Jornalistas estão sendo ameaçados de prisão e sofrendo abusos por parte de agências de segurança da Autoridade Palestina, o que vem provocando autocensura e impedindo a livre troca de informações e ideias. Segundo relatório do grupo defensor de direitos humanos Human Rights Watch, vários repórteres foram detidos e ameaçados de maneira imprópria na Cisjordânia.
O grupo pediu aos EUA e à Europa para condicionar o apoio às agências de segurança palestinas ao comprometimento de investigar e punir os responsáveis por tortura e outros abusos. O relatório foca na Cisjordânia, que recebeu dos EUA quase US$ 400 milhões para ser investido em suas forças de segurança nos últimos anos. Mas o documento também acusa o grupo Hamas, que administra Gaza, de assédio e interrupção da liberdade de expressão, ao proibir o trabalho da mídia crítica e prender jornalistas.
Em ambos os lugares, a questão central é a batalha entre o Hamas e o Fatah, que domina a Autoridade Palestina. A Autoridade Palestina proibiu organizações de mídia associadas ao Hamas; por sua vez, o Hamas proibiu, em Gaza, os associados ao Fatah.
Nos sete casos examinados na Cisjordânia, a organização disse que o “abuso e assédio se refletem em tentativas de evitar a liberdade de expressão e investigação sobre temas de importância pública, e a punir jornalistas somente por conta de suas declarações críticas à Autoridade Palestina ou seu apoio a rivais políticos”.
Liberdade de expressão comprometida
O primeiro-ministro Salam Fayyad, da Autoridade Palestina, disse não ter lido o relatório, mas afirmou que a “proteção de liberdades, especialmente a de expressão, é algo que vemos como prioridade”. Abdel Nasser al-Najjar, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Palestina, afirmou acreditar que as violações dos direitos dos jornalistas foram baseadas nas decisões do aparato de segurança em um momento em que o presidente e o primeiro-ministro davam instruções claras para não violar os direitos da mídia palestina.
Uma grande maioria de casos de abusos examinados pelo Human Rights Watch envolvia serviços de inteligência, mas pelo menos um teria o envolvimento de membros da Força Nacional de Segurança, que é treinada – inclusive em direitos humanos – e equipada pelos EUA. Em um dos casos, o cinegrafista e escritor freelancer Muhanad Salahat ficou 14 dias preso sem lhe informarem o motivo. Salahat era interrogado duas vezes ao dia sobre documentários feitos para a emissora al-Jazira, artigos de opinião publicados online e o fato de ele fazer parte de um grupo no Facebook. Ele fez greve de fome, o que levou à sua libertação.
Em Gaza, funcionários de agências de segurança ameaçaram alguns repórteres cujo trabalho é considerado crítico à política do Hamas, visitaram suas casas e confiscaram ou quebraram seus equipamentos. Recentemente, houve um grande aumento na repressão a jornalistas, especialmente no mês passado, quando grupos de jovens independentes tentaram fazer manifestações pela unidade palestina.
O Palestinian Media Forum, comitê de jornalistas com base em Gaza, afirmou que a manifestação no dia 15/3 e seus protestos subsequentes transformaram-se em um verdadeiro campo de batalha contra jornalistas, que foram agredidos, atacados e tiveram parte de seus equipamentos tomada por forças do Hamas. Informações de Ethan Bronner [The New York Times, 6/4/11].