A Suprema Corte espanhola condenou, na segunda-feira (26/9), o jornalista espanhol de origem síria Taysir Alouni, correspondente da rede de TV do Catar al-Jazira, a sete anos de prisão, juntamente com outros 23 homens acusados de pertencer ou ajudar o grupo terrorista al-Qaeda. Alouni, que enfrentava um pedido da procuradoria para nove anos de cadeia, foi julgado responsável por crime de colaboração com organização terrorista, mas absolvido da acusação de integrar a al-Qaeda. O tribunal considerou provado que Alouni ajudou vários membros da al-Qaeda, sem desconhecer esta condição, ‘para obter destes indivíduos informações exclusivas e enriquecedoras sobre esta organização’.
Esta é a primeira sentença decretada a nível mundial pelos atentados de 11/9/01, e servirá como antecedente para o julgamento contra os responsáveis dos ataques de 11 de março de 2004 em Madri. Imad Eddin Barakat Yarkas, de 41 anos, também conhecido como Abu Dahdah, foi condenado a 27 anos de prisão por ter conspirado com os atentados terroristas de 11/9/01 nos EUA e por liderar uma célula da al-Qaeda em Madri.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras se declarou surpresa com a condenação de Alouni. Segundo a organização, as referências freqüentes dos advogados de acusação à entrevista do jornalista com o líder terrorista Osama Bin Laden, em outubro de 2001, não deveriam ter sido usadas como parte da acusação. Os juízes acharam suspeito o fato da al-Jazira ter escolhido enviar Alouni para o Afeganistão e o fato de Bin Laden ter escolhido ser entrevistado pelo jornalista, além de considerar suspeitos os contatos de Alouni com extremistas islâmicos. Os advogados de defesa explicaram que o jornalista era simplesmente o único representante da mídia internacional presente no Afeganistão na época da entrevista. Os RSF ainda alegam que o jornalista sofre de uma doença cardíaca e pedem ao sistema judiciário espanhol que faça o possível para que a prisão não agrave seu estado de saúde.
Em seu sítio, a al-Jazira publicou um comunicado onde também pede às autoridades judiciais espanholas que libertem o jornalista imediatamente, após o pagamento de uma fiança, devido ao seu delicado estado de saúde. A rede árabe afirmou que ‘está em contato com o advogado de Alouni para apoiar as gestões que são feitas para apelar contra a decisão judicial’.
Alouni começou sua carreira jornalística trabalhando como tradutor para a agência de notícias EFE, antes de juntar-se à al-Jazira no final da década de 1990. Ele era chefe do escritório de Cabul quando o mesmo foi bombardeado por forças americanas em 1999. Alouni foi enviado para o Iraque no começo de 2003, onde cobriu a ofensiva dos EUA, e retornou para a Espanha em julho do mesmo ano. Dois meses depois, foi preso e permaneceu sob custódia. Libertado por problemas de saúde, foi novamente detido em novembro do ano passado por causa do risco de fuga. O jornalista havia sido solto em março deste ano, mas ordenado a permanecer em prisão domiciliar até o encerramento do julgamento. Informações de Renwick McLean [The New York Times, 27/9/05], dos Repórteres Sem Fronteiras [26/9/05] e da EFE [26/9/05].