A equipe do sítio OhmyNews, exemplo de jornalismo open source (de código aberto) ou ‘jornalismo cidadão’, ocupa apenas dois andares de um pequeno edifício no centro de Seul, mas edita matérias de milhares de ‘jornalistas cidadãos’ por toda a Coréia do Sul, noticia Vanessa Hua [San Francisco Chronicle, 18/9/05].
Os mais de 150 artigos postados diariamente no sítio vão de notícias de última hora até análises políticas sofisticadas, escritas por pessoas que se sentem ignoradas pela grande mídia. Os leitores do OhmyNews podem comentar os textos instantaneamente e – se realmente gostarem da matéria – fazer contribuições em dinheiro. Leitores depositaram quase US$ 30 mil na conta do colunista Kim Young Ok, com contribuições individuais de US$ 10 ou menos, durante uma semana, depois dele ter criticado a Corte Constitucional da Coréia do Sul no ano passado. ‘Eles [os jornalistas cidadãos] são como músicos de rua ou artistas’, diz Jean Min, diretor da divisão de notícias internacionais do sítio.
O OhmyNews é mais do que um palanque, sendo um híbrido de veículo de notícias online e blog sofisticado que faz muito sucesso entre os coreanos. O sítio, que existe há cinco anos, recebe de 1.7 milhão a dois milhões de page views diariamente, e este número atingiu 25 milhões durante as eleições presidenciais sul-coreanas em dezembro de 2002. Quando o reformista de centro-esquerda Roh Moo-Hyun venceu a acirrada disputa eleitoral pela presidência, ele concedeu sua primeira entrevista no país ao OhmyNews – um insulto aos jornais conservadores que apoiaram o candidato rival.
O sítio vem sendo rentável desde setembro de 2003 e espera lucrar US$ 10 milhões este ano, de acordo com Min. O sucesso do OhmyNews pode ser atribuído em parte ao alto nível de engajamento do público na jovem democracia – menos de duas décadas se passaram desde que a ditadura militar acabou no país. Protestos nas ruas são comuns e os cidadãos são ávidos para manifestar suas opiniões online.
Com o slogan ‘cada cidadão é um repórter’, o sítio conseguiu atrair uma audiência de uma maneira que a imprensa e televisão americanas, que vêm sofrendo com a queda de leitores e telespectadores, apenas sonham. O OhmyNews conta com uma espécie de legião de veneradores, dentre escritores que querem ver suas opiniões espalhadas amplamente e leitores que afirmam que só desta forma podem ter acesso a informações não-censuradas.
Uma versão em inglês do sítio foi lançada em maio e já possui centenas de repórteres cidadãos de outros países. Até agora, 36% dos leitores da edição em inglês são da América do Norte, 38,5% da Europa e 16,7% da Ásia (sem contar com a Coréia do Sul). Assim como nos jornais, cerca de 70% da receita do OhmyNews vem da venda de publicidade. Mas em vez do restante vir de assinaturas, como nos jornais, Min afirma que 20% do lucro do sítio é proveniente de vendas de conteúdo para outros sítios, e apenas 10% é oriundo de assinaturas pagas pelo acesso ao conteúdo premium.
Na Coréia do Sul, o OhmyNews ganhou notoriedade e popularidade rapidamente, embora críticos aleguem que sua cobertura possa ser tendenciosa e que o sítio usa mais apelos emocionais do que oferece um fórum de forma neutra aos cidadãos. No ano passado, ele começou uma campanha para levantar fundos para a produção de uma enciclopédia que listaria as pessoas que colaboraram com os japoneses no regime colonial chinês. Quatro ações judiciais já foram abertas contra o sítio, devido a artigos escritos pelos seus colunistas, mas nenhuma foi concluída ainda.
Os repórteres cidadãos recebem de US$ 2 a US$ 20 por cada matéria publicada pelo OhmyNews. Cerca de 76% dos repórteres são do sexo masculino, 20% são universitários, 6% são microempresários e 73% tem de 20 a 39 anos de idade.