Horas antes da saída do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak, manifestantes na Praça Tahrir foram descritos pela mídia do país como ‘vândalos’ e ‘desordeiros’. Já algumas horas depois da queda do presidente, eles passaram a ser descritos como ‘heróis’, e o que era um ‘caos instigado por poderes estrangeiros’ rapidamente transformou-se em ‘revolução gloriosa’.
Para os jovens egípcios, no entanto, as mudanças no tom da mídia tradicional não importam. Eles se acostumaram a buscar fontes alternativas de informação, e estão cada vez mais fluentes em mídias consideradas mais neutras, seja em redes sociais como o Facebook e o Twitter, ou em novos jornais independentes.
Não há números confiáveis da imprensa estatal no Egito. Mas sabe-se que a venda de jornais estatais vem caindo drasticamente – em parte, por conta do crescimento da mídia independente, mas também pelo modo como os diários cobriam superficialmente o regime impopular de Mubarak. Um dos exemplos mais gritantes aconteceu em setembro do ano passado, quando o al-Ahram modificou uma foto tirada durante as conversas de paz entre Israel e Palestina, em Washington, para sugerir que Mubarak liderava as negociações.
Segundo Rafik Bassel, analista de mídia e executivo-chefe da agência de publicidade Smartcomm, o al-Ahram alega ter tiragem de 800 mil cópias nos dias de semana e um milhão às sextas-feiras. Bassel questiona estes números e acredita que, na realidade, a tiragem não passa de 140 mil nos dias de semana – destes, pelo menos 40 mil seriam assinaturas pagas pelo governo e distribuídas para órgãos oficiais em todo o país. ‘Publicidade nos jornais estatais era algo mandatório no antigo regime. Empresas grandes, bancos e serviços tinham que publicar anúncios – isto sem mencionar obituários, parabenizações etc’, observou.
Queda na influência
Mostafa Sakr, presidente e editor do independente al-Borsa, acrescenta que não foi apenas a tiragem que caiu, mas a influência dos jornais também diminuiu. Segundo ele, as pessoas querem fontes nas quais pode confiar – motivo que levou as vendas do jornal independente al-Shorouk a dobrar durante a revolução, alcançando uma tiragem de 150 mil exemplares por dia. Mesmo na internet, a mídia independente mostrou-se mais bem sucedida. O site al-Youm al-Sabea foi nomeado o melhor jornal online do Oriente Médio pela Forbes.
A situação destes jornais é incerta. Entretanto, o conselho supremo das forças armadas, que lidera o Egito até que um novo presidente seja eleito em agosto, ordenou a dissolução do Ministério da Informação – algo que a oposição já pedia há algum tempo, pois era visto como um meio de o governo controlar a mídia e limitar a liberdade de expressão. Muitos jornalistas também pediram pelo desmantelamento do conselho superior de jornalismo, órgão controlado pelo parlamento que é proprietário de sete jornais financiados pelo governo. Informações de Osama Diab [The Guardian, 10/3/11].