Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalistas são vítimas na guerra do tráfico

O jornalista mexicano Armando Rodríguez, do El Diario, acabou virando notícia: foi assassinado no dia 13/11, em Ciudad Juarez. Rodríguez ligava seu carro quando recebeu 10 tiros; sua filha de oito anos assistiu ao crime. Uma semana antes da morte do jornalista, a cabeça de um traficante local foi colocada na Praça dos Jornalistas, na estátua de um entregador de jornais. ‘A mensagem era clara: jornalistas, tenham cuidado. Sabíamos que era algo ruim, mas não imaginávamos que fosse tanto’, diz Arturo Chacón, do jornal El Norte.

O assassinato de Rodríguez reflete os riscos corridos por jornalistas mexicanos que cobrem o narcotráfico. Desde que o presidente Felipe Calderón deu início a uma guerra do Exército e da polícia contra os cartéis e policiais corruptos, em 2007, mais de 4.500 pessoas foram mortas. A maior parte dos repórteres continua a trabalhar, mas reconhece que há limites ao se cobrir o tema.

O ataque à mídia – que vai desde ameaças por telefone a granadas atiradas em redações – vem prejudicando as instituições sociais, governamentais e a liberdade de expressão no país. Cartéis poderosos disputam o controle de rotas em direção aos EUA, que consomem toda a produção de cocaína, maconha e anfetamina.

Violência contra jornalistas

Nos últimos oito anos, 28 jornalistas foram mortos e oito desapareceram, segundo o grupo Article 19, de Ricardo González, que existe para proteger a liberdade de expressão no país – hoje, o mais perigoso da América Latina para profissionais de imprensa. ‘Jornalistas estão agora entre as fatalidades da guerra’, afirma Gonzáles. Este ano, foram cinco repórteres mortos. ‘A fronteira [com os EUA] é um lugar terrível para se trabalhar como jornalista’, ressalta Joel Simon, diretor-executivo do Comitê para a Proteção de Jornalistas.

Além do ataque aos traficantes pelo governo Calderón, a violência foi intensificada também pela disputa de poder entre dois cartéis líderes, um em Ciudad Juarez e outro em Culiacan. Os EUA já ofereceram US$ 400 milhões para ajudar o presidente mexicano na luta contra as gangues de narcotraficantes. Repórteres dizem ser freqüentemente ameaçados por telefone, e-mail ou fóruns na internet. Este ano, foram registrados 1,3 mil homicídios em Ciudad Juarez, incluindo a morte de mais de 60 policiais.

Há 15 dias, duas granadas explodiram na frente da redação do El Debate, em Culiacan. Ninguém ficou ferido. ‘Não sei se foi um ato de vingança ou de baderneiros. Mas achamos que foi uma mensagem, para toda a mídia e para o governo’, diz Lucia Mimiaga, diretora-editorial do jornal. Diversos veículos de mídia foram atacados nos últimos dois anos e editores em muitos jornais e emissoras de TV simplesmente desistiram de investigar os cartéis ou suspeitas de corrupção.

Jorge Luis Aguirre, proprietário do sítio de notícias La Polaka, em Ciudad Juarez, conta que repórteres foram ameaçados por telefone enquanto iam para o funeral de Rodríguez. Com medo, Aguirre foi para os EUA – assim como muitos outros já fizeram. Na cidade, onde jornalistas ganham até US$ 200 por semana, jornais não publicam matérias assinadas, como medida de segurança. Fotógrafos vestem coletes à prova de balas e repórteres são orientados a não chegar às cenas dos crimes antes da polícia. ‘Não temos repórteres policiais no momento’, afirma Alfredo Quijano, editor do El Norte. Por conta das ameaças, dois repórteres da editoria de polícia foram transferidos para outras seções. ‘Damos as notícias básicas, em geral o que o governo diz. Não publicamos tudo o que sabemos. Isto não é bom, mas estamos tentando sobreviver’, justifica.

Algumas das últimas matérias escritas por Rodríguez incluem artigos que ligavam parentes de promotores da região de Chihuahua, onde fica Juarez, ao tráfico. ‘Sou a primeira a reconhecer que esta situação é intolerável’, afirma Patricia González, promotora de Chihuahua, em declaração, prometendo encontrar o assassino de Rodríguez. Nenhum suspeito da morte do jornalista foi preso. A viúva, Blanca Martínez, prepara-se para se mudar para os EUA com os filhos. Informações de William Booth [Washington Post, 25/11/08].