Monday, 30 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalista critica al-Jazira

‘A al-Jazira está tão consumida por ódio pelos EUA e pelo ocidente que preferiria ver o Iraque destruído em um banho de sangue do que permitir que um regime democrático patrocinado por Washington fosse instalado no país’, diz Ralph Peters [New York Post, 21/6/04], em uma espécie de desabafo contra a emissora saudita, intitulado ‘Assassinos com câmeras’.

Segundo ele, a al-Jazira divulga mentiras, omite fatos e glamouriza terroristas islâmicos, encorajando ainda o assassinato de soldados e civis americanos. A justificativa para agir desta maneira? A emissora estaria apenas exercitando sua liberdade de imprensa. Afinal, não foi pela liberdade que o regime sangrento de Saddam Hussein foi derrubado?

Peters rejeita esta resposta. Afirma que pensar desta maneira é ‘estupidez; é abusar de uma perversa exatidão política baseada na rejeição do senso comum’.

‘Quando eu visitei os estúdios da al-Jazira em janeiro, pude notar a falta de interesse em se reportar objetivamente’, conta ele. ‘A equipe inteira só ligava para popularidade e poder. Eles falavam sobre sua tecnologia (‘melhor do que a BBC!’) e sua influência, mas em nenhum momento mencionaram integridade, veracidade ou responsabilidade’.

Repensar conceitos

Para Peters, a liberdade de imprensa ‘é um tesouro da nossa civilização, mas é também um produto dela – produto este que nem sempre é bem exportado’. Segundo ele, a liberdade de imprensa funciona na América por uma série de razões. Entre elas, estão o respeito da mídia pelos fatos; as leis efetivas que punem crimes de ódio e alegações caluniosas ou difamatórias; o orgulho que grande parte dos jornalistas tem de sua profissão; e a competição vigorosa, mas saudável, entre os colegas da imprensa, que os ajuda a manter a qualidade e a honestidade de seu trabalho.

A al-Jazira, diz Peters, não tem esses tipos de controle. ‘Enquanto a emissora glorificar o emir do Qatar, e evitar tudo o que não faça parte de críticas impostas por um grupo determinado de líderes árabes, continuará a incitar o ódio, os assassinatos e genocídios’, protesta ele. ‘Quando falamos em um mídia livre ou uma sociedade livre, esta liberdade vem acompanhada de responsabilidade. E isso a al-Jazira não tem’.

Segundo Peters, ela se tornou o mais poderoso aliado do terror – mais importante ainda do que os empresários sauditas que o financiam. ‘Somos tolos se não reconhecermos isso’.

Em uma época em que a mídia global é um fator estratégico poderosíssimo, ‘nós precisamos reexaminar os conceitos de liberdade de imprensa’, diz o jornalista. Ele defende que a imprensa não interfira ou proteste se o novo governo do Iraque decidir implantar restrições à al-Jazira. ‘Se a guerra contra o terror é realmente uma guerra de idéias, não deveríamos deixar nossos inimigos vencerem com mentiras’, afirma.

Peters termina seu desabafo dizendo que seu argumento contra a emissora não deve ser visto como um argumento contra a liberdade de imprensa, mas sim contra uma ‘propaganda assassina’.