Brian Cathcart, ex-jornalista da Reuters e do Independent e hoje professor de jornalismo na Universidade Kingston, argumenta que o jornalismo está sendo manchado pelos “invasores de privacidade profissionais”. Para ele, coexistem dois jornalismos: um que age em prol do interesse público e outro que serve ao interesse pela luxúria.
Cathcart dá como exemplo o caso do tabloide britânico News of the World,que divulgou um vídeo no qual o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Max Mosley, aparecia em uma orgia com cinco prostitutas, fazendo referências nazistas e com o papel de “comandante de um campo de concentração”. Segundo o professor, isso só se classifica como jornalismo por ter aparecido em um jornal.
Já sobre a cobertura difamatória do desaparecimento da menina Madeleine McCann, em 2007, em Portugal, ele argumenta que oDaily Express foi o grande culpado ao acusar os pais de terem ligação com a suposta morte da filha. “Ninguém foi punido e nada mudou. O editor chegou a ironizar a ideia de que poderia ter havido alguma punição”.
Em relação a grampos telefônicos, Cathcart menciona a tentativa (em vão) do grupo News International em abafar o caso ao pagar uma grande quantia de dinheiro a Gordon Taylor, presidente da Associação de Jogadores de Futebol Profissionais, cujo telefone teria sido grampeado pelo News of the World.
O professor comenta ainda a defesa “curiosa” de casos de invasão de privacidade feita pelo editor do Daily Mail, Paul Dacre, em 2008. Segundo Dacre, os jornais populares deveriam ter o direito de publicar escândalos para que sua tiragem aumentasse e, desta forma, eles conseguissem recursos para publicar jornalismo menos escandaloso. “Isto significa que a intrusão profissional à privacidade é um preço que a sociedade tem de pagar se quiser ficar informada por temas genuinamente de interesse público. Não está certo. Não devemos abandonar o jornalismo com base na ética”, diz Cathcart. “Devemos reforçar a diferença entre os dois jornalismos para beneficiar o público”. Com informações de Roy Greenslade [The Guardian, 15/6/11].