Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Jornalista fala sobre ataque no Cairo

A jornalista Lara Logan achou que ia morrer na Praça Tahrir, no Cairo, quando foi separada do resto de sua equipe na noite em que o governo do presidente Hosni Mubarak caiu, em fevereiro.


A sul-africana de 40 anos, correspondente da rede de TV americana CBS News, preparava uma reportagem sobre o clima de celebração na praça, palco das manifestações populares críticas ao regime, quando foi arrancada de perto de seu produtor e de seu segurança por um grupo de homens. Lara teve suas roupas rasgadas e foi espancada. Quase dois meses depois do incidente, a jornalista irá falar publicamente sobre o assunto no programa 60 Minutes, da CBS News, no próximo domingo.


Ao New York Times, em artigo publicado na quinta-feira (28/4), Lara falou brevemente sobre o brutal episódio. ‘Por um longo período de tempo, eles me estupraram com as mãos’, contou. Ela acredita que o ataque tenha durado cerca de 40 minutos e envolvido de 200 a 300 homens.


Quebrando o tabu


A experiência de Lara no Cairo chamou a atenção para o risco de agressão sexual corrido por jornalistas mulheres em zonas de conflito. Enquanto a violência e as agressões mais explícitas, como ferimentos por bombas e tiros ou espancamentos, são abordadas abertamente, a ameaça sexual contra profissionais mulheres dificilmente é discutida – mesmo entre os próprios jornalistas. O ataque a Lara, por exemplo, só chegou a público uma semana depois de ocorrido. Com este tipo de violência, diz ela, ‘você tem apenas a sua palavra’. ‘As feridas físicas se curam. Você não leva as evidências [do ataque] do mesmo jeito que levaria se tivesse perdido seu braço ou sua perna no Afeganistão’.


Não existe uma pesquisa extensa sobre a ocorrência de violência sexual envolvendo jornalistas em áreas de risco. Depois que o caso de Lara foi à público, no entanto, outras mulheres decidiram contar que também já haviam sofrido ameaças e agressões do tipo em coberturas no exterior, e organizações de proteção aos profissionais de imprensa, como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, declararam que revisariam suas diretrizes para tratar melhor do tema.


Jeff Fager, presidente da CBS News e produtor executivo do 60 Minutes, acredita que a reportagem sobre o ataque sofrido por Lara Logan irá ampliar a consciência sobre a questão. ‘Existe um código de silêncio sobre isso e eu acho que é interesse de Lara e nosso quebrar este código’. Até agora, o único comentário público da emissora havia sido feito uma semana depois do incidente. Lara ainda estava no hospital, e ela e Fager divulgaram uma breve declaração, em que diziam que a jornalista havia sofrido ‘um brutal ataque sexual’. Segundo Lara, a declaração ajudou com que ela não tivesse que ‘carregar o peso sozinha’, como seu ‘segredinho sujo’, algo que tivesse de que se envergonhar.


‘Ela ficou bastante traumatizada, como se pode imaginar, por um tempo’, diz Fager. Ainda assim, a correspondente havia decidido que em algum momento falaria publicamente sobre a violência sexual, ‘por outras jornalistas e pelas milhões de mulheres sem voz que são submetidas a ataques como este e piores do que este’. Chegou a hora de falar. Lara afirma, no entanto, que não pretende dar mais entrevistas depois que a reportagem no 60 Minutes for ao ar. ‘Não quero que isso defina quem eu sou’. Informações de Brian Stelter [The New York Times, 28/4/11].