O publisher do jornal chileno Las Ultimas Noticias, Augustine Edwards, conseguiu transformar uma publicação entediante no jornal mais lido do país graças a sua decisão de ouvir ‘a voz do povo’. Há três anos, quando Edwards assumiu a direção do jornal, decidiu que as matérias que tivessem sido mais acessadas em seu sítio na internet (www.lun.com) seriam aquelas que receberiam suítes no dia seguinte. Desta forma, toda a redação recebia o registro dos acessos e pautava seus próximos trabalhos de acordo com os assuntos de interesse do público. Se uma matéria tivesse poucos acessos ela era jogada para escanteio. Este sistema oferece uma medição da opinião pública muito parecida com a medição de audiência das emissoras televisivas, mas é uma experiência única na mídia escrita.
O método é questionado por Danna Harman, em artigo no Christian Science Monitor [1/12/04]. Ela levanta a seguinte questão: quais são as notícias que os leitores chilenos escolhem em uma semana em que doze líderes mundiais estiveram em Santiago para uma reunião importante? Entre as matérias mais acessadas está: ‘Onde o secretário de Estado Collin Powel foi jantar e o que comeu’.
Segundo o editor sênior do LUN, ‘esse processo é experimental, mas como você vai mandar seu jornalista cobrir um ministro chinês quando sabe que os seus leitores vão querer acessar a matéria sobre as garçonetes seminuas que receberam as melhores gorjetas da comissão japonesa?’. Ele afirma que nenhum editor seria capaz de escolher um assunto ‘totalmente desinteressante para o público’.
Mudança cultural
Contudo, observadores vêm este caso como um pequeno setor representativo de um movimento crescente. O diretor da empresa de pesquisas Adimark, Roberto Mendez, disse que ‘o apelo do jornal LUN é indicativo de várias tendências culturais que estão acontecendo no Chile’. O país, que viveu sob a ditadura de Augusto Pinochet de 1973 a 1990, foi um dos mais conservadores e repressores do mundo ocidental. Segundo Mendez, filmes eram censurados, pornografia era banida e reportagens noticiosas eram oficialmente e claramente controladas. A volta à democracia provocou uma grande revolução cultural na qual as atitudes sociais estão mudando, de acordo com ele. ‘Tudo isso está vindo junto com a explosão da internet e o crescimento da prosperidade no Chile’, disse.
Com o novo sistema, os repórteres passaram a competir uns com os outros para ter as matérias mais acessadas. Por conta disso, Edward disse que deve estabelecer um incentivo financeiro com salários que refletem a performance dos repórteres pela quantidade de acesso em suas matérias. Ele acrescentou que os editores irão trabalhar mais como treinadores do que como chefes. Edwards afirmou também que quer seus jornalistas escrevendo para os leitores, e não para ele ou para os editores.