Devido às baixas taxas de natalidade e ao crescente uso da internet, o declínio dos jornais impressos no Japão é quase certo, especula Blaine Harden, em artigo no Washington Post [25/10/08]. ‘Faço parte de em uma indústria que está morrendo’, diz Kenichi Miyata, editor do jornal Asahi, que tem circulação nacional e tiragem de oito milhões de cópias. ‘Jovens não lêem jornais e nossa população está envelhecendo muito rapidamente’.
Apesar do pessimismo do editor, ainda não está perto o fim da indústria. Os jornais japoneses têm respondido a este cenário de maneira muito sagaz – especialmente quando comparada à imprensa dos EUA, onde constantemente há declínio no número de leitores, nos anúncios e nos lucros, o que vem gerando demissões e corte de custos.
Enquanto a circulação combinada dos jornais americanos caiu mais que 15% na última década, no Japão esta queda foi de apenas 3,2%. Os cinco maiores diários japoneses de circulação nacional mantiveram quase o mesmo número de leitores. O Japão é o maior país do mundo em compradores de jornais, com 624 vendas diárias em cada mil adultos. Este número é duas vezes e meio maior que nos EUA, segundo uma estimativa da Associação Mundial de Jornais. Em média, mais de um jornal é enviado a cada casa no país. O Yomiuri, com tiragem de mais de 10 milhões de cópias, é o maior diário do mundo.
Na última década, um em cada dez cargos de redação nos EUA desapareceu, de acordo com a Sociedade Americana de Editores de Jornais. O Washington Post, por exemplo, reduziu sua equipe nos últimos anos em quase ¼. No Japão, no entanto, não se sabe de demissões em larga escala e de planos de demissão voluntária de repórteres e editores. ‘Não vemos nenhuma diminuição no número de jornalistas’, afirma Megumi Tomita, diretor de circulação da Associação de Editores e Publishers de Jornais do Japão.
Jovens distantes de jornais
O problema é que os jovens japoneses, como os da maior parte de países desenvolvidos, não têm o hábito de ler jornais. O número total de crianças acima de 14 anos e jovens no país vem caindo por 27 anos consecutivos e é o mais baixo desde 1908, segundo dados do governo. Isto significa que cerca de 70% da força de trabalho na segunda maior economia do mundo irá desaparecer até 2050 e a taxa de crescimento econômico chegará próxima a zero, de acordo com o Centro Japonês para Pesquisa Econômica.
Por sua vez, os mais velhos gostam de ler jornais. ‘Para eles, é mais fácil ler o diário que abrir o computador para acessar a internet’, diz Yoshiyuki Hashiba, professor de jornalismo da Universidade Sophia, em Tóquio, que também foi jornalista do diário Mainichi por 30 anos. As pessoas com mais de 65 anos representam 22% da população japonesa, o que faz do Japão o país com a maior proporção de idosos no mundo.
Estes números equilibram a situação e, por enquanto, a circulação de jornais deve se manter estável. ‘Estamos preocupados é com o futuro’, afirma Tomita. Enquanto isso, a indústria jornalística evita transferir o conteúdo do impresso para a rede. ‘Colocamos apenas 20% de nosso conteúdo na internet’, conta Masaki Satsuka, gerente da seção de circulação da associação de publishers e editores. Satsuka viaja freqüentemente com seus colegas de trabalho para os EUA, a fim de estudar as práticas de negócios dos jornais americanos, que investem pesadamente em conteúdo online. ‘A razão para não fazermos isto é porque, pelo menos até agora, não há um modelo que gere lucro suficiente em um sítio’, explica.
Nos EUA, a circulação dos jornais impressos cai 2% ao ano e a maior parte dos sítios atrai um grande número de leitores. No entanto, os lucros publicitários online estagnaram em 2008. Mesmo que haja um crescimento rápido nestes lucros, não será o suficiente para compensar as perdas de receita com o jornal de papel.
Poucos investimentos na rede
Já no Japão, enquanto o jornal impresso continuar a dar lucro, o investimento na versão online terá que esperar. Pelo menos 95% dos leitores japoneses são assinantes de jornais. Nos EUA, as assinaturas correspondem a 70% das vendas. As assinaturas no Japão são responsáveis por 54% do lucro total de um jornal; nos EUA, por apenas 20%.
O esquema de distribuição de jornais é sofisticado no Japão. Para que todos os cantos do país possam receber seus exemplares, são precisas 424 mil pessoas e uma rede de 20 mil escritórios de distribuição. A rede se encarrega de entregar os jornais, recolher o pagamento e ainda convencer mais pessoas a se tornar assinantes. Quando leitores renovam a assinatura, eles ganham um vale-presente ou potes de amaciante de roupas. Em relação a anúncios, houve um declínio de 9% nos últimos quatro anos, pois o Japão vive um período de prolongada recessão. Este ano, especula-se uma queda de 10 a 20%.
Alguns fatores contribuem para o sucesso da quantidade de assinantes: 99% da população é alfabetizada e o índice de confiança dos leitores nos jornais é grande (85% confiam na imprensa, segundo uma pesquisa nacional realizada este mês pelo Yomiuri). Nos EUA, apenas 20% dos leitores acreditam em quase tudo ou tudo o que lêem nos jornais, segundo estudo de 2007 do Project for Excellence in Journalism. ‘Há uma tradição e base cultural para confiança no Japão’, avalia Hashiba. ‘Escrever e ler é mais bem visto do que falar e debater’.