A jornalista italiana Giuliana Sgrena, seqüestrada em Bagdá no início de fevereiro e libertada há pouco menos de duas semanas, sugeriu que pode não ter sido acidental o fogo aberto por soldados americanos contra o carro em que era levada ao aeroporto. Giuliana, correspondente do jornal de esquerda Il Manifesto, foi atingida no ombro; o agente especial italiano Nicola Calipari morreu.
O incidente causou mal-estar nas relações entre Itália e EUA. Pela versão americana, o carro em que estava a jornalista teria se aproximado em alta velocidade de um posto de controle dos EUA, e o motorista não reduziu aos tiros de alerta dos soldados. O Washington Times [8/3/05], jornal ultraconservador do reverendo Moon, citou trechos de um memorando do Pentágono que dizia que as forças de segurança italianas não teriam tido cuidado no transporte de Giuliana e que os soldados americanos são treinados para atirar em veículos que se aproximam em alta velocidade.
A jornalista, no entanto, sugeriu que o incidente pode ter tido motivação política, já que os EUA se opõem ao pagamento de resgate de reféns no Iraque. A acusação foi classificada de ‘absurda’ pelo porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. O porta-voz acrescentou que os EUA lamentam o incidente e estão trabalhando em parceria com a Itália nas investigações.
O ministro italiano das Relações Exteriores, Gianfranco Fini, afirmou que os dois países têm versões diferentes para o ocorrido, mas rejeitou a alegação de Giuliana. O ministro da Justiça, Roberto Castelli, da Liga do Norte (partido populista que integra a coalizão conservadora liderada pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, adversária visceral dos comunistas), politizou ainda mais o trágico incidente ao dizer que as declarações da repórter causaram ‘enormes problemas ao governo’.
Calipari, o agente morto no ataque, virou herói nacional na Itália, e milhares de pessoas acompanharam nas ruas o cortejo de seu funeral. Com informações da BBC [8/3/05], da UPI [7/3/05] e da AFP [11/3].