Autoridades iranianas suspenderam a licença e encerraram as atividades do jornal reformista Mardom-e-Emrooz depois que o veículo publicou uma foto do ator americano George Clooney juntamente à manchete “Eu também sou Charlie”. O jornal estava em seu primeiro mês de atividade.
O encerramento da publicação ocorreu após queixas de uma série de meios de comunicação conservadores do Irã, incluindo o jornal diário Kayhan. Membros do Parlamento chegaram a ameaçar impugnar o ministro da Cultura, Ali Jannati, caso nenhuma ação fosse tomada (em geral, os cães de guarda da imprensa no Irã operam sob a chancela do chamado Ministério da Cultura e Orientação Islâmica).
Batalha pela liberdade de imprensa
A agência de notícias estatal IRNA confirmou que o encerramento do jornal se deveu à publicação da manchete, bem como à foto de Clooney usando um broche com os dizeres “Je Suis Charlie” (“Eu sou Charlie”).
Este não foi o primeiro caso de repressão à imprensa local ligado ao atentado sofrido pela equipe do semanário francês Charlie Hebdo. Jornalistas iranianos que expuseram o desejo de demonstrar solidariedade para com as vítimas do ataque em Paris foram proibidos de realizar comícios em Teerã.
Muito embora o governo iraniano tenha estado dentre aqueles que condenaram veementemente o ataque que resultou na morte de jornalistas e cartunistas do Hebdo, as autoridades do país também criticaram as charges que ridicularizavam o profeta Maomé. A capa do Hebdo subsequente ao atentado – a qual mostrava Maomé chorando e segurando uma placa que dizia “Je Suis Charlie” – foi considerada provocativa e um insulto ao Islã.
O site de notícias IranWire disse que a interrupção das atividades do Mardom-e-Emrooz simplesmente realça a batalha interna do Irã pela liberdade de expressão. “O fechamento também aponta para um problema mais amplo: o fracasso [do presidente Hassan] Rouhani na expansão da liberdade de imprensa do Irã de forma mais geral. O movimento revela enormes divisões dentro da paisagem política do Irã”, afirmou o site. “O encerramento do Mardom-e-Emrooz é um lembrete de quão amarga será esta batalha e ilustra o poder dos extremistas radicais”.