A recente aprovação, por uma assembléia de funcionários, da venda de uma fatia de 37% das ações do jornal esquerdista Libération a um dos herdeiros da milionária família Rothschild é só mais um indício da crise por que passam os grandes jornais franceses.
Na opinião de Raphael Kahane, em matéria publicada na Business Week [14/2/05], enquanto grandes grupos de países vizinhos, como o espanhol Prisa e o italiano L’Espreso, tomaram medidas para cortar gastos e atrair novos leitores aumentando as páginas coloridas e distribuindo brindes, Le Monde, Le Figaro e Libération seguiram ‘gastando como antes’ e, com isso, não tiveram dinheiro para investir em ‘projetos para aumentar seu público’.
Um dos problemas mais sérios que estes diários têm para reduzir gastos é a forte atuação do Syndicat du Livre, a que estão filiados quase todos os funcionários gráficos e de distribuição. Outro ‘inimigo’ são os jornais gratuitos 20 Minutes e Metro, que contrataram apenas distribuidores não-sindicalizados.
Assim, restou aos grandes jornais franceses recorrer a investidores para tentar se recuperar. O conservador Le Figaro foi comprado pela Dassault, fabricante de armas, e o Libération vendeu parte de seu capital a um Rothschild.
O único ainda intocado é o Le Monde, que registrou prejuízo de US$ 70 milhões no ano passado, trocou de editor e anuncia planos de despedir 90 dos 740 funcionários. Há boatos de que outra empresa do setor bélico, a Lagardère, estaria interessada em ampliar os 15% que detém na publicação, mas a companhia nega que queira assumi-la. O único interesse que as grandes corporações poderiam ter em investir em jornais, neste momento, seria aumentar sua influência política, o que preocupa os jornalistas. A pressão já se fez sentir no Figaro: em agosto, a Dassault pediu que o jornal não publicasse parte de uma matéria sobre uma venda à Argélia de caças Rafale, que ela produz.