Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalão reforça regras para uso de fontes anônimas

Usar fontes não-identificadas não é tão comum no jornalismo brasileiro como no americano. Trata-se de um procedimento delicado: ao mesmo tempo em que permite passar informações importantes que, de outro modo, não estariam na reportagem, pode despertar descrença nos leitores. Demonstrando preocupação com o uso desse recurso, a direção do New York Times [25/2/04] complementou suas regras para citação de entrevistados anônimos e as enviou por circular à redação.

As normas são simples e se baseiam no bom senso da prática jornalística. ‘O uso de fontes não-identificadas é restrito a situações em que o jornal não pode, de outra maneira, trazer a informação que considera confiável e digna de ser notícia’, estabelece o memorando interno. Portanto, não deve ser praticado em matérias corriqueiras, e o anonimato não deve ser oferecido à fonte como forma de conseguir a entrevista – exceção feita a temas muito delicados, em que a vida do entrevistado pode ser prejudicada. Quando se trata de altas autoridades do governo, a não-identificação também pode ser oferecida. Mas, de modo geral, ela deve ser sempre resultado de uma árdua negociação em que o repórter busca ser autorizado a utilizar o máximo de elementos que façam o leitor perceber que, apesar de a pessoa não estar sendo nomeada, ela tem o que dizer a respeito do assunto da matéria.

O texto exemplifica: ‘diplomata americano’ é uma identificação melhor do que ‘diplomata ocidental’. Mas seria melhor ainda usar ‘diplomata americano que participou da reunião’. É desejável citar tudo que situe melhor o leitor. Se a matéria fala de um documento, é bom dizer como ele foi obtido. Se um político fornece alguma informação, mas não quer seu nome no jornal, é importante explicar qual é sua posição com relação ao que comenta.

Situaçòes excepcionais

Se a iniciativa de pedir anonimato vem da fonte, o jornalista deve apurar mais informações para se certificar de que ela não está dando declarações falsas apenas para prejudicar alguém. O repórter nunca pode prometer que uma alegação do entrevistado não será posteriormente investigada ou que outras pessoas não serão ouvidas sobre o assunto. Comentários pejorativos sobre terceiros, quando dignos de menção, não devem ser reproduzidos textualmente. O comunicado do Times explica: ‘A linguagem vívida da citação direta confere uma vantagem injusta a uma fonte que se esconde atrás do jornal’.

Os editores sempre devem estar cientes de quem são as fontes anônimas e manter segredo sobre elas. Eles compartilham com os repórteres a responsabilidade pelo que está sendo publicado – o compromisso do anonimato é de todo o jornal, não apenas de um jornalista. Em casos mais simples, a tarefa de avaliar se um entrevistado não identificado entra numa matéria pode ser delegada a um subordinado do editor da seção.

Um repórter pode, em casos mais delicados, comunicar a identidade de sua fonte apenas a funcionários mais altos da hierarquia do jornal. Esta atitude não deve ser interpretada como falta de confiança na chefia direta. Numa situação excepcional, de extrema delicadeza, o jornalista pode solicitar que identifique sua fonte somente ao editor-executivo. Este, por sua vez, pode pedir apenas algumas indicações de quem se trata o personagem, sem conhecer exatamente sua identidade. Quando uma matéria está sendo tratada por um editor ou copidesque, estes jamais devem mudar a referência a uma fonte não-identificada sem consultar o autor do texto.