Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais britânicos em campo de batalha

Deu a louca na imprensa britânica. Há um ano, cada jornal tinha seu lugar definido no universo das bancas. Havia os broadsheets e os tablóides. Os primeiros, em formato tradicional – similar aos maiores jornais brasileiros, como O Globo e Folha de S. Paulo –, cobria os assuntos ‘sérios’ do dia. Aos segundos restava as fofocas de celebridades e as notícias mais grosseiras.

Hoje, o tradicional The Times e o colorido The Sun encontram-se na mesma categoria. Defini-la é complicado. Os jornais britânicos estão no meio de um verdadeiro campo de batalha, onde disputam a atenção – e as libras – dos leitores e anunciantes. No caminho, alguns perderam parte de sua identidade em prol de estratégias para aumentar as vendas.

Estratégias dos grandes

Com a circulação em queda, os broadsheets notaram que o Sun, um tablóide, continuava a ser o jornal mais vendido da Grã-Bretanha. O ‘sérios’ Times e Independent aderiram, no ano passado, ao formato tablóide – leia-se bem: apenas formato, dizem eles. Mas Eric Pfanner, do International Herald Tribune [28/2/05], afirma que, sim, eles também começaram a flertar com a temática celebridade / escândalo que costumavam evitar.

O Guardian planeja mudar seu formato em breve, mas não quer o tablóide; adotará um tamanho meio-termo. Outros títulos investem pesado em novos equipamentos que os dêem capacidade de vender mais espaços publicitários coloridos – e mais caros.

O Daily Telegraph e o Sunday Telegraph, vendidos pela Hollinger International para os irmãos David e Frederick Barclay no ano passado, adotaram uma estratégia diferente, e dolorosa: anunciaram, em janeiro, que irão cortar 90 jornalistas de suas redações – o que representa 17% da equipe – para investir em equipamentos de impressão. O grupo Telegraph também arrumou outra ajuda criativa para os problemas financeiros. Nela, os anunciantes têm participação ativa nos jornais. No mês passado, o grupo chegou a um acordo com a operadora de telefone celular Vodafone. Membros das duas companhias irão escrever, em conjunto, uma seção chamada Business Voice, a ser publicada no Sunday Telegraph.

Disputa e confusão

Enquanto os broadsheets invejam os tablóides, os mesmos também passam por sufoco. Metro, um jornal gratuito distribuído no metrô de Londres, começou a tirar o sono de Rupert Murdoch, presidente da News Corporation, empresa dona do Sun. Quando as coisas parecem já ter atingido seu auge de confusão, elas surpreendem. Diz-se hoje que o Metro ameaça também as vendas do Evening Standard – que lançou há pouco tempo uma edição gratuita, distribuída na hora do almoço. Curiosamente, o ES e o Metro fazem parte da mesma empresa, a Associated Newspapers.

A Associated, por sua vez, encontra-se em conflito com o prefeito de Londres, Ken Livingstone, que há anos briga com os jornais da companhia. No incidente mais recente, o prefeito comparou um repórter judeu do ES, que tentava entrevistá-lo na saída de uma festa, a um guarda de campo de concentração. Livingstone tenta agora desfazer o acordo de exclusividade entre a empresa e o sistema metroviário da cidade. Isso acabaria com o monopólio de distribuição do Metro, já que permitiria que outro competidor entrasse no jogo – especula-se que Richard Desmond, dono do The Express e do tablóide The Star, esteja interessado.

No geral, depois de três anos de queda, a venda de anúncios publicitários está se recuperando e a situação financeira dos jornais britânicos, dizem os analistas de mercado, tende a melhorar.