O que começou como uma fofoca sobre um affair entre um jogador famoso e uma participante de reality show, no Reino Unido, rapidamente tornou-se uma análise sobre como são os direitos à privacidade e à liberdade de expressão online. Depois de obter uma determinação da corte proibindo a mídia de escrever sobre seu suposto affair com Imogen Thomas, ex-participante doBig Brother britânico, o jogador do Manchester United, Ryan Giggs, que processouo Twitter e seus usuários, pensou que seus problemas tinham acabado, comenta Sarah Lyall [The New York Times, 24/5/11]. A determinação proibiu qualquer veículo de divulgar seu nome, o nome da sua suposta amante, o suposto affair e até mesmo a existência da determinação. Mas o anonimato acabou sendo um objetivo ilusório para o “homem que não deve ser identificado”, como alguns chamaram Giggs, que não contava com a anarquia do Twitter.
No sábado, os fãs do time rival de Giggs começaram a fazer piadas com ele no Twitter. Somente no final de semana passado, seu nome apareceu em mais de 75 mil tweets, mesmo com as organizações de mídia britânicas ainda proibidas de divulgar seu nome na edição impressa. Uma vez obtidas as ordens, os envolvidos são identificados com iniciais randômicas, que não têm nada a ver com seus nomes reais.
Na segunda-feira passada (23/5), ele foi identificado nos jornais e o The Sunday Herald chegou a publicar uma foto sua, alegando que a lei não se aplicava na Escócia. “Francamente, não ligo se Ryan Giggs tenha um affair ou não, mas eu me importo de não poder contar a meus leitores algo que eles não podem descobrir em dois segundos ao ligar o computador”, afirmou Richard Walker, editor do jornal.
Citação de políticos é permitida
No começo da semana, em uma entrevista na TV, o primeiro-ministro David Cameron disse que sabia o nome dele, como todos, e que a determinação não deveria ser revista. Um aspecto curioso da lei britânica é que deputados têm imunidade parlamentar são permitidos a dizer o que querem no parlamento, sem ser processado por calúnia – e a mídia pode reportar sobre seus comentários. Então, quando John Hemming, membro do parlamento, levantou e disse o nome de Giggs na Câmara dos Comuns, parecia ter sido um convite para a mídia divulgar a identidade do jogador.
O Sun então foi à Alta Corte, pedindo a retirada da proibição, alegando que somente poucas pessoas não sabiam que Giggs era o homem em questão. No entanto, o juiz Michael Tugendhat negou o pedido, alegando que a campanha no Twitter demonstrava a real necessidade da determinação. “O fato de que milhares de pessoas nomearam o réu na internet confirma que ele e sua família precisam de proteção da intrusão de sua vida privada”, disse o juiz. Com informações de Claire Cain Miller e Ravi Somaiya [New York Times, 23/5/11].