Mais de 2.000 jornalistas chineses assinaram uma petição pela libertação de dois colegas de profissão presos há um ano depois que reportagens do jornal onde trabalhavam enfureceram as autoridades locais. Yu Huafeng e Li Minying, ex-diretores do diário Nanfang Dushi Bao, foram acusados de fraude e condenados a seis e oito anos de prisão, respectivamente. As acusações contra os dois surgiram depois que o jornal investigou, em 2003, o espancamento sofrido por Sun Zhigang, morto sob custódia policial. A divulgação do caso humilhou a polícia local e forçou uma mudança na política nacional de detenções.
‘Este foi nosso escândalo Watergate. Transformou comportamentos’, afirma Wang Xiaoshan, ex-funcionário do grupo de mídia Nanfang. ‘Até então, jornalistas tinham como prioridade sua própria sobrevivência. Depois do caso, todos passaram a querer noticiar fatos importantes. Mais e mais jovens repórteres querem ser heróis’, completa.
Censura
Quando se trata de um país como a China – que, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, é a maior prisão para jornalistas do mundo –, esta é uma missão nada fácil. Censores previnem que assuntos importantes acabem nas páginas dos jornais. Nas últimas semanas, nada foi publicado sobre negligência policial na enchente que matou 100 crianças de uma escola, ou sobre os seis camponeses assassinados em conflitos com gangues contratadas por grandes companhias para expulsá-los de suas casas.
Há, de fato, listas distribuídas aos editores dos jornais pelo departamento de propaganda do Partido Comunista com assuntos proibidos nas publicações, afirma Jonathan Watts [The Guardian, 1/7/05]. Em semanas calmas, as listas contêm poucos temas: normalmente, Taiwan, Tibete e liberdade religiosa. Em tempos mais conturbados, elas englobam itens como qualquer tipo de conflito, greves e manifestações populares.
Esperança
Em meio à repressão, o sonho dos jovens repórteres tem sido alimentado justamente pelo grupo Nanfang, cujos jornais têm conquistado respeito nacional e condenação oficial por sua cobertura dos problemas sociais na China. A censura conseguiu impedir que o grupo publicasse o que poderia ter sido o furo do ano: o governador da província de Henan mandou matar e esquartejar sua mulher, com a ajuda de um prefeito. Mas foi ele que noticiou a epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave) e os problemas com a construção da represa Three Gorges, nos últimos anos.
Os riscos para este tipo de jornalismo são grandes – a prisão de Huafeng e Minying é um exemplo disso –, mas o espírito da imprensa livre e questionadora tem contagiado seus profissionais. O governo, irritado, aperta a censura. O medo dos jornalistas, ao que parece, diminuiu. A resposta é a petição assinada por mais de 2.000 deles. Com informações de Christopher Bodeen [AP, 29/6/05].