A crise financeira que atinge jornais em todo o mundo parece afetar de maneira mais contundente a imprensa francesa, uma das menos rentáveis da Europa. A tiragem diária de todos os jornais franceses é de oito milhões de exemplares – metade da britânica e um 1/3 da alemã. O diário mais vendido no país é o esportivo L’Equipe. O movimento de vendas de todos os diários franceses caiu de 1.145 bilhão de euros em 2000 para 848 milhões de euros no ano passado. Jornais como Le Monde, Libération e Le Figaro foram seriamente atingidos.
Custa mais para imprimir um diário nacional na França que nos países vizinhos, pois as gráficas são controladas pelo sindicato comunista Le Livre, que tem horários rígidos e proteções trabalhistas. O governo dá, a cada ano, 1,5 bilhão de euros de ajuda direta e indireta à imprensa. Pensando em cortes no orçamento, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, deu início a um debate sobre o papel dos jornalistas e a sociedade, a distribuição dos jornais e a competição com os gratuitos e a internet.
Amizades
Para piorar o quadro, os jornais franceses ainda sofrem com a falta de independência editorial. Em uma pesquisa recente, 57% dos franceses opinaram que os jornalistas não se sentem independentes em relação aos partidos políticos. O presidente vem sendo criticado por conta de suas amizades com barões da mídia, influência sobre entrevistas em TV e rádio, e escândalos sobre censura em publicações de seus amigos. Recentemente, a revista Paris Match publicou por engano uma foto de Sarkozy com três pernas – o que foi uma tentativa atrapalhada de apagar a imagem de um segurança com o programa de computador Photoshop.
Sarkozy acredita que a solução para a crise seria afrouxar uma lei francesa que proíbe que organizações de mídia sejam, ao mesmo tempo, proprietárias de uma grande emissora de TV, estação de rádio e jornal de grande circulação. No entanto, seus oponentes políticos e sindicatos de jornalistas temem que os jornais sejam engolidos por gigantes como o grupo de construção Bouygues, que controla o maior canal privado do país, o TF1 – cujo executivo-chefe é um dos melhores amigos do presidente. Informações de Angelique Chrisafis [The Guardian, 2/10/08].