Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornalistas presos por escândalo de grampos no Reino Unido

O Globo, 15/4

Fernando Duarte

Escândalo de grampos leva jornalistas a cadeia

No que está despontando como um dos maiores escândalos envolvendo a mídia britânica, a Scotland Yard prendeu ontem o jornalista James Weatherup, um dos repórteres mais graduados do tabloide ‘News of The World’ — a versão dominical do ‘Sun’.

O jornal tem a maior circulação no Reino Unido e é um dos títulos pertencentes à News International, o império de comunicações do milionário australiano Rupert Murdoch.

Weatherup é o terceiro jornalista a ser preso como parte de uma investigação sobre uma cultura desenfreada de escutas ilegais de telefones celulares de celebridades, numa lista que inclui o príncipe William e que pode chegar a 8 mil pessoas.

Há pelo menos cinco anos a polícia apura denúncias de grampos, que respingaram até mesmo no governo do premier David Cameron. De acordo com as investigações, as escutas ilegais por meio da invasão de caixa postal de telefones celulares ocorreram entre 2003 e 2007, período em que o editor-chefe do ‘NOTW’ era o jornalista Andy Coulson, que até o início deste ano era diretor de comunicações de Cameron. Coulson, por sinal, renunciou depois de ter sido intimado a prestar depoimento no final do ano passado, embora tenha sempre negado saber de qualquer operação.

Siena Miller faz acordo extrajudicial com jornal Tal postura também vinha sendo adotada até o final da semana passada pela News International.

Mas o surgimento de novos processos de celebridades contra o ‘NOTW’ levou a empresa a fazer um pedido público de desculpas e anunciar a criação de um fundo para indenizações, cujo valor pode ultrapassar US$ 150 milhões — ao menos uma das vítimas, a atriz Siena Miller, já fez um acordo extrajudicial com o jornal.

No entanto, uma reportagem publicada no final do ano passado pelo ‘New York Times’ alegou que o comando do ‘NOTW’, inclusive Coulson, não só sabia dos grampos, como incentivava seu uso para conseguir histórias exclusivas.

Na semana passada, Ian Edmonson e Neville Thurlbeck foram presos pela Scotland Yard. Suas casas e seus escritórios no jornal foram vasculhados por agentes, e a polícia poderá fazer outras varreduras iminentes no prédio do jornal.

Em 2007, Clive Goodman, editor de assuntos ligados à família real, pegou quatro meses de prisão por participação em escutas.

Com o auxílio de um detetive particular, ele fez mais de 478 invasões do serviço de mensagem de voz de assessores de William e de seu pai, o príncipe Charles. O detetive em questão, Glenn Mulcaire, foi preso por seis meses. Ironicamente, o furor com que a dupla monitorou as atividades de William acabou revelando o grampo: o príncipe viu detalhes de uma consulta médica que marcara pelo telefone serem publicados no tabloide.

Depois começou a perceber que suas mensagens já apareciam como ouvidas.