Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista morto assombra presidente

O jornalista Georgiy Gongadze morreu em 2000, mas ainda assombra Leonid Kuchma, presidente ucraniano que deixa o cargo depois de 10 anos no poder. Gongadze era editor do sítio de notícias Ukrainska Pravda e freqüentemente denunciava casos de alta corrupção. Em 1999, ele viajou aos EUA dias antes de uma visita de Kuchma ao país e organizou uma coletiva de imprensa para denunciar a falta de liberdade no jornalismo na Ucrânia.

Gongadze foi decapitado e seu corpo queimado com ácido. O caso nunca foi resolvido. Em dezembro passado, com a vitória do líder da oposição, Viktor Yushchenko, no ‘terceiro turno’ de uma conturbada eleição presidencial – o resultado do segundo turno, em novembro, foi anulado por suspeita de fraude –, surgiu uma esperança de que a justiça seja cumprida. Yushchenko afirmou, durante a campanha, que tem obrigação moral com o jornalista morto. ‘Os culpados serão processados’, disse ele.

Gravação suspeita

Em junho, um comitê parlamentar acusou Kuchma de envolvimento no assassinato de Gongadze. Para piorar a situação para o lado do presidente, um ex-segurança revelou que possui fitas de áudio com gravações de Kuchma ordenando o crime. Mykola Melnychenko, que foi chefe da segurança do governo e hoje vive em asilo político nos EUA, divulgou cerca de 10% de um total de 800 horas de gravações secretas. Na fita liberada, uma voz masculina – que os ucranianos crêem ferozmente ser de Kuchma – diz para levar Gongadze para longe, despi-lo e jogá-lo fora. O ex-segurança diz que só entrega o resto das gravações quando o presidente deixar o poder, o que deve acontecer entre os dias 11 e 14 deste mês..

Em 2000, Kuchma já era suspeito de participação no crime. Segundo Jeremy Page [The Times, 30/12/04], o assassinato do jornalista é o mais notório de uma série de escândalos que pontuaram o governo ucraniano nos últimos 10 anos e que analistas políticos dizem ter levado à Revolução Laranja (cor usada pela oposição) dos últimos meses.

Imunidade ameaçada

Como presidente, Kuchma tem imunidade e não pode ser indiciado. Agora, ele tenta fazer com que seu sucessor garanta que nem ele, ou nenhum de seus parentes, seja levado à justiça depois de deixar o posto. Ao que tudo indica, ele não deverá ter tanta sorte. Durante sua campanha, Yushchenko prometeu se dedicar a quatro casos específicos – a redução de preço na privatização da principal usina de aço do país, as fraudes nos resultados das eleições presidenciais em novembro, o envenenamento que deformou seu rosto e a morte de Gongadze.

Pelo menos 11 jornalistas morreram em circunstâncias suspeitas na última década na Ucrânia.