracterizaria como um ato de espionagem, isto num momento delicado em que as sanções internacionais inflacionaram os preços para os consumidores iranianos.
Já o jornal Vatan-e Emrooz, que apoiava o governo do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, acusou Rezaian de ser colaborador do Conselho Nacional Americano Iraniano (NIAC), um grupo de defesa com sede em Washington que apoia as negociações entre Irã e Estados Unidos. Devido a trocas de mensagens no Twitter, Rezaian foi diretamente associado a Trita Parsi, fundador e presidente do NIAC, e a um de seus assessores, Reza Marashi, ex-funcionário do Departamento de Estado.
Acusações infundadas
A advogada do jornalista declarou que os autos não apresentam nenhuma evidência para justificar as acusações contra Rezaian; Leila crê que o processo se baseia unicamente na perseguição contra jornalistas que tentam fazer coberturas no país. “Jason é jornalista, e é da natureza de sua profissão ter acesso a informações e publicá-las”, afirmou. “Meu cliente, no entanto, nunca teve qualquer acesso direto ou indireto a informações confidenciais para compartilhá-las com ninguém”.
Leila chegou a solicitar que Rezaian aguardasse o julgamento em liberdade, mas o pedido foi negado. A advogada – que também representa a mulher de Rezaian – criticou a cobertura jornalística iraniana, acusando os veículos de estarem desconsiderando a real natureza do caso.
Através de um comunicado, Martin Baron, editor-executivo do Washington Post, classificou todas as acusações contra seu correspondente como “ridículas”.
De acordo com os dados mais recentes do censo anual de jornalistas presos levantado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o Irã está entre os 10 países onde a imprensa é mais censurada, e também é considerado um dos piores cárceres do mundo para jornalistas.