‘‘Bartoon’ da edição do PÚBLICO de 18 de Setembro repetia-se no dia seguinte, assim como era também a mesma a crónica ‘A minha TV’ de 20 e 21 desse mês. Nada disto é novo (a própria coluna de Jorge Mourinha já havia saído também repetida, como o provedor assinalou, em 17 e 18 de Junho). Mas, apesar das chamadas de atenção, constata-se que permanecem por aplicar os elementares sistemas de controlo que poderiam evitar estes e muitos outros lapsos reveladores de um lado mais desleixado na produção do jornal.
Uma das ocorrências mais exasperantes para os leitores são os textos que não acabam. Mesmo com os alertas já lançados acerca deste problema de resolução simples, o mal persiste. Verifiquem-se estes finais: ‘‘O Governo conseguiu estar à altura do próprio Carlos Fragateiro na maneira como o exonerou’ com’ (2 de Novembro, pág. 14); ‘Aqui, Cruise, gordo e calvo, interpreta um agente de’ (P2, 21 de Agosto, pág. 13); ‘conseguiu comemorar o sucesso com um calmo jantar com’ (idem); ‘Como Barreto é um comentador realmente independente, deveria sair da Regra do Jogo, deixando Júdice a falar sozinho com’ (P2, 15 de Junho, pág. 14) ‘Seis horas depois a Polícia Judiciária deslocou-se ao’ (1 de Maio de 2008, pág. 12).
O leitor Luís Filipe Lopes explica a frustração de se chegar ao fim de um texto e se descobrir que está incompleto: ‘O artigo de Jorge Almeida Fernandes publicado na edição de hoje, 10 de Agosto (P2, pág. 9), não tem conclusão: a última expressão é mas também por ‘nacionalismo – sem fecho de aspas e sem ponto final. Por acaso, Almeida Fernandes é um dos poucos colaboradores que ainda me fazem comprar este jornal. Azar o meu: li o artigo e, chegado ao seu termo gráfico, fiquei a ignorar o que lhe faltava para o termo lógico (uma palavra, um parágrafo, duas páginas?). Sinto-me obviamente defraudado: comprei mercadoria deficiente, perdi o meu tempo. Vai o PÚBLICO republicar o artigo, com a conclusão do autor, ou, como tem sido hábito, nem sequer mencionar o erro?’ Desta vez, as palavras em falta saíram em ‘O PÚBLICO errou’ do dia seguinte (obrigando à aquisição de duas edições para se ler o artigo), mas o mesmo não aconteceu nos restantes casos mencionados.
Especial atenção será necessário ter também ao facto de saírem duas edições diárias do PÚBLICO, uma em Lisboa e outra no Porto, sem que por vezes a primeira página esteja articulada com distintos conteúdos na secção Local. Queixa-se Carlos Dantas Teixeira de que a chamada ‘Água do Alqueva contaminada por fontes poluentes’, na 1ª pág. na edição Porto de 29 de Junho, remetendo para a secção Local, remetia de facto para coisa nenhuma. Leitor interessado no assunto e antes nele envolvido, ficou na ignorância do que agora se passava (o provedor confirma que o texto vinha na edição Lisboa, o que mais uma vez obrigaria à compra de dois jornais para o ler).
Outro pormenor a ter em atenção: as legendas de fotografias. Para evitar o que aconteceu na pág. 7 do P2 de 23 de Setembro, onde a foto estava legendada do seguinte modo: ‘Legenda com duas linhas alinhada a uma coluna’.
A propósito de legendas, um leitor anónimo chamou a atenção para a que acompanha uma foto de Sarah Palin na pág. 16 de 24 de Outubro: ‘O urso popular na camisa preserva a marca Alasca’. O leitor confessa que ‘não sabia que o urso polar representado era assim tão popular’.
Por falar em política norte-americana, no dia das recentes eleições presidenciais dos EUA, 4 deste mês (quando se provou que, afinal, o tal urso polar de Palin não era assim tão popular), foi perguntado a várias figuras públicas, para o destaque do PÚBLICO, o que fariam nessa noite e quais as suas espectativas, mas o depoimento de João Gil acabou por ser a reimpressão do de Joana Vasconcelos (ou terá sido o contrário?), sem que tenha havido correcção posterior.
E como estamos quanto à praga de Catual, que os leitores regulares desta crónica conhecerão, dada a denúncia que o provedor tem feito de tal pecha da comunicação pública nacional? Há sinais de que os jornalistas do PÚBLICO estarão agora um pouco mais atentos à armadilha, mas mesmo assim, numa leitura longe de ser exaustiva, foi possível detectar nos últimos meses discordãncias como estas: ‘Esta eleição é uma das coisas mais extraordinárias que alguma vez aconteceu na América’ (frase a abrir um depoimento de Paul Auster na pág. 7 do P2 da passada segunda-feira); ‘Um dos lotes que irá à praça no leilão do espólio de Fernando Pessoa’ (13 de Novembro, pág. 11); ‘Manuel Alegre parece ser dos poucos dentro do PS que continua a pensar por si’ (P2, 12 de Novembro, pág. 2); ‘Era uma das centenas de milhares de pessoas que ali estava’ (P2, 10 de Novembro, pág. 4); ‘Uma das estrelas que mais brilhou durante as décadas de 40 e 50 do cinema português’ (‘Pública’, 9 de Novembro, pág. 6); ‘Esta é uma das coisas que o distingue do actual Presidente’ (1 de Novembro, pág. 7); ‘Esse foi um dos factores que fez a diferença entre Kennedy e Nixon’ (27 de Setembro, pág. 3); ‘Nenhum dos crimes que está imputado à senhora presidente foi cometido’ (11 de Setembro, pág. 8); ‘É um daqueles livros que tem a palavra ‘romance’ bem visível na capa’ (‘Ípsilon’, 29 de Setembro, pág. 2); ‘Um dos bombeiros que chegou ao local do acidente’ (22 de Agosto, pág. 16); ‘Este é um daqueles casamentos que não funciona’ (‘Bartoon’, 19 de Agosto).
Nem estas são as únicas discordâncias regulares. Vejamos as de singular/plural, também muito frequentes: ‘Eles mantém a memória viva’ ( título da capa do P2, 9 de Novembro); ‘O crescimento das cidades levaram a uma recomposição do eleitorado’ (6 de Novembro, pág. 3); ‘A busca de soluções e de propostas para a sociedade são sempre ideológicas’ (1 de Novembro, pg. 44, frase repetida no destaque do artigo); ‘Há quem sustente que o texto destas críticas saíram da boca do próprio Estaline’ (P2, 25 de Setembro, pgs. 2/3; ‘disse ao PÚBLICO que os problemas levantados com a fonética dos signos foi superada’ (24 de Setembro, pág. 5); ‘A idade avançada e os problemas de saúde dos acusados torna imprevisível o desenlace do processo’ (entrada de artigo, 13 de Setembro, pág. 18); ‘O comediante inglês Russell Brand acabou por ser a principal atracção da entrega dos prémios da MTV, que decorreram ontem nos Estados Unidos’ (PUBLICO.PT, 8 de Setembro). O provedor penaliza-se aliás por, precisamente na sua anterior crónica dedicada a este problema (23 de Agosto), ter incorrido no mesmo tipo de distracção (não corrigida na revisão) ao escrever: ‘Iniciativas como a deste blogue, com cidadãos, individualmente ou em grupo, constitui ainda a forma mais eficaz de regulação dos media’.
Depois há ainda outros maus tratos linguísticos que, de tanto reiterados, ameaçam passar a norma. É o caso do uso errado da palavra ‘solarengo’ (relativo a solar, casa nobre ou senhorial) como sinónimo de ‘soalheiro’: ‘A cidade japonesa de Ota, situada num dos locais mais solarengos do país, é testemunha da aposta nas energias renováveis’ (PUBLICO.PT, 11 de Novembro); ‘O tempo foi passando. Solarengo, queimando o pasto e levando o ganadeiro a não pagar o empréstimo’ (24 de Agosto, pág. 8). E agora até temos um clamoroso desconhecimento do tratamento do verbo haver: ‘A disposição das ossadas mostra o cuidado de quem sepultou a família à 4600 anos’ (início de artigo na pág. 21 da passada quarta-feira). Ou da correcta conjugação verbal: ‘O anúncio, segundo a Reuters, vem a público no dia em que blogues liberais norte-americanos terem dito que Sarah teria fingido estar grávida’ (PUBLICO.PT. 1 de Setembro).
E se o rigor é de regra no texto, também o deve ser nos gráficos. Não é aceitável, por exemplo, que num mapa das matas nacionais publicado na pág. 4 da edição de 21 de Agosto, a Mata Nacional das Mestras, nas Caldas da Rainha, apareça localizada no concelho da Marinha Grande, junto a Leiria, ou que Alcobaça esteja a sul das Caldas, surgindo a sua Mata Nacional do Vimeiro perto do Bombarral. (Noutro mapa de Portugal impresso 14 páginas à frente, a propósito de um tema diferente, já surgem correctamente situadas estas localidades).
Regressou-se nesta crónica a um tema já por diversas vezes aqui abordado, o dos detalhes que prejudicam a imagem do PÚBLICO – periódico que se define como ‘orientado por critérios de rigor’, ‘numa tradição europeia de jornalismo exigente e de qualidade’ (do Estatuto Editorial), mas onde muitas vezes se nota a falta do esforço extra que dê sentido a estas palavras. É a falta de melhorias palpáveis que obriga à reincidência.
A História a pente fino
O tratamento das efemérides históricas evocadas nas págs. 2/3 do P2 costuma ser detalhadamente escrutinado pelos leitores, que desmonstram especial atenção à secção. ‘O jornalista faz uma quase exacta síntese do que fora a batalha de Trafalgar’, escreve Luis Manuel Alvarez Garcia a propósito da menção a este evento em 21 de Outubro. ‘Mas a certa altura diz que ‘para chegar ao canal da Mancha, a esquadra franco-espanhola teria de atravessar o cabo de Gibraltar’. Imagino que está a querer dizer ‘estreito de Gibraltar’, porque ninguém atravessa um cabo (?). Mesmo assim, consta que a esquadra franco-espanhola estava em Cádis, a oeste do dito estreito de Gibraltar. Ou seja, só teria que atravessá-lo se fosse para a Turquia, nas antípodas da Mancha. Peço para corrigir este erro geográfico e histórico, em favor das futuras gerações!’
Também José Paulo Vieira de Andrade, dias mais tarde, considerou: ‘Dá a ideia de que a esquadra francesa e espanhola se dirigia para o Canal da Mancha para se iniciar um desembarque próximo. Nada mais errado, como qualquer pessoa que estude essa batalha e a situação política na Europa no início do século XIX verificará’. Mas a sua preocupação era outra, a evoção, em 24 de Outubro, da conquista de Lisboa aos mouros: ‘Ultrapassa os limites do aceitável. De facto, essa crónica termina afirmando que a nação portuguesa se iniciou com a conquista de Lisboa!’’