Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista cubano não comparece à cerimônia

Cinco dias depois de a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, ter ocorrido sem a presença do homenageado, o dissidente político chinês Liu Xiaobo, que está preso, a cerimônia de entrega do Prêmio Sakharov pela Liberdade de Pensamento, do Parlamento Europeu, foi realizada em Estrasburgo sem a presença do jornalista e dissidente cubano Guillermo Fariñas. Ele não recebeu permissão para deixar o país, noticia a organização Repórteres Sem Fronteiras [14/12/10].


Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2005, o grupo Damas de Branco de Cuba, formado por mães, irmãs e filhas de prisioneiros políticos do país, também foi proibido de viajar quando ganhou o prêmio. ‘O convite oficial do Parlamento Europeu para ir à cerimônia do Prêmio Sakharov deveria ter sido enviado para mim por autoridades consulares cubanas na França’, contou Fariñas, que recebeu também o prêmio de ciberliberdade da Repórteres Sem Fronteiras, em 2006. ‘Mas um mês se passou e não recebi nada. O documento deve ter se perdido’.


Greve de fome


Fariñas é fundador da Cubanacán Press, agência de notícias independente localizada em Santa Clara. Ele está se recuperando lentamente de ‘sérios efeitos musculares’ por conta de suas diversas greves de fome em protesto contra o governo. O jornalista disse não estar chateado por não ir à cerimônia, pois acredita que, se as autoridades cubanas o deixassem sair, não o deixariam voltar ao país. ‘Sou cubano e ficarei com os cubanos. Para mim, o único acordo possível seria uma permissão provisória de saída’, explicou. ‘Quero enviar para a cerimônia uma mensagem de reconciliação. Sem rancor ou ódio. Vamos amar nossos inimigos. Não há guerra civil em Cuba. Apenas uma rebelião pacífica e a promessa de uma mudança social. Sou uma parte muito pequena desta rebelião e recebo o prêmio em nome do povo cubano’, disse.


As palavras ‘saída definitiva’ estavam impressas nos passaportes de todos os 18 jornalistas – incluindo o ex-correspondente em Cuba da RSF, Ricardo González Alfonso – que foram soltos da prisão desde julho, na condição de fazer uma viagem sem volta para o exílio. A maior parte destes jornalistas – detidos em março de 2003, em uma onda repressiva que ficou conhecida como Primavera Negra – está agora na Espanha. Três outros jornalistas vítimas da Primavera Negra permanecem presos porque se recusam a deixar Cuba: Pedro Argüelles Morán, Héctor Maseda Gutiérrez e Iván Hernández Carrillo.