Quando o jornal The Budget entrou na internet, em 2006, a comunidade que ajuda a escrevê-lo ameaçou entrar em greve. Em um mundo onde a informação é cada vez mais veloz e eletrônica, o semanário de 119 anos segue na direção contrária. O Budget, produzido em Ohio e distribuído para cerca de 20 mil assinantes nos EUA e Canadá, serve à comunidade Amish. Os membros do jornal temiam expor de maneira excessiva seu modo de vida à sociedade ‘não-Amish’. Hoje, o jornal até possui um site, que publica apenas obituários e pequenas notícias locais. Seu forte, entretanto, continua a ser o papel.
Ao contrário de outros jornais maiores, o Budget tem conseguido passar confortavelmente pela recessão econômica. A queda no número de assinaturas, que custam 42 dólares anuais, foi de apenas poucas centenas no ano passado. O jornal tem planos de ampliar a equipe, que hoje conta com 12 pessoas. ‘Os leitores dizem que o Budget é a internet Amish’, brinca o publisher Keith Rathbun. ‘É no papel, mas é a mesma coisa’. O jornal é o maior veículo de comunicação entre os Amish, grupo cristão com cerca de 227 membros nos EUA conhecido por costumes conservadores, entre eles restrições ao uso de produtos elétricos e automóveis. A edição local, com notícias sobre a comunidade, uma página dedicada à igreja e outra aos negócios, é enviada por correio para 10 mil assinantes de Ohio.
Cotidiano
Já a edição nacional conta com notas das pessoas da comunidade que ajudam a fazer o conteúdo do jornal. Elas escrevem suas histórias em folhas de papel em branco e as enviam para a redação por correio. A combinação destas notas forma um amplo panorama do cotidiano dos Amish. Alguns falam sobre a chuva dos últimos dias, que ajudou na plantação; outros, sobre o jantar com música que ofereceram para convidados. Há também notícias menos alegres, como a de um menino que teve o braço preso em uma máquina colhedora de grãos e uma família morta em um acidente de charrete.
Os arquivos do jornal, preservados em microfilme, são ‘a história de um povo’, diz Fannie Erb-Miller, que edita as cartas dos colaboradores. Por vezes, uma cópia do Budget é o único registro de um nascimento, já que certidões de nascimento são raras no mundo Amish. Para Don Kraybill, que estuda os costumes do grupo, jornais como o Budget servem como uma cola para a vida da sociedade. Entre os rivais do semanário está o Die Botschaft, fundado em 1970 por pessoas que achavam o Budget liberal demais.
De fato, o jornal pertence a uma família não-Amish que possui lojas que servem à comunidade. Rathbun, que dirige o Budget há oito anos, não é Amish – a família queria levar à publicação alguém com uma perspectiva nova e com experiência em jornalismo. A equipe também não é Amish – apenas as pessoas da comunidade que colaboram semanalmente com as histórias que ajudam a preencher as páginas do jornal o são. Rathbun diz que é preciso sempre cuidado para lidar com seus leitores. Muitos reclamam que notícias sobre esportes, por exemplo, ‘não cabem em um jornal cristão’. Além disso, anúncios de produtos considerados tabu, como cerveja, cigarros e remédios para disfunção sexual, não são permitidos. Informações de Meghan Barr [Associated Press, 17/8/09].