Quando Amanda Bennett, editora do Philadelphia Inquirer, soube no mês passado que teria que cortar 75 postos de trabalho na redação – 15% de sua equipe – , sentiu um frio na espinha. Mas, depois de algumas reflexões, ela percebeu que as demissões fariam com que o jornal se reinventasse e isto poderia ser uma vantagem. ‘Esta é uma oportunidade para se repensar desde o conceito da cobertura local aos formatos de distribuição das notícias’, diz Amanda.
Tais reflexões invadiram as redações de jornais nos EUA na medida em que a indústria jornalística enfrenta diminuição na receita com publicidade, queda na circulação e, conseqüentemente, uma onda de demissões – 700 anunciadas desde maio no grupo The New York Times Company; mais recentemente também nos jornais The Boston Globe, The San Jose Mercury News, The Philadelphia Daily News, The Baltimore Sun e Newsday; e nos últimos anos no Los Angeles Times, The Wall Street Journal e The Washington Post. Além disto, a rápida expansão da internet causa uma crise de identidade nos jornais.
O pessimismo em torno da atual situação reflete no valor das ações das empresas jornalísticas em Wall Street. O impacto é maior nos jornais das metrópoles, enquanto nos jornais de cidades pequenas o nível anterior de receita publicitária foi mantido. Nas grandes cidades, os jornais observaram uma queda nos anúncios locais e uma migração de publicidade para a internet. Este êxodo é provocado em parte devido ao aumento das conexões de banda larga, que tornam a navegação mais rápida. De acordo com a empresa de consultoria e pesquisa Forrester Research, 2/3 das casas americanas terão conexões de alta velocidade em 2010, o dobro da quantidade atual.
Anunciantes como a empresa automobilística Ford estão notando como esta tendência de uso dos internautas afeta padrões de compra. A empresa afirma que 80% dos seus clientes compram online – desde a consulta inicial de preços e agendamento de test drives até tirar dúvidas com os vendedores. Tendo isso em vista, a Ford decidiu investir 30% de seu orçamento, estimado em US$ 1 bilhão, em mídias não tradicionais, com 15% destinado à rede. ‘Com a explosão da banda larga, faz mais sentido aumentar os nossos gastos onde possamos achar nossos clientes’, afirma Linda Perry-Lube, gerente de comunicações da Ford. Estas mudanças tendem a acelerar nos próximos anos. De acordo com David Verklin, executivo-chefe da Carat Americas, empresa de serviços de mídia, espera-se que anunciantes invistam de 15 a 20% do seu orçamento na internet nos próximos três anos.
Luz no fim do túnel
Apesar da queda em circulação e publicidade, os jornais mantêm vantagens históricas. O meio ainda atinge uma audiência de massa maior do que as outras mídias tradicionais. De acordo com a Newspaper Association of America, a mais importante entidade representante dos jornais americanos, 52% dos adultos lêem jornal todo dia, enquanto 39% assistem à televisão, 21% ouvem ao rádio no carro pela manhã e 15% assistem à TV a cabo.
Mesmo com os problemas enfrentados atualmente pela indústria de jornais, eles ainda continuam rentáveis. ‘Não chorem pela indústria dos jornais. Eles estão fazendo muito dinheiro, e muitos estão reinvestindo num futuro dinâmico online’, afirmou Dean Singleton, executivo-chefe do MediaNews Group, que publica o Denver Post e o Salt Lake Tribune.
Os jornais estão aprimorando seus sítios, encorajando os repórteres a escreverem blogs e criando maneiras dos cidadãos participarem das notícias com seu próprio material. Eles estão também criando publicações para nichos específicos, incluindo jornais étnicos e diários gratuitos destinados a leitores de 18 a 34 anos. ‘Nós vamos seguir os leitores onde quer que eles nos levem. Se eles nos quiserem na rede, estaremos na rede. Se eles nos quiserem nos celulares ou disponíveis para download a fim de que eles possam nos escutar, estaremos lá’, disse Arthur Sulzberger Jr., publisher do New York Times. Informações de Katharine Q. Seelye [NYT, 10/10/05].